As pessoas com mais de 30 anos provavelmente se lembram de como era raro encontrar um produto importado até o final da década de 80. Somente quem viajava ao exterior podia experimentar sabores ou conhecer produtos típicos de outros países. Produto de “fora”, na linguagem popular, era considerado coisa de “burguês”.
Felizmente, as coisas hoje são diferentes. As prateleiras dos supermercados estão cheias de produtos industrializados, bebidas, frutas, roupas e brinquedos produzidos em diversas partes do mundo. É possível escolher entre comprar o molho de tomate nacional ou optar pelo italiano. Isso sem contar os cobiçados carrões importados. Para o nosso bem, a contrapartida é que também aumentaram as exportações de produtos típicos brasileiros. Europeus e norte-americanos apreciam, não somente nosso lado exótico, mas produtos made in Brazil de qualidade.
O que muita gente não sabe é que o vai-e-vem dos produtos só é possível devido à certificação. Apesar da intensidade do comércio exterior atual, quando se pensa em certificação, a primeira imagem que vem à cabeça são os selos do tipo ISO, exageradamente difundidos a partir da década de 80. Certificação, porém, é um processo bem mais abrangente.
É preciso recorrer à história para entendermos o tema. Em 1878, um comprador de grãos visitava o porto de Rouen, na França, quando a chova molhou os produtos que aguardavam o embarque, o que evidentemente causava prejuízos aos compradores. Um comerciante de origem russa ouviu o desabafo de um colega e teve a visão inovadora de criar um negócio especializado em inspeção de produtos antes de seu embarque. Naquele ano, nascia a SGS, que desenvolveu o primeiro sistema de emissão de atestados de que se tem notícia. A prática agradou em cheio os compradores.
Voltada inicialmente para produtos agrícolas, a emissão de certificados se popularizou após a Segunda Guerra Mundial, com o avanço da industrialização. Com o crescente aumento de normas e a superação de barreiras tecnológicas inimagináveis no passado, certificar passou a ser muito mais que emitir um laudo. Hoje, o certificado traz como elemento inerente à sua emissão a necessidade da confiança, da verdade e da ética no mundo dos negócios.
Como as empresas certificadoras atuam nos bastidores, o consumidor, na maioria das vezes, desconhece suas marcas ou seus nomes. Porém, podemos afirmar com segurança que, sem elas, a maior parte dos produtos e bens importados não chegaria às mãos dos brasileiros. Mais do que isso: os produtos dos países emergentes seriam barrados pelos ricos.
Indispensável para desenvolvimento do comércio internacional, a certificação também é usada por associações que tem a missão de promover seus produtos. O resultado sempre é positivo.
Na França, depois de ter sido implementado o sistema oficial de certificação para o frango, o produto com “label rouge” (selo vermelho) aumentou sua participação no mercado de 2% em 1970 para 25% em 1993. Outros exemplos são os sistemas de denominação de origem em que uma região designa um produto de origem controlada, caso comum dos vinhos.
São ações que ilustram como normas internacionais, atestados de conformidade, avaliações obrigatórias e selos de qualidade estão se popularizando. Estes temas, até então restritos ao mundo corporativo, começam aos poucos a se tornar populares para milhares de pessoas, provando que a certificação pode ser uma grande aliada do consumidor. Esses avanços nos dão mais motivos para comemorar o Dia Mundial da Normalização, celebrado no dia 14 de outubro.
* Presidente da SGS do Brasil