LA PAZ (AE) — O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, conclamou ontem os bolivianos a votarem no Movimento ao Socialismo (MAS), partido do presidente boliviano, Evo Morales, na convocação da Assembléia Constituinte da Bolívia, em julho. “Se a direita consegue a maioria, as mudanças já feitas na Bolívia, como a nacionalização dos hidrocarbonetos, vão retroceder”, afirmou Chávez, em evento marcado para anunciar a assinatura de convênios entre os dois países e Cuba, mas que acabou se tornando o lançamento da campanha do MAS à Constituinte.
Chávez foi alvo recente de acusações de ingerência indevida nas eleições do Peru. O governo peruano ameaçou, inclusive, entrar com uma representação na OEA contra o presidente venezuelano, que declarou que seu país romperia relações comerciais com o Peru em caso de vitória do candidato Alan García. Hoje, agindo mais uma vez como cabo eleitoral, Chávez disse em seu discurso que o povo boliviano só se desenvolverá se o MAS conseguir eleger a maioria dos constituintes. “Temos que fazer uns 80%, 90% da constituinte”, concordou Morales, que discursou após Chávez.
Antes do evento, realizado na região do Chapare, berço político de Morales, o partido apresentou alguns candidatos à constituinte, incluindo um cantor popular que compõe músicas patriotas. As palavras de ordem contra os Estados Unidos e o neoliberalismo foram a tônica. O presidente Hugo Chávez chegou a alertar os bolivianos sobre a possibilidade de um golpe contra Morales patrocinado pelos americanos.
“Quando os Estados Unidos falam que estão preocupados com a democracia de um país, é sinal verde para tentativas de golpe”, afirmou, lembrando declarações feitas pelo presidente americano, George W. Bush, no início da semana.
Chávez, Morales e o vice-presidente cubano, Carlos Lage, anunciaram cinco convênios na área de agricultura, com investimentos de US$ 100 milhões. Em um deles, o governo da Venezuela vai investir na industrialização da folha de coca boliviana, segmento econômico que levou o presidente boliviano, Eco Morales, ao poder. O projeto faz parte de uma série de convênios assinados entre Bolívia, Venezuela e Cuba hoje à tarde na região do Chapare, tradicional produtora de coca do país.
“Os imperialistas tentaram erradicar a coca da Bolívia. Vejam só tentar pôr fim a uma tradição tão enraizada na cultura de um país…”, comentou Chávez. O convênio prevê ainda o estudo de novas utilizações da folha de coca, que tem efeitos medicinais. O governo Morales já anunciou a regularização de mais uma região produtora de coca no país, em Caranavi, perto de La Paz. Agora são três as regiões produtoras.
Entre os convênios assinados durante a tarde, estão propostas para a industrialização de diversos produtos agropecuários bolivianos, em um total de US$ 100 milhões, que serão investidos pela Venezuela com recursos da venda de óleo diesel à Bolívia. Há fábricas de laticínios, transformação de soja em produtos acabados e projetos de melhoria da qualidade do café orgânico boliviano, além dos relacionados à folha de coca.
Chávez adiantou que a PDVSA vai investir na industrialização do gás boliviano, com estudos para uma petroquímica, entre outros investimentos que só seriam detalhados à noite no Palácio Queimado, sede do governo boliviano. “É a primeira vez na história da Bolívia que uma empresa fala em industrializar o gás natural”, afirmou Morales, em referência às multinacionais que operam no país, incluindo a Petrobras, que só vendem a matéria prima.
Fonte: Diário do Rio Doce/Nacional e Internacional