Quarta-feira, 18 de novembro de 2009, 18h12
Cautela sobre novas medidas mantém dólar em R$ 1,717
SILVANA ROCHA
O dólar comercial fechou o dia estável no mercado interbancário de câmbio, cotado a R$ 1,717, após oscilar entre a mínima de R$ 1,705 e a máxima de R$ 1,718. Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o dólar à vista também fechou praticamente estável (variação de -0,02%), a R$ 1,7151. O dólar comercial acumula em novembro queda de 2,22% até hoje. No ano, a desvalorização acumulada é de 26,47%.
Além de fatores externos, a discussão diária no mercado de câmbio sobre quais novas medidas ainda podem vir a ser tomada pelo governo brasileiro, a fim de tentar conter a apreciação do real, vem ajudando a amparar a moeda acima do suporte psicológico de R$ 1,71.
Na avaliação do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, que esteve hoje no Congresso Nacional, o modelo econômico praticado no Brasil – de contínuo crescimento do gasto público e dívida pública ainda elevada – pressiona os juros para cima e o câmbio (dólar) para baixo. Segundo ele, o País tem uma “cara boa” para os investidores externos – pois é uma potência agrícola e deverá ser uma potência petrolífera – e, além disso, tem juros altos para padrões internacionais, o que atrai muito capital externo e valoriza o real, prejudicando a indústria e agricultura. “O desafio é criar condições para se ter juros mais baixos, sem gerar inflação”, disse Fraga. Segundo ele, nesse sentido, preocupa o fato de o Congresso estar discutindo medidas para expandir o gasto público, como a eliminação do fator previdenciário. “Isto tem custo e impacto sobre outras variáveis e, na verdade, reduz nossa capacidade de lidar com as questões sociais”, afirmou.
Fraga disse que o modelo atualmente praticado no Brasil é “tentador” no curto prazo, porque é fácil aumentar gastos e também estimular o aumento do crédito sem coordenação com o Banco Central – o que reduz o espaço de atuação da política monetária. “Este modelo pressiona os juros para cima e o câmbio para baixo”, reiterou. Ontem, em evento com empresários, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reafirmou a preocupação do governo com a taxa de câmbio e citou relatório do Goldman Sachs, que projetou o câmbio de equilíbrio para o Brasil, em R$ 2,60.
De acordo com Mantega, um dos desafios da economia brasileira, que está cada vez mais atraindo capitais externos, é evitar uma “valorização excessiva” da taxa de câmbio. “Certa valorização do câmbio é inevitável, mas temos de evitar exageros.” Para Mantega, o IOF tem o sentido de impedir a entrada de capitais especulativos na economia. Segundo o ministro, após quase um mês da entrada em vigor da medida, já se pode dizer que ela foi eficaz. “O câmbio estava em trajetória de forte valorização. Conseguimos reduzir a volatilidade. Trata-se de eliminar exageros e evitar excesso de afluxo de capitais para a bolsa brasileira”, disse o ministro. Ele destacou que é preciso tomar cuidado com o câmbio para evitar a perda de competitividade das empresas brasileiras.