01/06/15
Tendo ainda que cumprir uma “curva de entrada” no mercado de financiamentos ao agronegócio estipulada pelo Banco Central até 2016/17 – que restringe sua atuação na área, mas lhe garante crescimento nas contratações de crédito rural a partir de julho -, a Caixa pretende ofertar R$ 10 bilhões de recursos controlados (a juros menores do que os praticados no mercado) na próxima temporada (2015/16), que começará oficialmente no próximo mês.
No atual ciclo, já foram contratados 77% de um montante total de R$ 6 bilhões que a Caixa reservou para liberar no ciclo 2014/15 (de julho do ano passado a junho próximo). O banco opera apenas há duas safras com crédito rural.
Os R$ 10 bilhões previstos para 2015/16, portanto, representam uma aumento de R$ 4 bilhões em relação a 2014/15 e farão parte do próximo Plano Safra, a ser anunciado amanhã pela presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto.
A que taxas de juros o banco e todo o mercado irão operar na próxima safra agropecuária ainda é um mistério, guardado a sete chaves pelas equipes de governo da Fazenda e da Agricultura – embora já se cogite patamares em torno de 8,75% e 9% ao ano para as linhas de custeio e comercialização.
O vice-presidente de Negócios Emergentes da Caixa, Fábio Lenza, afirma, porém, que mesmo assim esses recursos serão garantidos predominantemente com depósitos à vista da instituição a juros controlados e também com uma parcela menor de recursos de programas de crédito rural do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
“Houve esgotamento de recursos em alguns bancos neste semestre, mas como ainda estamos entrando nesse mercado não temos insuficiência de depósitos à vista”, disse Lenza ao Valor. Esse cenário exclui o banco de concorrer diretamente com o Banco do Brasil, que lidera esse nicho de financiamentos, com cerca de 70% de participação – a Caixa detém 1,9% do mercado.
“Estamos esperando uma elevação de 2 a 2,5 pontos percentuais das taxas de juros do Plano Safra. Isso corrige nossa margem [de lucro], mas teremos R$ 10 bilhões de recursos controlados para ofertar”, concluiu, admitindo que a demanda total por crédito rural no país pode até continuar crescendo no próximo ciclo, mas em um ritmo menor.
Ele ponderou que a partir da Safra 2017/18, quando já tiver atingido o teto máximo de 34% de exigibilidade para depósitos à vista permitido pelo BC, a tendência da Caixa é se aproximar das mesmas condições do mercado em geral, que opera com mais recursos controlados, do BNDES e com recursos próprios a juros livres. Hoje a instituição só pode destinar 19% de exigibilidade.
Com essa “segurança” que o faz depender menos dos depósitos à vista, o banco decidiu operar um novo programa de linhas de financiamento: o PCA, voltado à construção de armazéns para estocar produção agrícola, que conta com uma dotação de R$ 5 bilhões por ano desde a safra 2013/14. A Caixa ainda não levantou, no entanto, qual deverá ser a demanda total para esses financiamentos.
Fábio Lenza também destacou que o crescimento dos financiamentos para a pecuária, num ritmo maior que para a agricultura deve se acentuar.