ECONOMIA
04/06/2010
Stephanie Clifford
THE NEW YORK TIMES
À medida que preocupações aumentam em Washington acerca do acúmulo de dados privados online, e conforme sites de grande porte como o Facebook atraem críticas por coletarem informações dos consumidores de modo clandestino, muitas empresas de base tecnológica estão buscando uma aproximação mais recíproca – dizendo, basicamente: forneça seus dados para nós e ganhe algo em retorno.
O site de orçamento Mint.com mostra ofertas de desconto de empresas a cabo ou banco para usuários que revelem seus dados pessoais financeiros, incluindo informações bancárias e de cartão de crédito.
A varejista de roupas Bluefly pode enviar ofertas de óculos escuros para clientes que divulguem ter acabado de comprar roupas de banho. E serviços baseados em localização como o Foursquare e o Gowalla pedem aos usuários que forneçam suas localizações em retorno para recompensas como descontos na compra de refrigerantes Pepsi ou de café da Starbucks.
Relação com a empresa
Estes esforços iniciais são baseados em uma mudança na relação entre o consumidor e a empresa. Influenciados pela boa vontade dos consumidores em comercializar dados online, os sites estão se empenhando para ver a quantidade de informação que as pessoas irão fornecer.
– As pessoas estão mais dispostas a revelar informações porque isso resulta em alguns benefícios que elas apreciam – conta Stephen J. Hoch, professor de marketing e diretor do Projeto de Varejo Jay H. Baker da escola de administração da Universidade da Pensilvânia.
Novas empresas, incluindo WeShop, Aprizi, Blippy e Dopplr, estão tentando utilizar os dados os quais as pessoas parecem dispostas a fornecer. Algumas até mesmo estão permitindo que os compradores estabeleçam os termos eles queiram – frete gratuito, descontos de 50%, apenas produtos com o preço de custo.
Eles também podem listar o que estão querendo comprar e deixar que os varejistas lutem pelo direito de fazer a venda.
– O debate de privacidade surgiu com o fato de pessoas usarem seus dados sem a sua permissão – conta Antony Lee, chefe executivo da WeShop. – Se você quiser usar seus dados para o seu beneAlgumas empresas já permitem que os consumidores escolham benefícios como frete gratuito Peter DaSilva/The New York Times fício, é para isso que serve.
Daniel Sjoberg, morador de Manhattan de 26 anos, inscreveuse no Mint quando estava completando sua graduação em bioestatísticas no último verão. Ele deixou que o site tirasse informações da sua conta corrente, do seu cartão de crédito e da sua conta universitária de empréstimos.
Sjoberg pretendia usar o Mint como uma ferramenta orçamental, mas logo começou a navegar pelas ofertas que o site listava sob “formas de economizar”.
Ele assinou uma conta corrente da Charles Schwab quando descobriu que ela iria reembolsar as taxas de caixa eletrônicos que tinha pago, e uma conta poupança da Ally baseada em taxas de juros.
Taxa de indicação
Patrocinadores têm autorização para incluir suas logos e o link dos seus sites, e pagam uma taxa de indicação se um cliente assinar, mas as ofertas de não patrocinadores são listadas também. Sjoberg diz que ele gostou do quão transparente o Mint pareceu ser.
– Eles botam bem claro para você ver, “Achamos que a Ally é boa para você, e a propósito, eles estão nos endossando” – conta Sjoberg. – É revigorante ser de conhecimento público quem está e quem não está oferecendo dinheiro para eles.
Aaron Patzer, que fundou a Mint em 2007 (a empresa foi adquirida pela Intuit em 2009 por US$ 170 milhões), acreditava que os usuários dariam ao site informações privadas em retorno para que a Mint analisasse suas finanças a fim de alertá-los quando eles tivessem excedido seus orçamentos, ou enviar a eles ofertas de empresas a cabo ou bancos.
– A maioria dos capitalistas de risco, quando eu estava abrindo esta empresa, disse que ninguém confiaria suas informações financeiras a uma empresa de base tecnológica – conta Patzer, agora vice-presidente e diretor geral do grupo de finanças pessoais. – Basicamente, nós exploraríamos nossos próprios dados para ajudar você.
Enquanto os dados no Mint são confidenciais – não há como compartilhar detalhes financeiros com outros usuários – a WeShop criou um sistema que permite que as pessoas espalhem informações a respeito de seus hábitos de compra. Assim que um consumidor dá à WeShop acesso a um conta de e-mail, o sistema escanea o cabeçalho do e-mail buscando receitas eletrônicas, em seguida extrai o que as pessoas compraram e o preço que elas pagaram.
Comparação de preços
Todas estas informações são postadas no site da WeShop como um tipo de história de compra detalhada. Um consumidor pode manter as informações privadas, ou compartilhar alguns ou todos os dados com outras pessoas na rede WeShop (usando um apelido). Isso permite que os usuários comparem preços e postem mensagens sobre qual Lego ou vestido que estão querendo comprar.
A WeShop em breve permitirá que varejistas acessem os dados e enviem ofertas específicas.
Um varejista como a Bluefly, que diz que planeja testar o WeShop, poderá pesquisar pessoas que compraram algo para um baile de formatura, e mandar e-mails para estes usuários com ofertas especiais de vestidos formais.
Varejistas pagam à WeShop uma porcentagem do preço da venda quando um consumidor compra um produto.
– Todo mundo está trabalhando em diferentes ângulos para oferecer ao consumidor mais formas de mirar o que eles desejam, perguntar o que eles desejam, e comprar – conta Bradford Matson, chefe de marketing da Bluefly.com. – Esta noção de como as pessoas compram está mudando rápido.
Bun Lai, chef de cozinha do Miya’s Sushi em New Haven, Connecticut, conta que gostou da forma que o WeShop concede uma certa liberdade. No início, Lai não estava muito confortável, depois entendeu que a pessoa tem controle da informação que concederá à rede.
Entretanto, o acordo prioritário não tranquiliza todas as preocupações com a privacidade.
“O grande problema é que estes modelos de negócio não são muito estáveis. Empresas exibem políticas de privacidade, consumidores divulgam dados, e aí a ação começa – conta por e-mail Marc Rotenberg, diretor executivo do grupo Electronic Privacy Information Center.
RETORNO – Aaron Patzer, que fundou a Mint em 2007, acreditava que os usuários dariam ao site informações privadas para analisar suas finanças Tradução: Maíra Mello