Cepea estima crescimento de 2,8% do agronegócio em 2015

9 de dezembro de 2014 | Sem comentários Análise de Mercado Mercado
Por: Notícias Agricolas

09/12/2014


Ganhos de produtividade devem continuar sendo a alavanca do crescimento do setor – ressalvados os efeitos climáticos pouco previsíveis. A renda do setor deve ser influenciada por prováveis quedas de preços da soja, algodão e leite; laranja pode se recuperar e café e carnes, sustentar patamar elevado

 Cepea, 09 – Em 2015, o Agronegócio pode ser o grande condicionante do desempenho da economia nacional. Representando 23% do PIB brasileiro, ele pode ser o único setor com crescimento mais expressivo, dado que muitos segmentos da indústria não conseguem avançar e os serviços estão em processo de exaustão. Estimativas do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, apontam que, no próximo ano, o agronegócio pode crescer 2,8%. Para 2014, o Cepea revisou para baixou a expectativa de crescimento; pesquisadores esperam, no muito, 2,6%, a serem obtidos com colaboração expressiva do “dentro da porteira”.


A obtenção de crescimento ao redor de 2,8%, segundo pesquisadores do Cepea, vai requerer que o agronegócio continue explorando seus ganhos de produtividade, sem depender apenas de impulsos da demanda. Na avaliação da equipe Cepea, dentro do País, o setor vai encontrar em 2015 um mercado interno estagnado ou em fraca expansão na melhor das hipóteses, resultado do provável aumento do desemprego e de desaceleração dos salários.


No front externo, perspectivas de menor liquidez e maiores juros internacionais indicam dólar mais valorizado e preços de commodities menores. Entre os produtos que podem perder valor em dólar estão soja e açúcar. Para o professor da Esalq/USP Geraldo Barros, coordenador do Cepea, uma característica dominante nos mercados em geral será a elevada volatilidade, decorrente das questões climáticas e também de fatores macroeconômicos.


O câmbio no mercado interno ainda é uma incógnita diante das indefinições quanto à atuação do Banco Central. Uma desvalorização do Real ajudaria o agronegócio, ao mesmo tempo em que dificultaria o controle da inflação. Já a tendência de queda dos preços do petróleo, além de contribuir para uma taxa menor de inflação, pode favorecer o agronegócio, já que o óleo diesel e outros agroquímicos produzidos a partir do petróleo tenderão a se tornar mais baratos. Contudo, seria prejudicada a perspectiva da produção nacional de petróleo, contextualizam os pesquisadores.


Ao tratar da produção, a equipe Cepea destaca o impacto, cada vez mais frequente, dos eventos climáticos extremos no Brasil e em outros grandes produtores agropecuários – com impactos inter-relacionados. Diante disso, os pesquisadores destacam a importância de se reforçar a política agrícola voltada para o financiamento e o seguro da renda agrícola. Conforme cálculos do professor Barros, para financiar insumos e investimentos, os produtores rurais requerem cerca de 95% do PIB do seu segmento (agropecuária), mas na safra 2014/15, o governo federal alocou o equivalente a cerca de 50% desse montante (R$ 156,1 bilhões). O complemento vem de recursos próprios e de outras fontes não oficiais. Quanto ao seguro rural, o professor destaca que vem ocorrendo crescimento exponencial desde meados da década de 2000, mas a abrangência ainda não chega a 10% da área cultivada, com grande concentração no Sul do País e nas culturas de grãos, particularmente na soja. Em relação à política de sustentação de preços em anos recentes, o coordenador do Cepea explica que tem sido localizada e/ou pontual, podendo adquirir relevância em casos específicos, apenas. Segundo o professor, estudos vêm mostrando graus decrescentes de apoio do governo ao agronegócio comparando-se ao quadro de algumas décadas atrás.


Perspectivas setoriais


Em 2015, o desempenho dos principais setores do agronegócio brasileiro tende a ser positivo. Segundo a equipe Cepea, os fundamentos não justificam animação, mas também rejeitam “choradeira”, pelo menos da maioria das atividades. Confira a síntese das perspectivas para alguns dos principais setores do agronegócio brasileiro. Para acessar a íntegra da primeira versão das Perspectivas Cepea, clique em: http://cepea.esalq.usp.br/pib/


Soja – pequeno aumento tanto da área quanto da produtividade deve gerar mais uma safra recorde, acima de 90 milhões de toneladas. O processamento interno e as exportações de soja em grão também devem ser históricos, assim como a produção e o consumo interno de farelo e de óleo de soja. Como também se estima oferta recorde na Argentina em 2015 e os Estados Unidos colheram a maior safra da sua história, os estoques mundiais devem aumentar, apesar do consumo também crescente. Na Bolsa de Chicago (CME Group), os preços estão na casa de US$ 10,00/bushel para os próximos três anos, pelo menos, o que significaria os menores valores desde a safra 2010/11. Levantamentos do Cepea neste início de dezembro apontam negócios para exportação pouco acima de US$ 23,00/sc de 60 kg, FOB Porto de Paranaguá, para todo o primeiro semestre de 2015, também um dos menores níveis desde 2010.


Milho – área cultivada na 1ª safra diminui, em favor principalmente da soja. Além dos preços vigentes no período de decisão da safra de verão, essa redução ocorre também devido às chuvas escassas no Sudeste e em parte do Centro-Oeste. Dados da Conab apontam que, no final de janeiro de 2015, haverá estoques na casa de 15,3 milhões de toneladas, o que equivaleria a 48% do que foi colhido na safra verão 2013/14. Estoques nestes níveis não devem permitir recuperações expressivas de preços. Somente algum fator que colabore para exportação bem acima de 20 milhões de toneladas por ano-safra pode mudar o cenário de preços. Porém, agentes não esperam que isso aconteça no curto prazo. Assim, novamente, recaem sobre a 2ª safra os principais fatores de impacto sobre os preços da temporada 2014/15. Com base na relação receita/custos, dados iniciais apontam para uma menor área cultivada e também para menor uso de tecnologias, comparativamente a 2013/15. Paralelamente, o fator clima também pode pesar sobre as estimativas.


Algodão – deve, novamente, perder espaço na temporada 2014/15. Desde meados de 2014, as cotações regionais estão abaixo do preço mínimo oficial; se isso não bastasse, dados do Cepea apontam situação apertada quando se comparam receitas e custos da nova temporada. No cenário mundial, os estoques de passagem devem atingir níveis recordes em 2015. Os contratos na ICE Futures para vencimento em 2015 operam nos menores valores desde que se iniciaram – o contrato Mar/15, por exemplo, começou a ser negociado em abr/12. O índice Cotlook A também pode ter seu menor preço – na casa de US$ 0,73/lp – desde a safra 2008/09, ano de crise da cotonicultura no mundo e, em especial, no Brasil.


Café – a forte estiagem reduziu consideravelmente a produção da atual temporada (2014/15): em torno de 10%. Para a safra 2015/16, produtores estimam nova baixa da oferta de arábica, com as lavouras ainda sob os efeitos da seca. Diferentemente, a produção de robusta tem contado com condições climáticas favoráveis e deve aumentar. Mesmo assim, os estoques nacionais e mundiais de café devem diminuir ainda mais no final do ciclo 2015/16. Paralelamente, espera-se avanço da demanda motivada pela recuperação econômica dos principais países consumidores de café. Sob este cenário, a perspectiva para 2015 é de preços firmes para as duas variedades, com alguma elevação frente a 2014 – bem distantes dos preços baixos de 2013.


Citros – em 2014, novamente, muitos produtores deixaram a atividade; houve também diminuição da área cultivada e, comumente, vê-se redução dos tratos culturais. O motivo é a sequência de anos de rentabilidade negativa, e a consequência, de curto prazo, deve ser menos laranjas produzidas em 2015/16. Os estoques de suco de laranja das indústrias também devem ter forte redução no ano que vem, fundamentando a perspectiva de preços maiores ao produtor. Caso melhore a rentabilidade do negócio, a redução de área com citros deve ser menos intensa que a verificada nos últimos anos e o grau de renovação e adensamento dos pomares tende a aumentar.


Sucroenergético – em situação “desfavorável” desde 2008, o setor enfrentou na safra que termina um agravamento do quadro. Mas, aos poucos, esse cenário deve ficar para trás. Representantes do setor esperam volta do diálogo com o governo federal e definição de uma política de longo prazo para o setor. Entre as ações aguardadas para o curto prazo, o destaque é para a volta da Cide sobre o preço da gasolina e a definição da sua magnitude. A lógica é que, face à gasolina mais cara, a competitividade do hidratado se eleva e, com isso, mais matéria-prima passa a ser alocada para este combustível. Por consequência, os preços do anidro e também do açúcar ganham algum impulso. Outro fundamento que justifica a expectativa de recuperação dos preços do setor vem do mercado internacional de açúcar. A partir de meados do segundo semestre, o superávit atual pode dar espaço a déficit, que seria suprido pela commodity brasileira. Além dessa demanda, o câmbio também deve reforçar a competitividade do produto nacional. No balanço, a expectativa para 2015 e de produção estável e, por enquanto, de preços apenas ligeiramente maiores.


Pecuária Bovina de Corte – a falta de chuva desde 2013 prejudica não só a engorda dos animais, mas também a taxa de prenhez e o desenvolvimento de bezerros e garrotes, que atravessaram períodos de baixa nutrição. O resultado aparece na queda tanto do número de animais ofertados para abate quanto do peso das carcaças. Essa menor oferta de carne, em 2014, justificou valorizações significativas em todos os elos da cadeia e, à medida que persista, tenderia a manter o nível dos preços. Do lado da demanda, é sabido que cotações elevadas inibem o consumo – especialmente num ano em que a atividade econômica deve ser bastante lenta –, mas não se aposta que o agregado chegue a diminuir comparativamente ao ano anterior. Ainda que a demanda não seja robusta, da perspectiva de preços, devem entrar na conta também as exportações, que sinalizam o enxugamento da já limitada oferta interna. A situação de grandes produtores internacionais bem como a continuidade do embargo de parte da comunidade internacional à Rússia devem favorecer as vendas da carne brasileira, mesmo que haja dúvidas sobre o comportamento do câmbio no mercado interno.


Suínos – como alguns avaliam, “2014 foi um ponto acima da curva” para a suinocultura. Para 2015, são esperados custos de produção um pouco maiores e preços domésticos do suíno semelhantes ou, dependendo do momento, um pouco abaixo dos níveis elevados de 2014. A formação desses preços se dará no contexto de aumento da produção face a avanço moderado da demanda interna e um pouco mais robusto das exportações – com colaboração, inclusive, do câmbio. Escaldados por crises, representantes deste setor esperam que 2015, um ano que requer “pé no chão”, não seja entendido pelos produtores como estímulo para aumento exagerado dos plantéis a ponto de desencadear nova crise em 2016/17.


Frango – 2014 não foi tão bom quanto para a suinocultura, mas seu balanço também é positivo. Para o novo ano, é previsto maior equilíbrio entre oferta e demanda, podendo resultar em preços maiores que os de 2014. A liderança brasileira nas exportações, que absorvem cerca de 30% da produção nacional, não sofre ameaças, devendo manter-se em marcha firme. Quanto ao consumo dos brasileiros, também se prevê algum avanço, sustentado principalmente pelo reajuste, ainda que mais moderado, do salário mínimo e pela demanda adicional gerada pela manutenção da carne bovina em patamares elevados. Pensando-se em custos de produção, muitos têm a expectativas de farelo de soja e milho a preços menores que os de 2014.


Leite – é um dos poucos setores que acenam, desde já, para redução dos preços em 2015. Em todo o segundo semestre de 2014, os preços do leite ao produtor estão, em termos nominais, bem abaixo dos praticados em 2013; na virada do ano, aproximam-se mesmo dos de 2011. No País, a produção anual de leite é sempre crescente, à taxa média de 5%, mas o crescimento em 2014 foi bem além, podendo ultrapassar os 10% nos estados mais representativos do setor (abrangidos pelo Icap-L/Cepea), o que ajuda a entender o nível das cotações na virada do ano. Dessa forma, são baixistas as expectativas de preços também para os primeiros meses de 2015, o que desestimularia a produção. Com isso, pode haver redução acentuada da oferta em junho-julho/15 (com banda de maio a agosto), período de entressafra. Naquele momento, os preços devem ter elevações consideráveis, mas pontuais, mas as retrações podem começar mais cedo. No balanço, o ano deve ser de desestímulo aos produtores, com muitos pequenos e “aventureiros” devendo sair da atividade, liquidando plantéis. O crescimento anual da produção seria, então, reduzido para 3 a 4% e, repetindo-se a bienalidade típica da pecuária leiteira, para 2016, seriam esperados estoques menores e tendência de reação dos preços mais rápida no período de pré-entressafra. Na vertente da demanda, o mais importante é a perspectiva de que o consumo interno dos principais lácteos manter-se-á crescente, ainda que a taxa menor que em 2014. De fato, demanda é importante para o escoamento dos derivados que estão sendo produzidos aceleradamente pelas indústrias – reflexo da captação elevada de matéria-prima.


PAPEL ESTRATÉGICO – O desempenho do agronegócio brasileiro impacta não apenas a quem trabalha diretamente no ou com o setor. Importante gerador de divisas estrangeiras – responde por 40% do faturamento das exportações brasileiras e grande responsável pelos superávits comerciais do País –, o agronegócio é que poderá abrir espaço para o crescimento dos demais setores dependentes de importações, portanto, das divisas que o agronegócio gerar. Além disso, o desempenho do setor é um dos principais influenciadores da inflação, posto que alimentos e bebidas representam 23% do IPCA. Como esse peso no custo de vida chega a 28% para os estratos mais pobres (e a 8,5% para os mais ricos), um bom desempenho do agronegócio (maior produção a preços estáveis ou menores graças a aumentos de produtividade) pode contribuir significativamente para garantir relativa continuidade da melhoria da distribuição de renda e da redução da pobreza. A própria eficácia das políticas de transferência de renda (como o Bolsa Família) e de valorização do salário mínimo depende de o custo de vida manter-se relativamente estável. “Em síntese, para que o Brasil consiga trazer a inflação para níveis mais próximos da meta oficial, para que possa continuar no caminho da redução da desigualdade e da pobreza e para que a economia possa sustentar algum crescimento em 2015, é muito importante que o agronegócio tenha algum crescimento razoável e que não crie dificuldades do lado da inflação, nem do lado das exportações”, conclui o professor Geraldo Barros.


Fonte: Cepea

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