11/10/09 – A primeira reação do cão quando é atingido por uma pedra é morder a pedra, e não quem a atirou. E é essa a tendência de muita gente no Brasil quando seus negócios sofrem os efeitos da valorização do real (baixa do dólar).
No passado, quando havia forte alteração nas cotações do dólar no Brasil, quase sempre o problema estava na moeda brasileira. Mas, dessa vez, é o dólar que está furado.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e um punhado de economistas vêm recomendando que o Banco Central compre moeda estrangeira com mais agressividade. E foi também o que alguns bancos centrais da Ásia fizeram na semana passada, se as informações que correram estiverem corretas. O objetivo foi impedir o afundamento do dólar em relação a cada moeda nacional: ao won da Coreia do Sul, ao yuan da China, à rupia da Índia e ao baht da Tailândia.
Mas nenhum banco central tem condições de mudar a tendência firme do câmbio quando o regime é de câmbio flutuante. Isso é fácil de entender. A cada compra de dólares, o banco central do país comprador emite moeda nacional em volume correspondente, o mesmo que é dado em pagamento pelos dólares. Esse excedente tem de ser retirado do mercado local para evitar que o banco central perca o controle de sua política monetária (política de juros). Se as operações de compra de moeda estrangeira são assim esterilizadas, a relação de oferta e procura entre moedas permanece a mesma que prevalecia antes e que determinara a baixa do dólar no câmbio interno. Ou seja, não há como mudar as condições preexistentes.
O atual afundamento do dólar no mercado global (e não só no Brasil) é consequência de anos de política monetária flácida do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que temia a deflação, ou seja, temia a queda constante dos preços internos, o que prejudicaria dramaticamente os credores e a arrecadação pública.
Mas este é o fator crônico. Além dele, há o agudo, que tem a ver com os quase US$ 2 trilhões que o Fed despejou no mercado para atacar o estrangulamento do crédito que se seguiu ao naufrágio do Lehman Brothers em setembro de 2008.
Em outras palavras, como há dólares demais zanzando pelos mercados, a lei da oferta e da procura se encarrega de restabelecer o equilíbrio entre as moedas por meio da desvalorização do dólar. Até agora, o Fed não emitiu nenhum sinal de que começará o processo de enxugamento do excesso de dólares no mercado porque teme dois efeitos: o abortamento do processo de recuperação da economia dos Estados Unidos e o enfraquecimento das exportações americanas.
Mas a falta de ajuste monetário por parte do Fed pode, por sua vez, provocar um efeito novo: o de que os preços das commodities, todas elas cotadas em dólares, aumentem em dólares para compensar a perda do poder aquisitivo da moeda americana. Se isso acontecer, a inflação pode se antecipar ao enxugamento monetário e adiar, assim, o processo de alta dos juros.
Enfim, esses são elementos adicionais que devem alertar nossos cães de guarda de que, se é para morder e mexer no câmbio, é preciso morder o atirador da pedra e não a pedra.