Certificadoras esperam a retomada do crescimento

Utzkapeh, protocolo desenvolvido na Alemanha para certificação de cafezais (traduzido da linguagem maia, esclarece Wagner Neto, o termo significa “café bom”).

26 de outubro de 2005 | Sem comentários Produção Sustentabilidade
Por: Lauro Veiga Filho, para o Valor De Goiânia

Depois da explosão
observada em 2004, quando o mercado de certificação animal quase triplicou em
relação ao ano anterior, o setor enfrenta neste ano uma desaceleração radical,
resultado das incertezas que rondam o processo de regulação do sistema
brasileiro de rastreabilidade. A movimentação financeira deverá representar
pouco mais de um terço dos valores alcançados no ano passado, segundo
estimativas do mercado.

A ducha de água fria não parece desanimar as
empresas do setor. Todas as fichas estão hoje colocadas na possibilidade de
consolidação de um novo modelo para o Sistema Brasileiro de Identificação e
Certificação de Origem Bovina e Bubalina (Sisbov). “Se as novas regras vierem
para valer, o mercado deve mais do que dobrar, prevendo-se a entrada de mais 40
milhões de animais no sistema em 2006”, diz o presidente da Associação das
Empresas de Rastreabilidade e Certificação Agropecuária (Acerta), Luciano Médici
Antunes.

Sua previsão toma como base o avanço recente das negociações
entre os vários segmentos da pecuária de corte, que tendem a produzir um desenho
para o Sisbov, aceitável por criadores e frigoríficos e referendado pelos
principais clientes do país lá fora. Se as projeções de Antunes demonstrarem-se
corretas, o volume de negócios nesta área pode quase triplicar, acompanhando o
salto esperado para a Base Nacional de Dados (BND) do Sisbov em
2006.

Entre 2003 e 2004, o número de animais inscritos havia aumentado
177,5%, saltando de 9,649 milhões para 26,781 milhões, conforme o secretário de
Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo, Márcio Antonio Portocarrero.
Entre janeiro e o dia 19 de outubro, dado mais recente, outros 11,550 milhões de
animais foram incluídos na base de dados, numa queda de cerca de 50% em relação
ao total registrado em igual período do ano passado, quando analisada a média
diária de inscrições.

O mercado travou diante das resistências ao modelo
inicialmente definido para o Sisbov. Aos trancos e barrancos, o sistema
conseguiu registrar em sua base de dados, desde seu lançamento, perto de 47,980
milhões de animais, equivalentes a um quarto do rebanho brasileiro. Continuariam
nessa base, de acordo com Portocarrero, cerca de 30 milhões de
animais.

Antunes diz que o número final de inclusões em 2005 deverá girar
ao redor de 14 milhões a 15 milhões de bovinos e bubalinos, consolidando uma
retração entre 44% e 48% frente a 2004. A movimentação financeira deve sofrer um
tombo maior, já que os custos para rastreamento por animal vêm baixando desde o
início do programa, em 2002. Até 2004, incluindo brincos, bottons e todo o
serviço de certificação, cada rês rastreada saía a R$ 4 para o pecuarista. Com
base nesse valor médio, estima-se que o mercado teria movimentado, naquele ano,
alguma coisa próxima a R$ 107 milhões, com média de R$ 8,9 milhões ao
mês.

Neste ano, prossegue Antunes, o custo por animal foi reduzido para
cerca de R$ 2,70 – um reflexo, presumivelmente, de um verdadeiro “boom” de
empresas certificadoras, misturando-se gente séria e pára-quedistas interessados
em fazer dinheiro rápido. No começo do processo, em 2002, meia dúzia de empresas
responderam pelo rastreamento e identificação de menos de 2 milhões de animais,
número que saltou para 9,649 milhões no ano seguinte.

Em junho de 2004,
registrava-se a existência de duas dezenas de certificadoras. O número foi mais
do que triplicado de lá para cá e hoje 66 empresas deverão dividir um bolo mais
magro. Com base nos números fornecidos pelo presidente da Acerta, projeta-se uma
movimentação de R$ 38 milhões a R$ 40 milhões para este ano – queda superior a
60% frente a 2004. A despeito do crescimento no número de certificadoras, as 10
maiores empresas concentram 80% do mercado e, entre as principais, 26 são
associadas da Acerta.

Um outro dado, aponta o presidente da Acerta,
tenderá a reforçar as previsões de um reaquecimento do mercado depois de
definida a remodelagem do Sisbov, a despeito dos problemas gerados pela
descoberta de focos de febre aftosa em Mato Grosso do Sul. Estima-se que para
cumprir os contratos de exportação em vigor, os frigoríficos demandem por mês o
equivalente a 2,2 milhões de cabeças para abate. Como, na média, apenas 1 milhão
de animais têm sido incluídos mensalmente no Sisbov, Antunes afirma que já há um
déficit de animais rastreados no mercado.

Também diretor da Planejar
Brasil, criada em 1987 como desenvolvedora de soluções de gestão e softwares
para educação, Antunes estima que sua empresa responda, hoje, por 22% a 25% dos
animais inscritos no Sisbov. A Planejar atua no segmento de certificação desde
2000 e lançou, em junho do ano seguinte, antecipando-se ao Sisbov, o Sistema
Integrado de Rastreabilidade Bovina (Sirb) – um programa desenvolvido em
arquitetura Application Service Provider (ASP), com certificação eletrônica via
internet.

A carteira de clientes da Planejar inclui 20,5 mil
propriedades, num total aproximado de 15 milhões de animais. No ano passado, a
empresa certificou entre 6 milhões e 7 milhões de bovinos, número que deve cair
para 4 milhões a 5 milhões em 2005. “Mas 2006 tende a ser melhor”, espera
Antunes.

A expectativa é compartilhada, entre outros, pelo presidente da
Agricontrol OIA Brasil, José Amaral Wagner Neto. “Neste ano, houve uma freada
para rediscutir o sistema de rastreabilidade. Mas o cenário que se desenha hoje
é bastante positivo, face ao consenso alcançado em toda a cadeia da carne de que
é necessário fazer o programa”, aponta Wagner Neto.

Há quatro anos no
mercado, controlada por capitais brasileiros, a Agricontrol atua como
certificadora de produtos orgânicos, é credenciada pelo Sisbov e pelos sistemas
EurepGap, de certificação de boas práticas agrícolas e pecuárias, em associação
com a OIA Argentina, e Utzkapeh, protocolo desenvolvido na Alemanha para
certificação de cafezais
(traduzido da linguagem maia, esclarece Wagner Neto, o termo significa “café
bom”). Além dos serviços de auditoria e certificação, a empresa opera na área de
capacitação de produtores em normas do setor.

A Agricontrol ostenta uma
carteira com mais de dois mil clientes ativos, 70% dos quais inscritos na base
de dados do Sisbov. “A rastreabilidade não é uma exigência apenas para a
pecuária. É inevitável que a produção de grãos e frutas também caminhe na mesma
direção”, diz Wagner Neto. O carro-chefe de seu negócio continua sendo a
pecuária, por meio do Sisbov, mas “os demais mercados também registram
crescimento, embora sobre uma base pequena”,
afirma.

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