Casca de café na alimentação de bovinos

14/11/2006 10:11:06 –

Por: Milk Point

Introdução


A cafeicultura é uma atividade que se caracteriza por gerar grandes volumes de resíduos agroindustriais, que necessitam de destinos apropriados a fim de evitar passivos ambientais, além de proporcionar benefícios econômicos.


No Brasil, ainda predomina o preparo do café por via seca, no qual não há separação da polpa, mucilagem e casca. Assim, a industrialização deste produto resulta em proporções semelhantes de café beneficiado e casca (Vegro & Carvalho, 1994). O País, maior produtor mundial de café, com 2,144 milhões de toneladas de café beneficiados em 2005 (MAPA, 2006), gerou 2,144 milhões de toneladas de casca de café, que representa, aproximadamente, 70% da demanda anual de milho para bovinocultura (Agrianual, 2004).


As principais formas de utilização da casca de café são como combustível, carvão ou adubo orgânico (Vegro & Carvalho, 1994). Apesar da casca de café apresentar composição bromatológica que se adequa à alimentação de ruminantes, como substituto de concentrados energéticos ou de forragens, sua adoção pelos produtores ainda é incipiente.


Neste sentido, propõe-se com este artigo apresentar uma breve descrição das características químicas da casca de café, os resultados de pesquisas sobre sua utilização na alimentação de bovinos de leite e corte, e recomendar níveis adequados de inclusão na dieta destes animais.


Características químicas e nutricionais da casca de café


A estatística descritiva para composição química da casca de café está apresentada na Tabela 1. O valor médio da proteína bruta assemelha-se ao de outros alimentos energéticos como o milho e milho desintegrado com palha e sabugo (MDPS). No entanto apresenta elevada participação de nitrogênio ligado à fibra em detergente neutro (NIDN) e fibra em detergente ácido (NIDA), indicando que grande parte da proteína é de baixa degradabilidade ruminal e indegradável.


1/ % MS; 2/ % do nitrogênio total; DP = desvio padrão; N = no de observações.


Tabela 1 – Estatística descritiva para composição química da casca de café.


O teor de fibra em detergente neutro (FDN) apresenta variações em função da relação entre casca e pergaminho, sendo que o pergaminho contém maior teor de fibra e que é também de pior digestibilidade que a fibra da casca (Pereira, 2003). Resultados do trabalho de Ribeiro Filho (1998), indicaram que a degradabilidade da fibra da casca de café é inferior ao do milho desintegrado com palha e sabugo devido à maior participação da lignina na fibra em detergente neutro, pois a lignina afeta negativamente a degradação ruminal dos carboidratos celulose e hemicelulose.


Em função disso, espera-se que o valor energético da casca de café seja baixo. Entretanto, ainda não há estudos sobre determinação do valor energético da casca de café para bovinos, mas estimativas baseadas em equações de predição a partir da composição química, com valores estimados de nutrientes digestíveis totais de 50%, base da MS (Oliveira, 2005; Rocha, 2005; Teixeira, 2005). Todavia, este valor deve ser visto com ressalva, pois as equações de predição ainda não foram validadas para alimentos desta natureza.


Outros compostos químicos como a cafeína e os polifenóis totais também se constituem em fatores limitantes. Alguns autores propõem que estes compostos causam depressão na ingestão de matéria de seca (Cabezas, 1976; Vargas et al., 1982).


Apesar das limitações nutricionais apresentadas, acredita-se que a casca de café tenha potencial de inclusão em dietas de ruminantes. Neste sentido, diversos estudos foram realizados no Brasil com objetivo de determinar níveis adequados de casca de café na alimentação de bovinos de leite e corte, em substituição a concentrados energéticos ou forragens.


Resultados com Vacas de Leite


Na Tabela 2 constam resultados de trabalhos publicados no Brasil, sobre desempenho de vacas de leite da raça Holandês, confinadas, alimentadas com dieta completa, contendo casca de café em substituição ao milho grão ou silagem de milho.


Nos trabalhos que substituíram milho grão, o nível máximo médio de inclusão da casca de café na dieta foi 11,75% (base da MS), com variação de 10 a 15%. O consumo de matéria seca, a produção e composição do leite a variação de peso dos animais não foram afetados (P>0,05) nos trabalhos de Barcelos et al. (1995), Souza et al. (2005) e Oliveira et al. (2005).


O mesmo ocorreu no estudo de Rocha (2005), com exceção para consumo de matéria seca que se reduziu linearmente com inclusão de casca de café na dieta, possivelmente, por utilizar maior nível de inclusão, 15% na MS da dieta. Apesar disso, o desempenho não foi comprometido, pois segundo o autor, o consumo de nutrientes atendeu as exigências nutricionais.

CC = casca de café, base da MS; CMS = consumo de matéria seca; PL = produção de leite; VP = variação de peso; PBL = proteína bruta do leite; GL = gordura do leite; V:C = relação volumoso:concentrado, base da MS; L = efeito linear (P

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