CHINA, INFLAÇÃO, E CONSUMO DE CAFÉ Por Rodrigo Costa

A China, um dos motores por trás da puxada das commodities, revisou a expectativa de crescimento do PIB para 7.5% neste ano (ante 8%) – o menor nível desde 2004. Outro emergido, o Brasil, divulgou que o PIB em 2011 aumentou 2.7%, o mais fraco desde 2003.


Se os países emergentes/emergidos têm ajudado a amortecer as recentes recessões dos países ricos, tais notícias servem de cautela para os mais otimistas com a economia global.


O acordo da Grécia com a maior parte dos seus credores, que “apenas” reduzirá o valor dos títulos para 31.5% do montante original, foi recebido com ceticismo pelos mercados – até porquê em nada adiantou para os bancos que venderam seguro da dívida (instrumento chamado de “CDS”) e que terão de desembolsar mais de US$ 3 bilhões, dado que o órgão que regula o mercado de swaps (ISDA) declarou que o evento de crédito (default) está caracterizado.


Os principais índices de ações do planeta caíram pouco na semana. Já os de commodities escorregaram entre 1% e  2.5%, sendo que o café liderou as perdas com 7.75% de baixa, seguido pelo gás natural -6.73% e o açúcar -5.21%.


Dentro do quadro macroeconômico, a esperança para os altistas é a pressão inflacionária em diversos países, que pode eventualmente se descontrolar quando a crise passar.


O café arábica negociado em Nova Iorque perdeu US$ 20.64 por saca em cinco dias, e caiu o mesmo tanto na BM&F. Já o robusta em Londres subiu US$ 1.80 a saca. A arbitragem entre LIFFE e ICE está agora em 93 centavos de dólar por libra, comparando com os 154 centavos que vimos em meados de janeiro. O movimento ratifica o que tenho escrito neste espaço no que se refere à mudança do perfil do consumo/demanda.


As razões da queda da bolsa têm relação com uma diminuição da carteira de investidores em commodities, pelos motivos do primeiro parágrafo, assim como pelo enfraquecimento do Euro, e também pela acomodação / mudança do uso de cafés “não-tão-caros”.


O preço historicamente alto do “C” – que nunca havia se mantido por muito tempo acima de US$ 200.00 centavos por libra – fez com que muitos ainda acreditassem que os US$ 300.00 voltariam a estampar as telas, razão que provocou o fortalecimento dos diferenciais com as altas da bolsa (algo incomum). Agora, com a forte queda do terminal das últimas semanas, vimos os diferenciais enfraquecerem, o contrário do imaginado e do que sempre aconteceu, e o que faz os baixistas ficarem ainda mais baixistas, dizendo estarmos longe de uma recuperação dos preços.


Se o custo da mercadoria serve como divisor de águas para uma análise de longo prazo, assim como o volume de estoques e as perspectivas de mudanças do mesmo, então tudo indica que podemos ver Nova Iorque achando um equilíbrio ao  redor de US$ 180.00 centavos, com variações talvez de 20 a 30 centavos para um ou outro lado.


O efeito negativo que se adicionou a queda da bolsa foi um maior nível de oferta de produtores, que assustados em não conseguirem mais vender seu café acima de R$ 500.00 a saca, resolveram “aproveitar” os R$400.00, nível que vimos o físico negociar no Brasil nesta semana.


De positivo, fundamentalmente falando, a OIC soltou nota prevendo um consumo de café de 172.8 milhões de sacas em 10 anos. Imagino que quando a economia mundial parar de sangrar, de fato o crescimento do consumo (que em nenhum momento ficou negativo) deve acelerar, e a resposta da produção só será mantida se o valor da saca de café não cair muito mais de onde está hoje.


O problema é que ainda temos que negociar a próxima safra do Brasil, o que pode significar que uma nova tendência de alta só deverá se materializar no último trimestre deste ano.


Tenham uma excelente semana e muito bons negócios,


*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting

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