Por Dylan Della Pasqua, de São Paulo/SP
SAFRAS (08) – Apesar dos sintomas de uma crise financeira internacional, com possível recessão na economia mundial, os preços das commodities agrícolas tendem a manter a atual tendência de alta por pelo menos 10 a 15 anos. A previsão foi feita pelo consultor da MB Associados, José Roberto Mendonça de Barros, durante o 10 Congresso Brasileiro do Agronegócio (CBA), que ocorre nesta segunda, em São Paulo (SP).
Na avaliação de Mendonça de Barros, a continuidade de alta depende de dois pontos: a continuidade da força do crescimento da Ásia, principalmente da China, e a demanda por energia renovável. O atual quadro para as commodities, segundo o consultor, se dá pela alteração no comando da definição dos preços. Até 2003, era a oferta que dava as cartas. No momento, quem comanda a tendência dos preços é a demanda. Entre os fatores de demanda, Mendonça de Barros citou o crescimento da população mundial, o aumento da renda, a produção de biocombustíveis, a desvalorização do dólar e a ação dos fundos em commodities agrícolas.
“Alguns fatores de oferta também contribuíram para este cenário, entre eles a mudança climática, com os extremos prejudicando a produção, a área plantada recuando gradativamente na China e a impossibilidade da África produzir mais em um curto período de tempo”, disse o consultor. Na avaliação de Barros, a demanda no Brasil também deverá continuar crescendo, tanto em volume como em qualidade.
O economista não acredita que a crise financeira mundial altere este quadro. “Isso deverá trazer mais volatilidade. Uma alteração brusca nesta tendência só deveria ocorrer com uma queda no crescimento da Ásia, o que não deverá ocorrer”, avaliou. “Mesmo com uma possível queda do petróleo e com a China corrigindo o ritmo de crescimento, os outros países emergentes deverão continuar crescendo”, completou.
Até o momento o Brasil tem mostrado êxito em atender a este aumento da demanda mundial por grãos. Mas há problemas que deverão ser enfrentados. Mendonça alerta para a grande dependência da China. “A saída poderia ser aumentar a participação na produção de energia renovável, com biocombustíveis de segunda geração”, disse, lembrando que o custo de produção elevado e as novas restrições completam os desafios para o Brasil. “Não podemos esquecer do problema de escassez de água, da queima da floresta e da regulação, que está piorando de qualidade”. Para Mendonça de Barros, o Brasil precisa buscar novas oportunidades, como o biodiesel, a segunda geração dos biocombustíveis e a exploração sustentável da floresta.
O sócio diretor da Decisão Consultores Associados, José Milton Dallari, destacou o aumento da renda interna no Brasil, como fator de sustentação dos preços das commodities. “Mesmo sendo um importante player no mercado internacional, o Brasil precisa pensar muito no abastecimento interno. A demanda da classe C veio para valer”, apontou Dallari.
Para presidente da Brasil Foods SA, José Antônio do Prado Fay, o alimento é básico e não morte súbita para o consumo. “O Brasil é um importante player mundial e, internamente, o percentual da renda gasto com alimentos tem diminuído, o que sinaliza boa demanda”. Para Fay, a China ainda consome pouco produto industrializado brasileiro e se torna uma grande oportunidade. “No nosso caso, por exemplo, há ainda muito espaço para a China no que diz respeito ao consumo de proteínas”, afirmou Fay.
O presidente Cocamar Cooperativa Agroindustrial, Luiz Lourenço, destacou acapacidade do setor em produzir e garantir o abastecimento interno, criando um elevado excedente exportável. Ele aposta no crescimento da produção de biocombustíveis, considerada por ele uma garantia de liquidez e renda ao produtor. “E ainda temos que produzir ainda mais para atender a esta demanda crescente”, finalizou Lourenço.
(DP)