28/2/2007
por Leandro Modé
Risco de desaceleração da economia chinesa foi o que mais desencadeou a turbulência, mas os EUA ajudaram
A Bolsa de Valores de Xangai despencou ontem quase 9%, a maior queda em uma década, e arrastou o mercado acionário do mundo todo. O impacto foi especialmente forte na Bolsa de São Paulo (Bovespa). O Ibovespa caiu 6,63%, a maior desvalorização desde 13 de setembro de 2001, em meio à crise provocada pelos atentados terroristas ao World Trade Center.
Em Nova York, o Índice Dow Jones teve baixa de 3,24%, a maior também desde os atentados de 2001. A Nasdaq recuou 3,86%. As bolsas encerraram no vermelho na Europa, na Ásia e no restante da América Latina (ver gráfico ao lado).
Segundo analistas, as perdas generalizadas deveram-se a uma série de fatores, três em especial. O primeiro, explica Maurício Molan, economista-sênior do Santander Banespa, está relacionado a medidas anunciadas pelo governo chinês no que se refere à regulamentação do mercado acionário. “Suscitaram temores quanto à existência de práticas irregulares e incertezas quanto à sua abrangência”, afirmou.
Segundo Molan, o Conselho de Estado da China baixou um decreto há alguns dias estabelecendo uma “força-tarefa” para prevenir atividades ilegais nos mercados acionários e aconselhar sobre políticas de regulamentação (ler mais na coluna Direto da Fonte).
O segundo fator que detonou nervosismo foi o receio de que haja uma bolha no mercado acionário chinês – o Índice Xangai Composto atingiu, na segunda-feira, nível recorde de pontuação e, no ano passado, acumulou alta de cerca de 130%. “Os preços das ações podem estar supervalorizados”, disse Masayoshi Okamoto, chefe de operações da Jujiya Securities.
A terceira razão está ligada aos temores de a economia chinesa desacelere o ritmo de crescimento – nos últimos seis anos, o Produto Interno Bruto (PIB) do país expandiu-se a uma taxa anual média próxima de 10% e foi o principal motor da economia mundial.
Investidores estão receosos quanto aos efeitos da Assembléia Popular Nacional, que ocorre na próxima semana, na economia chinesa. Na avaliação de Chen Xiaoyang, do Shanghai Securities News, o mercado retornou tenso do feriado de Ano Novo por conta da perspectiva de que a assembléia ceda às pressões de parte do governo e do Partido Comunista em prol da diminuição do ritmo e da concessão de mais transparência ao processo de privatização.
Outro fator que contribuiu para as quedas de ontem foi o alerta do ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o BC americano) Alan Greenspan sobre a economia de seu país. Segunda-feira, Greenspan disse que os EUA podem entrar em recessão no fim deste ano.
E AGORA?
As perdas de ontem não ficaram restritas ao mercado de ações. Títulos e moedas de países emergentes também se desvalorizaram fortemente. O índice EMBI Plus, do banco JP Morgan, que mede o risco dos países emergentes, subiu 10,5%, para 190 pontos. O risco Brasil disparou 10,5% e fechou em 201 pontos, o maior nível desde dezembro do ano passado. O dólar avançou 1,73% e fechou na máxima do dia, cotado por R$ 2,12.
Segundo analistas, a volatilidade deve persistir nos próximos dias. “Provavelmente, o movimento de ajuste continuará por mais algum tempo, algo similar ao que aconteceu em maio passado, mas de magnitude menor”, disse Ricardo Amorim, diretor de Pesquisa Econômica e Estratégia para América Latina do Banco WestLB.
Molan, do Banco Santander Banespa, concorda. “Não se deve esperar por normalização rápida dos mercados e volta aos níveis anteriores. A conjuntura de maior volatilidade deve persistir por algum tempo.”
Amorim observa que nada mudou em termos estruturais nas economias dos Estados Unidos e da China. “O cenário mundial benigno de crescimento sustentado e baixas taxas de juros não mudou e o ajuste dos mercados não deve mudar a tendência de alta observada nos últimos anos”, ponderou.
Para Molan e Amorim, o movimento iniciado ontem consiste na correção de preços de ativos financeiros em todo o planeta, após a onda de intensas valorizações dos últimos meses.
FRASES
Maurício Molan
Economista-sênior do Santander Banespa
“Não se deve esperar por normalização rápida
dos mercados e volta aos níveis anteriores.
A conjuntura de maior volatilidade deve
persistir por algum tempo”
Masayoshi Okamoto
Chefe de Operações da Jujiya Securities
“Os preços das ações podem estar supervalorizados”