Campo colhe em 2005 pior resultado dos últimos anos

Renda e PIB deverão cair no ano, e exportações perdem fôlego

3 de novembro de 2005 | Sem comentários Análise de Mercado Mercado
Por: Valor Economico por Fernando Lopes De São Paulo






Com o plantio das culturas de verão da safra 2005/06 já iniciado em várias regiões do país, mas ainda à espera de eventuais desdobramentos da crise sanitária deflagrada pelo ressurgimento da febre aftosa no rebanho bovino do Mato Grosso do Sul, o setor dos agronegócios faz as contas para tentar recuperar, em 2006, pelo menos parte das perdas que serão contabilizadas neste ano.

Nas lavouras, a situação de 2005 já está praticamente definida. E, em virtude da crise de liquidez dos grãos, a perda de receita “da porteira para dentro” será da ordem de R$ 12 bilhões. Cálculos de José Garcia Gasques, coordenador de planejamento estratégico do Ministério da Agricultura, apontam renda agrícola das 20 principais culturas de R$ 96,7 bilhões neste ano, ante R$ 108,5 bilhões no ano passado e o recorde de R$ 113,4 bilhões em 2003.

Para a soja, carro-chefe do agronegócio brasileiro, as contas são mais ingratas. Para 2005, Gasques prevê renda de R$ 25,7 bilhões, 21,7% menos que em 2004 (R$ 32,8 bilhões) e 28% abaixo de 2003 (R$ 35,7 bilhões). Especialistas lembram que o grão, além de ter encarado alta de custos no plantio de 2004/05 e câmbio adverso às vendas após a colheita, também amargou a estiagem no Sul. Principalmente em razão do clima, a produção nacional, inicialmente prevista pela Conab em mais de 60 milhões de toneladas, fechou a temporada em 51 milhões, ainda acima das 49,8 milhões de 2003/04.

No total, a safra brasileira de grãos alcançou 113,5 milhões de toneladas em 2004/05 [volume que deve ser ajustado pela Conab em novo relatório que será divulgado hoje], ante as 129,9 milhões projetadas pelo órgão em outubro de 2004 e as 119,1 milhões de 2003/04. Também o milho, por conta do clima, teve a colheita reduzida das 42,9 milhões de toneladas previstas no início para 35 milhões. “Muitos segmentos levaram prejuízo para casa e terão de digeri-los em 2006, tendo em vista o horizonte de crescimento econômico no mundo e no Brasil e o decorrente aumento da demanda por alimentos”, diz Fabio Silveira, da MSConsult. Em suas contas, a receita das principais culturas do país alcançará R$ 112,3 bilhões em 2006, ante R$ 107,3 bilhões neste ano.

A crise da soja, que além do câmbio enfrentou preços internacionais menos atraentes na comercialização da colheita deste ano, deixará seqüelas sobre as exportações. Conforme última projeção da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), os embarques dos agronegócios somarão US$ 43 bilhões em 2005. Mas, conforme Getúlio Pernambuco, chefe do Departamento Econômico da CNA, o número ainda deve sofrer revisões. Pelo critério do Ministério da Agricultura, nos últimos doze meses até setembro as exportações alcançaram US$ 41,6 bilhões, e este já é um bom termômetro do que pode ocorrer em 2005.

Em 2004, os embarques do agronegócios totalizaram US$ 39 bilhões e o superávit da balança do campo ficou em US$ 34,1 bilhões. Em relação a 2003, os aumentos foram de 27,3% e 32,1%, respectivamente. Mesmo se chegar a US$ 43 bilhões e deixar saldo de 38 bilhões (também segundo a última previsão da CNA) em 2005, os incrementos em relação ao ano passado serão menores: 10,3% e 11,4%, respectivamente. “E temos que lembrar que cana, citros e café, além de madeira e carnes, viveram bons momentos em 2005″, observa José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados.

Enquanto os embarques de soja renderam 17,3% menos no período de 12 meses até setembro passado (para US$ 8,7 bilhões), as vendas externas do complexo carnes aumentaram 33,5% (para US$ 7,6 bilhões) e as de açúcar e álcool, 49,8% (para US$ 4,4 bilhões). Em outubro o Ministério do Desenvolvimento acusou alta nas vendas de soja em grão, mas queda nos embarques de carne bovina sobre setembro em função das barreiras erguidas por países importadores derivadas da aftosa. Para o ano, o governo espera que as vendas do produto somem US$ 2,3 bilhões, ante a meta inicial de US$ 2,6 bilhões. Segundo Ivan Ramalho, secretário-executivo do ministério, as exportações de frangos, suínos e bovinos devem chegar a US$ 8 bilhões, ante US$ 6,1 bilhões em 2004.

A queda de renda e a perda de fôlego das exportações terão efeitos sobre o PIB dos agronegócios em 2005. Em seu último levantamento, a CNA estimou PIB total de R$ 527,84 bilhões, 1,15% menos que no ano passado (R$ 533,98 bilhões), mas o tombo, o primeiro desde 1997, poderá ser maior. “Os reflexos da queda de renda, que nos nossos cálculos chegará a R$ 16 bilhões, deverá levar a uma baixa de R$ 57 bilhões no PIB nacional este ano”, diz Pernambuco.

Do ponto de vista das contas nacionais, as perdas apontadas deixam, por outro lado, efeitos positivos sobre a inflação, já que o aumento do custo dos alimentos ao consumidor tem sido limitado. No campo, índice de preços recebidos (IPR) pelos produtores agropecuários paulistas, pesquisado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA) – ligado à Secretaria de Agricultura do Estado – registrou variação positiva de 2,49% de janeiro a outubro, ante altas de 0,81% do IGP-M e de 3,89% do IPC-Fipe (estimativa do IEA). (Colaborou Janaína Vilella, do Rio)
 

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