Carlos Lessa: O exemplo do café
Modelo proposto por Barack Obama deve ser copiado pelos brasileiros
Professor e economista
Rio – O café sempre foi uma economia nacional. O complexo cafeeiro era nacional, o fazendeiro de café era um empresário nacional. Administrar uma fazenda de café não era uma operação singela.
O transporte era feito por um sistema ferroviário nacional. Das três companhias paulistas, duas eram privadas e uma pública. Apenas uma empresa estrangeira tinha concessão, entre Jundiaí e Santos. Mas o Porto de Santos também era nacional.
A Companhia Docas de Santos foi incorporada por um francês e por um inglês, ambos residentes e com raízes no Brasil, a família Guinle e a família Gaffrée, que deram origem à Companhia Docas de Santos, depois ao Banco Boavista que posteriormente foi comprado pelo Bradesco.
O Banco Cafeeiro era nacional, o exportador de café era nacional, a tecnologia do café era desenvolvida pelo Instituto Agronômico de Campinas, que selecionava as novas variedades e as sementes. O complexo produtivo era nacional.
Hoje, no complexo de soja, a fazenda, provavelmente, é brasileira e o dono do caminhão, também; e é só. Acabou a presença brasileira: todos os fertilizantes são de um monopólio criado com a privatização de Fernando Henrique Cardoso, tudo nitrogenado e fosfatado.
Todos os equipamentos são fabricados por filiais estrangeiras; as sementes são da Monsanto; nenhum dos três maiores exportadores é nacional; e não sei se o banco é nacional. Então, o complexo de soja não é nacional.
Tal como Barack Obama, ao priorizar a indústria norte-americana no programa “Buy América” (compre na América), eu quero fortalecer a indústria brasileira num “Buy Brazil”. Nós copiamos tanta coisa do Primeiro Mundo, por que não copiar o que eu é bom?!