Domingo, 18 de Junho de 2006, 00h01
Por BIANCA MELO E FREDERICO DAMATO
Depois que o município de Luz (Centro-Oeste de Minas) decretou estado de calamidade pública reclamando de prejuízos com a crise do agronegócio, as atenções se voltaram para as cidades dependentes do campo.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas (Faemg), Roberto Simões, não descarta a hipótese de ocorrer o mesmo com outros municípios. “Possibilidade existem sim porque as reclamações são muitas, mas esta é uma decisão muito municipal”, diz.
Em Alpinópolis, no Sul de Minas, por pouco o prefeito Édson Luiz Resende Reis não decretou calamidade pública. “Ia decretar em fevereiro, mas meus advogados me aconselharam a esperar”, afirma.
Na cidade, mais de 70% da arrecadação com Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) vem do agronegócio.
Reis explica que, além das baixas registradas pelos produtores rurais, uma interdição da Justiça sobre a extração de pedras no município deixou 3.000 desempregados em novembro do ano passado.
“O pessoal vinha em meu gabinete pedir tudo e não tínhamos como fazer nada porque não há outra alternativa de renda”, afirma. Do R$ 1,164 milhão recolhido em 2005 com ICMS da atividade agrícola, R$ 901 mil vieram da preparação e fabricação do leite.
O início da colheita de café amenizou um pouco o problema dos produtores, mas o prefeito calcula que pelo menos dez comerciantes já tenham fechado as portas. Já em Perdizes, no Centro-Oeste mineiro, 63% da arrecadação do Imposto sobre ICMS vem da agricultura.
“Ainda não chegamos a tanto (decretar calamidade pública), mas estamos caminhando para isto”, afirma o secretário de Agricultura e Meio Ambiente, Ronan Afonso Borges. Na definição de Borges, a cidade está parada à espera de dias melhores.
“O comércio é muito dependente da agricultura e vive um período de paradeiro na cidade”, define. A indústria Letícia, antiga beneficiadora de leite na região, fechou as portas no início do ano, piorando a situação dos mais de cem produtores que entregavam leite na empresa.
“A maioria dos fornecedores eram pequenos produtores”, revela. Os dirigentes dos municípios dependentes do agronegócio querem o mesmo exigido pelas entidades de produtores em todo o país: um novo pacote agrícola do governo Federal.
Pacote
No pacote de medidas para o setor, divulgado no final de maio pelo Ministério da Agricultura, o governo se compromete a transferir para o agronegócio R$ 60 bilhões em créditos para custeio e investimento. Renegociações de dívidas antigas também foram contempladas, mas os beneficiados criticaram os prazos.
E setores que ficaram de fora, como os pecuaristas e os produtores de café, reclamaram de desprestígio. “Quem está na cidade não tem noção da vida no campo e acha que estamos muito bem e que todo fazendeiro é rico. Na verdade estamos trabalhando sem retorno”, declara Borges.
A cidade tem plantações de milho, café, soja e hortifrutigranjeiros, mas é a extração de madeira bruta que apresentou o maior salto de 2000 para 2005, segundo dados de arrecadação de ICMS. Em cinco anos, a arrecadação passou de R$ 18,459 mil para R$ 451,534 mil, um crescimento de 2.346%.
Demissões e redução de contratações já ocorrem em função da crise. O grupo cafeeiro Sertão, de Carmo de Minas, Sul do Estado, acredita que neste ano não abrirá o número de vagas constumeiro por safra, que chega perto de 700.
No Norte de Minas, Evandro Diniz, produtor de manga, banana e coco em Jaíba não sabe o que plantar mais. “Não é hora de decidir o que plantar porque nada está dando lucro”, diz. Há menos de três meses, ele reduziu o número de funcionários de 24 para 19.