2.10.2015
Por Alda do Amaral Rocha | De São Paulo
Um estudo do Itaú BBA mostra que a desvalorização do real em relação dólar tende a elevar a margem operacional dos produtores de café. Isso, apesar de a depreciação da moeda brasileira ter reflexo baixista nas cotações internacionais da commodity e de o dólar mais caro aumentar o custo de alguns insumos utilizados na cultura.
Realizado por Antonio Carlos Ortiz, diretor do Itaú BBA, o estudo avaliou a “transmissão” das variações na taxa de câmbio para os custos dos fertilizantes e defensivos e para os preços do café nos últimos 10 anos.
A conclusão foi que o ganho nos preços do café em real no período analisado derivado da desvalorização foi de 6,2% a cada 10% de depreciação da moeda brasileira. Além da taxa de câmbio no período, foram consideradas a relação estoque/consumo global de café e a bienalidade da produção brasileira. “Parte da desvalorização do real derruba os preços internacionais do café, mas a maior parte incrementa o preço local com um valor maior em reais”, explica Ortiz.
Em relação ao impacto do câmbio sobre os insumos com custos dolarizados, o estudo concluiu que, no período em questão, a transmissão da desvalorização do real para os fertilizantes foi de 6,5% a cada 10% de depreciação da moeda brasileira e de 7% no caso dos defensivos.
O diretor do Itaú BBA ressalta que o estudo é “apenas uma ferramenta analítica, baseada em relações estatísticas históricas, que dificilmente se aplicam pontualmente pois há uma série de outras forças que atuam simultaneamente sobre preços”. O ritmo de comercialização, o volume dos estoques de café, por exemplo, são fatores que influenciam o quadro real.
Um exercício hipotético feito pelo banco – “considerando que os demais custos de produção e administração permaneçam constantes e que as relações históricas apuradas sejam verdadeiras” – indica que a recente depreciação do real de 20% acumulada desde o fim de julho até 24 de setembro tende a impulsionar em 36% o Ebitda do cafeicultor para a safra a ser colhida em 2016 em relação ao inicialmente esperado.
A desvalorização acumulada de 20% geraria uma receita adicional de R$ 1.540,80 por hectare de café e um custo com fertilizantes maior em R$ 349,08 e em R$ 99,64 com defensivos. Assim, o Ebitda inicialmente previsto de R$ 3.002,44 por hectare passaria a R$ 4.094,53, conforme o cálculo do banco.
Segundo Ortiz, a análise mostra que “a desvalorização, para setores que têm sua formação de preços fora do Brasil, gera um grande benefício na competitividade dos produtores”. Ele observa, porém, que o benefício “é a nível operacional”. Assim, para os produtores que têm dívidas em dólares, há impacto no custo financeiro. E o efeito é ainda maior para os cafeicultores mais alavancados e com grande parte dos vencimentos da dívida no curto prazo, conforme Ortiz.
O executivo acrescenta que para diminuir o efeito do câmbio na dívida, o recomendável é manter o endividamento em no máximo 4 vezes a geração de caixa operacional e em no máximo 120% da receita anual. Outra recomendação é que aproximadamente 40% da dívida vença no longo prazo.
Um outro fator que pode colocar o produtor “na contramão” desse cenário favorável às margens operacionais, segundo ele, é o eventual descasamento entre as entradas (receitas) e saídas (despesas) por moeda.
Fonte Internet: Valor Econômico, 02/10/15