Com diferentes formas de servir a bebida, cafeterias ganham cada vez mais clientes em busca de um momento de relaxamento e movimentam R$ 70 milhões por mês
Por Graziela Reis O aroma de café se espalha por um ambiente aconchegante. Quente ou gelada, a bebida vem em taças finas e em xícaras sofisticadas, bem diferentes daquelas em que o cafezinho ainda costuma ser servido nos tradicionais centros comerciais. Os clientes têm tempo para apreciar o sabor. Não se parece, em quase nada, com aquele momento antigo em que o freguês pedia um cafezinho e tomavam a xícara com rapidez, em pé, com a barriga encostada em um balcão. O novo cenário é de uma cafeteria moderna, inspirada nos cafés europeus, mas com jeito brasileiro, que ganhou espaço, como negócio, nas principais cidades do país.
A estimativa é de que já existem no Brasil cerca de 2,5 mil casas de café, movimentando um mercado superior aos R$ 70 milhões por mês, ou R$ 840 milhões por ano, e empregando 30 mil funcionários. A expansão foi de, pelo menos, 100%, nos últimos seis anos. O faturamento mensal de uma cafeteria varia de R$ 25 mil a R$ 100 mil. Em 2005, só a venda de máquinas de café expresso cresceu entre 15% e 20%. E não deve parar por aí. O mercado é tão atrativo que a Starbucks, maior rede de cafeterias do mundo, que faturou, no ano passado, mais de US$ 6 bilhões, deve, finalmente, abrir sua primeira unidade brasileira antes do início do segundo semestre, no Rio de Janeiro.
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Em seguida, de acordo com fontes do mercado, deve partir para São Paulo. Depois de consolidar seus negócios nas duas cidades é que a Starbucks vai buscar os outros estados. No país, os parceiros da gigante americana são os sócios dos restaurantes Outback Steakhouse, que já contam com 12 lojas no eixo Rio-São Paulo, além de Brasília e Porto Alegre, e ensaiam a entrada no mercado mineiro ainda este ano, começando com a casa de carnes feitas à moda australiana.
Enquanto a Starbucks não chega, o mercado de cafeterias ferve, como a bebida servida na forma convencional, no Brasil e também em Minas Gerais. “A vinda da Starbucks mostra que o mercado brasileiro está maduro e que tem espaço para crescer”, observa o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Nathan Herszkowicz. “O brasileiro está descobrindo o prazer de beber um café de qualidade em um local agradável”, reforça.
Em Belo Horizonte, onde não existiam mais do que três casas especializadas no início da década de 90, hoje há mais de 30 cafeterias, dentro do novo padrão. Segundo o proprietário do Café Kahlua, Ruimar de Oliveira Júnior, o Rui, que já adaptou sua casa aos tempos atuais, o negócio é promissor e tende a continuar crescendo. O próprio Kahlua já avançou bastante.
A casa, que tinha apenas um balcão e três mesas em 27 metros quadrados, já tem 24 mesas distribuídas em 350 metros quadrados. Hoje, ele vende cerca de 800 xícaras de café expresso por dia. Há três anos, esse número era de 30% a 40% menor. O tempo que o cliente fica na cafeteria quadruplicou, passou dos 10 minutos para 40. “As pessoas procuram as cafeterias para relaxar”, conta Rui, lembrando que também querem novidades que vão desde o tradicional café expresso de regiões mineiras, de R$ 1,80, até o raro Blue Montain, da Jamaica, que tem a xícara vendida a R$ 16. No Centro de Belo Horizonte, há os velhos cafezinhos vendidos pela média de R$ 0,50, mas não atraem clientes exigentes, como Rodrigo de Freitas, um dos apreciadores das bebidas diferenciadas do Kahlua.
No Santa Sophia Cafés Finos, em Lourdes, os cafés também são exclusivos e artesanais. A proprietária, a arquiteta Magda Dias Leite, tratou de combinar a bebida com a decoração da casa, inaugurada há pouco mais de oito meses. Além das bebidas quentes, servidas de forma diferenciada, ela também aposta nos drinques frios. Os grãos são moídos na frente dos clientes. No California Coffee, inaugurado no Diamond Mall, há um mês, os sócios Luís Borba e Rejane Lage também oferecem bebidas exclusivas. “Nossos blends são próprios e vamos bem além do espresso, do tipo italiano”, afirma Borba. Os cafés servidos na forma americana, em copos importados, têm opções com ingredientes extras, como baunilha ou avelã, e custam de R$ 1,80 até R$ 6,90, preço de uma das bebidas geladas inovadoras. “Abrimos há pouco tempo, mas já temos clientes fiéis”, observa.
As cafeterias com um formato mais amplo, que também funcionam como restaurantes em alguns momentos, como a Ah! Bon e o Café do Museu, agora estão entrando em uma nova fase para melhor atender os apreciadores da bebida. Estão desenvolvendo cafés com suas próprias marcas. “Queremos oferecer mais um diferencial”, afirma a administradora da Ah! Bon, Ana Carolina de Andrade Silva. Ela conta que as duas unidades (Lourdes e Pátio Savassi) consomem cerca de 50 quilos de café por mês. A bebida sai bem durante o dia todo na unidade do shopping. A proprietária do Café do Museu, Carolina Moretzohn, também acredita que o café com sua marca própria, disponível a partir dos próximos dias para os clientes, vai agradar, principalmente os que freqüentam a unidade do Pátio Savassi e se rendem mais ao consumo das xícaras ferventes. “No museu, o perfil é mais de restaurante”, observa. Para ela, o negócio com cafeterias é muito interessante, além de agradável, tanto que ela já tem planos de expansão.