Câmbio e preços baixos ameaçam a agropecuária(08/11/2009)

9 de novembro de 2009 | Sem comentários Análise de Mercado Mercado
Por: DIÁRIO CATARINENSE - SC

09/11/2009  

Tradicional âncora do Brasil, a agropecuária vê no câmbio o grande obstáculo para a sua rentabilidade no ano que vem. Essa queda na receita sinaliza um cenário difícil para os segmentos de frango, suíno, grãos e frutas de Santa Catarina, que obtêm nas exportações a maior parte do seu faturamento. O vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Faesc), Enori Barbieri (foto), sempre atento aos movimentos e preços nacionais e internacionais das commodities agrícolas, diz que a situação atual e a que se desenha para 2010 é pior do que a registrada logo após a crise global. O setor enfrentou falta de crédito para exportação no início da crise, mas, logo após, pôde continuar vendendo lá fora porque os preços continuaram favoráveis. Atualmente, além da queda média de 36% nos preços agrícolas mundiais, há a desvalorização de 30% do real frente ao dólar. Para Barbieri, o governo federal poderia fazer mais pelo setor. O cenário é bom para o consumidor, que não precisará se preocupar com inflação de alimentos no ano que vem.



O impacto da crise está pior agora para a agropecuária?



Enori Barbieri – No ano passado, quando a crise ficou mais grave, a agropecuária não foi afetada logo. Enfrentou falta de crédito para exportar, mas os preços internacionais continuaram bons e o Brasil pôde exportar bem até meados deste ano. De lá para cá, os preços dos alimentos caíram e estão, em média, 36% mais baixos. Os preços das carnes caíram 30%, e o real sofreu uma valorização de 30%. O que tem de diferente, agora, é que coincidiu, dólar baixo no Brasil e preços baixos lá fora. Como produzimos 140% do que consumimos no país, não há como não exportar. Isso nos mostra que teremos um ano muito difícil para comercialização e de renda em 2010.



Há maior disputa por espaço no mercado interno?



Enori – As empresas do setor estão numa guerra muito grande pelo mercado interno porque, afinal, o Brasil superou a crise de uma forma até branda. Por isso, também, o país está atraindo mais capital especulativo, o que vem fazendo o real se valorizar. Mas como a produção é alta, nem tudo cabe no Brasil. SC precisa exportar a qualquer custo e, por isso, a maioria das agroindústrias está no vermelho. No caso de aves, o Estado produz 3 milhões de toneladas, e quase 2 milhões são exportadas. Quando a Marfrig comprou a Seara, o que ela fez? Se associou ao Atacado Martins para vender os produtos Seara de porta em porta. Essa compra da Seara não foi boa para SC porque a produção que ia para fora vai brigar pelo mercado interno.



E o cenário para grãos?



Enori – Teremos acréscimo de produção ao mesmo tempo em que há uma oferta maior de produtos no mundo e preços baixos. O feijão, no Brasil, que nos últimos anos esteve escasso, terá acréscimo de 5% de área. A soja terá uma expansão de 10%, e o milho, vamos encerrar o ano com um estoque de 11 milhões de toneladas. Diante disso, o agricultor deverá ser cauteloso ao decidir quanto vai plantar agora.



Em que produtos o agricultor pode esperar melhor renda?



Enori – O único produto alimentar com equilíbrio entre a oferta e a procura é o arroz, que conta com importante produção em SC. Há uma redução de 2% da área plantada no país e os preços são favoráveis. Outra cultura que tem 60 mil produtores do Estado é o fumo. O produto é a grande vedete do ano porque há falta no mercado mundial e no país. Mas os produtores cometeram um erro. Incentivados pelas empresas, aumentaram em 15% a área plantada, que pode afetar os preços.



O que o governo poderia fazer para ajudar?



Enori – Uma das medidas seria fazer estoques reguladores pagando o preço mínimo dos produtos, mas isso não está acontecendo. Como é um ano eleitoral, o governo vai querer manter o câmbio baixo para evitar pressões inflacionárias e também, se puder, vai garantir altos estoques de alimentos. Uma prova disso é que o governo não tem poupado esforços para liberar dinheiro para o plantio. Existe crédito para qualquer produtor em bancos públicos, privados, cooperativas…Sempre faltou dinheiro, mas para esta safra de 2009-2010 é exceção. Não vi nenhuma pessoa reclamar por falta de crédito para o plantio. Mas não há recursos para a compra de alimentos. O preço mínimo do trigo é R$ 30, mas o mercado está pagando R$ 23 e o governo não está comprando.



Que outras medidas podem ser adotadas?



Enori – Para salvar a renda da agricultura, só o câmbio. O governo deveria fazer mais para reter por um maior período os dólares que entram no Brasil. Os 2% de alíquota de IOF são pouco. O setor teria que ter, também, desoneração tributária e financiamentos mais baratos para exportação.



Se está difícil para o produtor, está bom para o consumidor…



Enori – O quadro é tranquilo para o consumidor. Com oferta elevada de alimentos, não haverá pressão inflacionária, a não ser alguns produtos do mercado interno com ciclo curto, como é o caso da cebola, atualmente. O mesmo pode ocorrer com hortaliças.



O agricultor de Santa Catarina está endividado?



Enori – A grande maioria é pequeno produtor, e esses praticamente não têm dívidas. As que têm, são abonadas pelo governo mais cedo ou mais tarde. A agricultura comercial do Estado, felizmente, é a menos endividada do Brasil porque tem propriedades consolidadas e os agricultores usam mais tecnologia.



Enori Barbieri: teremos um ano difícil para comercialização e renda em 2010


 



Tendências opostas


Enquanto as projeções da CONAB para a próxima safra no Brasil indicam aumento de 0,4% da área plantada dos principais grãos, em Santa Catarina há tendência de redução de 3,2%, apurou o analista do Instituto Cepa, do Estado, Julio Rodigheri.



No caso do milho, a produção nacional deverá recuar 5,4% e a catarinense terá queda de 11%. Para a soja, as estimativas indicam que, no Estado, haverá aumento de 10% e, no país, de 2,6%.


 



Safra dos EUA


O mercado mundial conta com boa oferta de grãos. Os EUA tiveram uma das maiores safras de soja e milho. Colheram 88 milhões de toneladas de soja, 8 milhões a mais do que na anterior, e 320 milhões de toneladas de milho. Além disso, o país está diminuindo o consumo de milho para etanol porque caiu o preço do petróleo. A demanda só seria elevada para etanol se o preço do petróleo ficasse numa média de US$ 80 por barril.


 



Avanço do leite


O leite avança em Santa Catarina porque é um tipo de produção que atente as necessidades e potencialidades da agricultura familiar. Ele ocupa mão de obra e garante renda mensal. Das 200 mil propriedades agrícolas do Estado, 75 mil produzem leite.



Na avaliação do vice-presidente da Faesc, Enori Barbieri, a evolução da agricultura familiar no Estado vai depender do seu aprimoramento, com oferta de produtos de maior valor agregado e boa comercialização. O leite é um dos produtos que permitem renda maior.

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