Qual será o segredo para produzir um bom cafezinho? Uma coisa é certa: os cafeicultores de Carmo de Minas, MG, têm a receita. Nas últimas 3 edições do Cup of Excellence realizadas no país, os grãos produzidos no município sempre se destacaram. Na competição nacional deste ano, Ralph de Castro Junqueira ficou em 1º lugar. Recebeu 93 pontos num lote de 23 sacas. “É muito emocionante, muito bom. Realmente a gente percebe que todo o sacrifício, o trabalho da lavoura, da colheita são reconhecidos”, comentou Junqueira.
Das 43 amostras selecionadas na final de Machado (MG), 30 são do Sul de Minas. Destas, 23 vão a um leilão internacional no dia 03 de janeiro de 2009 pela internet. Dezessete lotes selecionados saíram do Carmo de Minas.
“Tem que ter muita dedicação, muito suor, muito trabalho. E aqui na região isso não falta. O pessoal realmente trabalha, e a gente tem o café como atividade de paixão. Não é só uma atividade econômica”, acrescentou Junqueira.
O café de Carmo de Minas vem encantando provadores internacionais. Mas todo esse sucesso conquistado nos dias de hoje começou depois de um planejamento feito pelos produtores em 2001. Eles perceberam que para cultivar café nas terras altas da Mantiqueira sem ter um diferencial, era inviável. O custo de produção ficava sempre acima do preço de mercado. “A cafeicultura está muito difícil para sobreviver, e os nossos custos aqui como são todos manuais, começaram a aumentar. Então, procuramos uma alternativa para continuar com a cafeicultura. Começamos a descascar o café, fazer cursos e a unir os produtores para promover uma melhoria na qualidade. Foi então que começamos a ganhar os concursos, e perceber que existe uma qualidade muito boa na região”, comentou o produtor Francisco Dias Pereira.
“Aproximadamente de 60% a 70% do nosso custo é com mão-de-obra. Então, não temos condições de competir com uma região mecanizada. O custo de produção de saca de café nossa está ficando em torno de R$ 320 a R$ 330. Por isso temos que correr atrás de um diferencial que seria a qualidade do café, agregando valor, para vender a um preço diferenciado”, disse Junqueira.
Para conseguir explorar os benefícios de se produzir café numa altitude entre 900 e 1400 metros e com plantas super adensadas, a variedade teve que ser escolhida com critério. Na região, o cultivo é feito com Bourbon amarelo e vermelho ou Catuaí. São plantas menores e que têm uma produção precoce. Com isso, facilita a mão-de-obra e o grão é retirado na hora certa. Todo o manejo deve seguir as orientações dos engenheiros agrônomos.
“O Bourbon é utilizado no plantio por causa da precocidade. Ele é um café mais arejado. Então isso faz com que tome mais sol, e realce a bebida”, disse o técnico agropecuário, Sebastião Márcio Nogueira.
Outro diferencial é que os cafeicultores fazem uma pré-colheita. Em média 25% dos grãos maduros são selecionados. Apenas os cerejas maduros vão para o terreiro. No restante das lavouras, a colheita começa quando os pés atingem de 10% a 15% dos frutos verdes na planta. O café é descascado. Mas é na hora da secagem que os cuidados são ainda maiores. São 16 dias de sol. No primeiro momento é necessário deixar uma camada fina de grãos no chão. A umidade externa deve acabar rapidamente, e da polpa para dentro, os grãos devem absorver toda a água. Isso é o que leva o açúcar para o café. Em caso de chuva, é levado para o secador quando atinge 20% de umidade. As sacas devem sair da fazenda com 11% de umidade.
Então, é hora do rebeneficiamento que é realizado pela Cocarive (Cooperativa Regional dos Cafeicultores do Vale do Rio Verde). Os grãos imperfeitos são separados, e toda impureza é deixada de fora, pois o objetivo é diminuir os defeitos. Depois, o café é provado e qualificado. Os lotes são separados e levam todas as informações do cultivo rastreado. Dessa forma, os provadores podem saber desde o talhão que saiu aquele café e tudo sobre o beneficiamento, como acontece em toda propriedade certificada.
Foi seguindo essas regras, que seu Francisco bateu o recorde no Cup of Excellence de 2006. Ele recebeu US$ 6,58 mil por saca. Na época, cerca de R$ 14 mil. “Eu acho que a nossa região é privilegiada. E o café é centenário no município”, comentou Francisco.
As características da região ajudam e muito na qualidade da bebida. Mas é o empreendedorismo do cafeicultor de Carmo de Minas que está sendo fundamental para o sucesso dos cafés, que estão sendo reconhecidos mundialmente.
Com toda a repercussão dessa bebida valiosa, a rota do café está sendo desenvolvida nas terras do Seu Francisco. A idéia é receber os turistas que visitam São Lourenço e os provadores estrangeiros. Curiosos em saber de onde sai o sabor que está encantando tanta gente no mundo. “Achamos que com isso, podemos conseguir agregar valor. Ter um mercado melhor. E estamos investindo muito também para tentar exportar direto”, comentou Francisco.
“O forte é o marketing que estamos ganhando. E cada vez mais o nosso café está sendo conhecido no exterior”, finalizou Junqueira.
As informações partem do Café com TV, adaptadas pelo Café e Mercado.