A casca de café é um subproduto da própria fazenda, que após o beneficiamento resulta em uma grande quantidade desse material, que possui excelente potencial para a lavoura. Ela oferece melhoria das condições físicas, químicas e biológicas do solo.
Além de ser uma fonte de adubo orgânico liberando gradualmente os nutrientes, a casca de café atua melhorando a retenção de umidade do solo, controle da erosão, diminuição da temperatura do solo, aumento da CTC (capacidade de troca de cátions), melhora a atividade biológica do solo e também atua no controle de crescimento de plantas invasoras na projeção da saia do café, tanto de maneira física, impedindo a germinação de sementes, como também de forma alelopática, como mostra o trabalho de Santos et al. (2001), que houve influência das coberturas mortas de casca de café (Coffea arabica L.) e casca de arroz (Oryza sativa L.) sobre o controle do Caruru-de-macha (Amaranthus viridis l.) em lavoura de café. Fato extremamente vantajoso, visto que além de todos os benefícios citados acima, a casca de café pode ter influência no controle de plantas daninhas, podendo dessa forma diminuir os custos com triações na lavoura.
A casca de café fornece nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K), com teores em torno de 1,5 de N, 0,15 de P e 3,0 de K, como mostra a tabela abaixo. Esses macronutrientes possuem grande participação no metabolismo das plantas. Composição de NPK em alguns adubos orgânicos usados na cultura do café.
Fonte – Matiello et alli, Cultura do Café no Brasi l- Manual de Recomendações, Mapa Fundação Procafé, Ed 2010.
O potássio além de outras funções na planta é um nutriente com grande influência na qualidade de bebida, vários autores comprovam esta afirmativa, como o estudo de (Silva et al., 1999) que avaliando diferentes fontes e doses de potássio concluíram que o aumento das doses desse elemento químico influencia diretamente na qualidade de bebida.
Garcia et al.(2004) concluíram que a palha do café em coco, a palha do café despolpado e o pergaminho do café cereja descascado apresentam boas características para uso como adubo orgânico, porém, o pergaminho apresenta menor densidade e baixo valor nutricional. Entretanto, deve-se estar atento também a lixiviação de potássio, um estudo comparando cinco tipos de resíduos do benefício de café, sendo eles: as casca do café cereja despolpado, casca do café “bóia” separado no lavador, casca do café “natural” seco em coco sem passagem pelo lavador, casca de café um ano compostada e casca de café enriquecida e compostada por três anos, foi observado que na dose de 300 kg há-1 K2O observou-se menor lixiviação de K com aplicação de K mineral, cascas de café compostada por um ano e café bóia, já as cascas de café cereja e do café natural seco em coco (normalmente utilizada na lavoura) apresentaram valores de lixiviação intermediários e a casca de café enriquecida e compostada por três anos foi o material que mais lixiviou (Zoca, 2012). Dessa forma, a aplicação de K na forma de resíduos do benefício não evita perda por lixiviação, por isso deve-se considerar as possíveis perdas desse potássio oferecido pela casca de café.
Barros et al. (2001) realizaram um trabalho comparando a produtividade da lavoura com a aplicação de palha de café seca, esterco e adubação exclusivamente química, e observaram que a associação de adubo químico e orgânico é extremamente benéfico a produção do cafeeiro em relação a adubação exclusivamente química, e além disso, nas doses 1,0, 2,0, e 4,0 Kg/cova de palha de café seca houve aumento crescente na produção.
Produção anual, média de cinco safras (1997/2001), em cafeeiros do cultivar Catuaí 44, do ensaio de doses e modos de aplicação de palha de café e esterco de gado associado ao adubo químico, na formação e produção do cafeeiro. Martins Soares – MG – 2001.
A recomendação da casca é de 5,0 a 10,0 L por cova ou 1 a 2 kg por cova, entretanto alguns trabalhos como o de Barros, sugerem doses acima das recomendadas na 5ª aproximação. Para adequar para um metro de sulco basta multiplicar esse valor por 2,5. A aplicação dessa casca de café seca é feita em cobertura.
Deve-se sempre considerar o equilíbrio entre o potássio, cálcio e magnésio no solo, visto que a palha de café possui um alto teor de potássio e baixo teor de magnésio e Cálcio, ressaltando que no solo esses nutrientes devem sempre ficar na relação adequada. Outro importante fator a considerar é a respeito da utilização em lavouras de plantio, pois necessitam de pouco Potássio .
Em relação ao armazenamento dessa casca, é recomendada que ela seja aplicada nas lavouras logo após a colheita, caso não seja possível essa prática, deve-se proteger com lona, para evitar a perda dos nutrientes por lixiviação devido a ação da chuva. Ou realizar a compostagem da mesma com qualquer outra forma de esterco, enriquecendo ainda mais o material que poderá ser utilizado em lavouras em produção ou no sulco de plantio.
Por ser um resíduo da fazenda, não são necessárias despesas adicionais para a compra desse adubo orgânico, os custos gerados são apenas de sua aplicação na lavoura, considerando a importância de uma prática que não encareça os custos de produção, uma vez que quanto maior esses custos, menor o lucro do produtor.
Referências
BARROS, U. V.; GARÇON, C. L. P.; SANTANA, R. MATIELLO, J. B. Doses e modos de aplicação de palha de café e esterco de gado associado ao adubo químico, na formação e produção do cafeeiro, solo LVah, na Zona da Mata de Minas Gerais. ii Simpósio de pesquisa dos Cafés no Brasil. 2001.
GARCIA, A. W. R.; MATIELLO, J. B.; JAPIASSU L. B. Avaliação do efeito nutricional de vários tipos de palha de café. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISAS CAFEEIRAS, 30., 2004, São Lourenço. Trabalhos apresentados. Varginha: PROCAFÉ, 2004. p. 63-64.
MATIELLO, J.B.; GARCIA A.W. R.; VILELA A. F. A palha de café deve ser usada na adubação da lavoura– Engs Agrs Mapa e Fundação Procafé.
SANTOS, J. C. F.; SOUZA, I. F. D. S.; MENDES, A. N. G.; MORAIS, A. R. D.; CONCEIÇÃO, H. E. O. D. C.; MARINHO, J. T. S. Influência alelopática das coberturas mortas de casca de café (Coffea arabica L.) e casca de arroz (Oryza sativa L.) sobre o controle do caruru-de-mancha (Amaranthus viridis l.) em lavoura de café. Ciência e agrotec., Lavras. v.25, n.5, p. 1105-1118, set/out., 2001.
SILVA, E. D. B.; NOGUEIRA, F. D.; GUIMARÃES, P. T. G.; CHAGAS, S. J. D. R.; COSTA, L. Fontes e doses de potássio na produção e qualidade do grão de café beneficiado. Pesquisa Agropecuária Brasileira 34: 335-345. 1999.
ZOCA, S. M. Avaliação da liberação de potássio por resíduos do benefício de café. (Dissertação) Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Faculdade de Ciências Agronômicas Campus de Botucatu. 2012.