Por Maria José Braga
A região do Cerrado pode se transformar em um pólo produtor de cafés especiais, de maior qualidade e, conseqüentemente, de melhor preço. A tecnologia do estresse hídrico em cafeeiro irrigado, desenvolvida pela Embrapa Cerrados, é uma aliada indispensável para essa transformação. Por ela, o longo período de seca e a baixa retenção de água no solo do Cerrado deixam de ser um problema e passam a contribuir para a cultura do café.
O estresse hídrico consiste na suspensão das irrigações, de forma assistida, por cerca de 60 dias (de 24 de junho a 4 de setembro). A tecnologia de manejo da irrigação favorece a sincronização no desenvolvimento das gemas. Conseqüentemente, a floração e a maturação dos frutos serão uniformes. “A tecnologia educa o cafeeiro”, afirma o pesquisador da Embrapa, Antônio Fernando Guerra, um dos responsáveis por seu desenvolvimento.
Floração desigual
Segundo ele, as gemas de café são produzidas em várias épocas do ano. Se o cafeeiro recebe água constantemente, como ainda ocorre, vai florescer também várias vezes ao ano e os frutos não terão maturação uniforme. “Quando estabelecemos o estresse hídrico, as gemas adiantadas não abrem e o cafeeiro apressa o desenvolvimento das gemas atrasadas. O resultado é a sicronização da maturação das gemas e a uniformização da floração. A uniformização da florada possibilita o aumento da produtividade com a obtenção de mais de 80% de grãos-cereja (grãos maduros) no momento da colheita”, explica.
A tecnologia do estresse hídrico assistido, além de aumentar consideravelmente a produção e melhorar a qualidade do café, reduz o uso da água e da energia elétrica na irrigação, possibilitando economia para o cafeicultor e ganhos ambientais. A redução do consumo de água e energia fica entre 30% e 35%, segundo Antônio Guerra. Há ainda redução de custos na colheita. “Com duas passagens de máquina, colhe-se todo o café, sem necessidade do repasse à mão”, afirma.
O uso do estresse hídrico em cafeeiro irrigado está estabelecido na região do Cerrado do Brasil Central (Distrito Federal e Goiás) e começa a ser difundido no Oeste da Bahia, com resultados promissores. No primeiro ano de estresse hídrico em uma fazenda região foram colhidos cerca de 70% de grãos-cereja. No cafeeiro sem estresse, o resultado foi de 36% de grãos-cereja.