04/05/2009
MIRIAM HERMES SUCURSAL BARREIRAS
hmiriam@grupoatarde.com.br
A pesquisa é ponto fundamental para garantir a sustentabilidade do setor cafeeiro no cerrado da Bahia, onde a cultura tem menos de 20 anos de implantação. Com este pensamento, a Bahia Coffee Produtores Associados, com abrangência em cerca de 50% da área plantada com café na região (que totaliza 17.619 hectares irrigados) está investindo no Programa Integrado de Pesquisa Cafeeira, o PIP/Café.
Como pesquisador, Gabriel Bartholo, acompanhado de consultores especializados em café e os responsáveis pelas áreas produtoras, está percorrendo as fazendas para fazer um diagnóstico da real situação dos cafezais do cerrado baiano. “Estamos estruturando o programa para auxiliar os cafeicultores na gestão da atividade e no seu crescimento”, diz Bartholo, que há 40 anos desenvolve pesquisas com a cultura em estados do Sudeste e durante quatro anos trabalhou na Embrapa Café.
O desafio é prolongar as altas produtividades médias da região, que chegaram a 60 e até 70 sacas por hectare nas primeiras safras. Porém, com o envelhecimento dos cafezais, a previsão para este ano da média regional é de 44 sacas por hectare. Bartholo destaca que, pelas condições diferenciadas de outras regiões produtoras, “as plantas têm um crescimento exacerbado, o que traz como consequência uma menor longevidade”.
SOLUÇÃO – Para o consultor de café e cafeicultor mineiro Luiz Pólo, mesmo diante do decréscimo da produtividade média no oeste baiano, “essa região é a solução para o café brasileiro”. A Bahia, diz, tem todas as condições para o desenvolvimento da cultura, como topografia plana (que ajuda nos tratos com a mecanização), água abundante, luminosidade o ano todo e produtores interessados no aprimoramento da atividade.
“Esse entrosamento entre os cafeicultores e a pesquisa é o que ainda faltava para que, definitivamente, a região atinja o grau de sustentabilidade necessário”, afirma Luiz Pólo, acrescentando que através do PIP/Café serão definidos procedimentos de melhores resultados, bem como, ajustados os manejos e tratos tecnológicos.
Gerente administrativo da Bahia Coffee, o engenheiro agrônomo Ivanir Maia salienta que cada produtor participa não apenas com sua experiência pessoal – haja vista que a região é nova na cultura e cada qual vinha fazendo suas próprias experiências –, mas também com doações em sacas de café.
Para firmar a participação também de outros elos da cadeia, como os fornecedores de insumos, máquinas, implementos e a comercialização dos grãos, foi criado o selo empresa Parceira do Café. De acordo com Maia, o modelo foi inspirado em outros semelhantes (como o da Abrinq). “A empresa usa o selo como marketing, comprovando sua participação para fortalecer o setor”, sintetiza.
MANEJO IDEAL – Segundo o gerente da fazenda Agronol, engenheiroagrônomo Mark Hillmann, a princípio, um dos maiores interesses do grupo é acertar o manejo da poda. “Estamos renovando as lavouras de mais de oito anos e ainda precisamos saber qual a época e a forma certa para fazer as intervenções”, diz, acrescentando que o custo da lavoura gira em torno de 30 sacas de café por hectare e o desafio é manter uma produtividade média acima desta marca para não inviabilizar o negócio.
De acordo com o consultor Marcos Pimenta, como no oeste da Bahia as plantas vegetam o ano todo, com dois anos e meio chegam a produzir mais de 70 sacas por hectare, enquanto que, em Minas Gerais, plantas com a mesma idade produzem entre 15 a 20 sacas/ha.
“Como aqui crescem o ano todo, exaurem suas reservas mais cedo. Lá em Minas (onde ele é cafeicultor), a vida útil chega a 16 anos. Já, aqui, pelos estudos preliminares, este período é de oito anos. Por isso também carecem de poda mais cedo”, afirma.
PODA – Entre as formas mais conhecidas de poda (decote, recepa e esqueletamento), vários testes estão em andamento para concluir a mais recomendada e que tenha melhores respostas em produtividade. Conforme o engenheiro-agrônomo Mauricio Garcia, na fazenda AdecoAgro, onde é responsável por toda a área de café, existem áreas em estágios diferentes e várias formas de poda já foram adotadas.
“Através da troca de informações entre os cafeicultores, vamos chegar ao melhor conceito de produzir café na região”. A cultura cafeeira, defende, merece atenção dos governos pela importância socioeconômica porque é a que mais emprega, com média entre 10 a 15 pessoas/ha, dependendo do ciclo.