Parceria tem foco na produção sustentável de café para atendimento às demandas dos mercados consumidores globais
O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) e a Fundação Solidaridad firmaram um acordo de cooperação técnica com foco na promoção da sustentabilidade da cafeicultura brasileira e no desenvolvimento de projetos alinhados às demandas do mercado consumidor externo, que vem exigindo mais transparência quanto à governança socioambiental.
A primeira iniciativa da cooperação entre as entidades está voltada ao compliance do café brasileiro ao Regulamento da União Europeia para Produtos Livres de Desmatamento (EUDR), que determina que o café somente poderá ser exportado para a UE se não foi produzido em área desmatada após 31 de dezembro de 2020.
No entanto, segundo a diretora de Responsabilidade Social e Sustentabilidade (RSS) do Cecafé, Silvia Pizzol, no que se refere ao atendimento ao EUDR, é necessário o enfrentamento dos alertas falso positivos para desmatamento, que podem ocorrer devido à semelhança do comportamento espectral das áreas ocupadas com vegetação nativa e daquelas com café em formação e produção.
Ela explica que, dependendo da resolução espacial das imagens de satélite, utilizadas nos sistemas de monitoramento de desmatamento, a confusão de áreas de café com floresta pode se acentuar em regiões com relevo acidentado e devido ao tamanho variado dos talhões nas regiões produtoras.
“É fundamental aprofundar a verificação da situação da vegetação nativa em localidades onde houve detecção de alerta de desmatamento, após 31 de dezembro de 2020, e por isso a Fundação Solidaridad, por meio de seu Departamento de Geoprocessamento, aplicando imagens de alta resolução, efetuará a reavaliação das áreas de vegetação nativa em áreas produtoras de café onde se identificou esse tipo de alerta, visando confirmar se esta leitura realmente reflete a realidade ou apresenta evidências técnicas de que foi um falso positivo para desmatamento”, comenta.
A parceria firmada oferece aos exportadores associados ao Cecafé mais uma camada de verificação de critérios ambientais no escopo do EUDR, além da que já é realizada no âmbito da Plataforma Cecafé-Serasa Experian. “Essa análise detalhada, a partir da expertise técnica da Fundação Solidaridad, evitará exclusões indevidas de acesso dos cafés do Brasil no mercado europeu”, esclarece Silvia.
Cafeicultura Regenerativa
Ainda no âmbito da parceria entre as entidades, o Comitê de Responsabilidade Social e Sustentabilidade do Cecafé conheceu a estratégia de trabalho da Fundação Solidaridad em agricultura regenerativa, em reunião realizada no dia 3 de setembro.
À época, Gabriel Dedini, Gerente de Programas da Fundação, apresentou a iniciativa Refazenda, que aborda, de forma conjunta, clima, agricultura e paisagem, trazendo soluções inovadoras e tecnológicas adaptadas ao panorama brasileiro.
Os modelos de intervenção são definidos de forma participativa com as famílias cafeicultoras e os parceiros dos projetos, engajando-se nas paisagens produtivas que incluem vegetação nativa preservada na propriedade rural, as áreas de café bem manejadas e as culturas de cobertura das entrelinhas.
Segundo Dedini, para avançar em pagamentos por serviços ambientais associados aos modelos de agricultura regenerativa, é fundamental gerar informações para subsidiar um processo de transição gradativo e responsável, com foco na redução dos fatores de emissão através das melhores práticas de manejo.
“Dessa maneira, é possível obter indicadores estabelecidos para monitorar a evolução da dinâmica do gás carbônico e equivalentes ao longo dos ciclos de produção, para construir um arcabouço técnico, aplicável à cultura, assegurando a manutenção da viabilidade econômica da atividade durante o processo de transição para uma agricultura climaticamente mais eficiente, e o desenvolvimento socioeconômico das famílias cafeicultoras”, explica.
Essa visão está alinhada à agenda de carbono do Cecafé, conforme recorda Silvia. “As pesquisas promovidas pelo Conselho e conduzidas pelo Imaflora e pelo professor da Esalq/USP, Carlos Eduardo Cerri, em Minas Gerais (confira aqui) e Espírito Santo (veja aqui), contribuíram para a geração de indicadores que demonstram o efeito benéfico da adoção de práticas que fazem parte do escopo da agricultura regenerativa para que o balanço de carbono da cafeicultura se torne mais negativo”, conclui.
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