Campo vive um período de otimismo

Previsão de receitas de R$ 175 bilhões supera os patamares históricos alcançados em 2008

17 de dezembro de 2010 | Sem comentários Análise de Mercado Mercado
Por: Valor Econômico

ESPECIAL
17/12/2010 
  

 
Fernando Lopes | De São Paulo


Demanda firme e preços em geral remuneradores nos mercados doméstico e internacional deverão garantir resultados positivos ao agronegócio brasileiro em 2011. Entre representantes do setor, o otimismo é grande sobretudo quanto ao desempenho no primeiro semestre, quando será colhida uma safra de grãos que tende a render margens melhores e dar fôlego novo a economias regionais importantes, com reflexos positivos em outras cadeias produtivas.


Ao mesmo tempo, as transformações que ganharam força no campo nos últimos anos deverão se aprofundar. Inexoráveis, os movimentos de profissionalização e concentração deverão recrudescer em segmentos tão distintos quanto o sucroalcooleiro e o de carnes, e questões relacionadas à governança dos players do setor ganharão ainda mais importância, enquanto a preocupação quanto à responsabilidade socioambiental nas diversas atividades também será maior.


Na pior das hipóteses, apontam as projeções, o agronegócio tem pela frente um ano de manutenção de seu ritmo de crescimento. No melhor cenário, 2011 pode sedimentar as bases para que o país confirme, ao longo da próxima década, um potencial de crescimento na produção e nas exportações de alimentos e biocombustíveis que já colabora para o fortalecimento geopolítico do país no tabuleiro internacional.


Não é para menos. Se em 2011 o Brasil de fato colher 148,8 milhões de toneladas de grãos, como prevê a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o crescimento em relação a 2001 será de 48,4%. No caso da soja, o carro-chefe do agronegócio nacional, o salto na mesma comparação poderá chegar a quase 80%, desde que a próxima colheita não sinta substancialmente os efeitos do fenômeno climático La Niña.


No caso da cana, matéria-prima para açúcar e etanol que puxa a produção de culturas perenes no Brasil, a colheita passará de 293 milhões de toneladas, em 2001, para até 650 milhões no próximo ano, também a depender do clima. A bienalidade que reserva ao café uma safra cheia e outra menor estará no polo negativo, mas os preços estão elevados, enquanto para a laranja, dependerá das cotações do suco, que hoje também estão em elevado patamar.


A partir dessas e outras projeções, o Ministério da Agricultura projeta o valor bruto da produção das 20 principais lavouras do país em R$ 185 bilhões em 2011, um novo recorde histórico, quase R$ 7 bilhões acima da marca alcançada em 2008, quando commodities como soja, milho e trigo atingiram patamares nunca antes vistos. A trinca voltou a subir fortemente em julho passado, alimentando negociações de vendas antecipadas e a expectativa de bons negócios na colheita.


Conforme Fabio Silveira, economista da RC Consultores, a soja, por exemplo, segue sob forte pressão altista, também \”advinda da intensificação de movimentos especulativos\” em tempos de ações financeiras globais que mantêm o dólar fraco. Mas Silveira espera \”algum declínio\” dos preços da oleaginosa ao longo do ano que vem, o que corrobora a visão de que o primeiro semestre poderá ser melhor que o segundo, quando estará sendo comercializada uma nova safra do Hemisfério Norte.


\”O setor vive um bom momento. O mundo tem que aumentar a produção de alimentos, e esse aumento será no Brasil\”, afirma Mário Barbosa, presidente da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) e da Vale Fertilizantes, maior fabricante de matérias-primas para a produção de adubos do país.


Após o reaquecimento da demanda pelo insumo para o plantio da safra atual desde setembro, Barbosa espera que o consumo siga firme em 2011. Projeções indicam que até 2050 a população mundial será de 9 bilhões de pessoas, e que a demanda por alimentos aumentará 70% com essa expansão.


Nesse contexto, vale realçar que o fortalecimento do mercado doméstico continua incentivando uma nova dinâmica no agronegócio. Seja com o fortalecimento de agroindústrias no Nordeste, seja pelas compras crescentes de produtos de alto valor, como a carne bovina. Com preços e demanda em ascensão, contudo, os reflexos sobre os índices inflacionários têm sido inevitáveis – e vão perdurar nos próximos meses.


O governo federal sabe disso, e prepara novas medidas relacionadas a estoques e preços para tentar evitar disparadas generalizadas. Na última década intervenções como essas voltaram a aumentar, como também aumentaram as opções de linhas de financiamento com juros subsidiados, a participação do BNDES como fomentador de atividades no campo e o montante de crédito rural com juros subsidiados concedido às agriculturas empresarial e familiar. Neste ciclo 2010/11, o valor de crédito rural à disposição alcança R$ 100 bilhões, outro recorde histórico.


Mas, como ressalva Alexandre Mendonça de Barros, do braço agrícola da MB Associados, ainda é preciso avançar muito na integração das distintas políticas que orientam o campo, inclusive ambientais, para que o Brasil possa voltar a elevar sua área plantada total e consiga, assim, atender as expectativas globais em torno das exportações de alimentos do país. \”O governo ainda carece de um entendimento melhor da agricultura\”, diz Cesário Ramalho, presidente da Sociedade Rural Brasil (SRB). À presidente eleita Dilma Rousseff, Ramalho alertou que não é mais possível o Brasil continuar com políticas diferentes para pequenos, médios e grandes produtores.


Os desafios ambientais para o avanço do agronegócio também são grandes. Prova disso são as discussões em torno do novo Código Florestal e as exigências cada vez maiores dos consumidores de alimentos, que movem os esforços do governo e da iniciativa privada pela adoção de boas práticas ambientais.


O Ministério da Agricultura pretende incentivar a continuidade dos investimentos estrangeiros no agronegócio brasileiro, apesar das discussões em Brasília para impor limites às compras de terras.


Ao mesmo tempo em que quer atrair aportes estrangeiros, o ministério visa acelerar a abertura de mercados para os produtos brasileiros e, assim, manter o setor como o principal produtor de superávit comercial do país. De janeiro a novembro, as exportações do agronegócio renderam US$ 70,4 bilhões, 17,7% mais que em igual intervalo de 2009, e o saldo positivo da balança setorial atingiu US$ 58,3 bilhões, quase 15% maior. Puxados por soja, carnes e açúcar e etanol, os embarques deverão totalizar o recorde de US$ 75 bilhões em todo o ano de 2010.

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