10/09/2009 – Dizer que os colombianos, que se gabam de dizer que produzem o café mais suave do mundo, não sabem preparar essa bebida pode soar ofensivo ou pouco crível à primeira vista.
Entretanto, apesar da boa fama do grão colombiano e o fato de o produto ter se convertido no símbolo do país, muitos estrangeiros que chegam a essa nação se encontram em dificuldades quando querem tomar um bom café na rua, nos hotéis e até nas casas de famílias.
Somente agora, pouco a pouco, é que se começam a ver as cafeterias nas cidades colombianas, onde se pode tomar um bom café de qualidade diferenciada. Nesta semana, como divulgado na terça-feira por Agnocafé, o chef francês Paul Bocuse criticou fortemente a qualidade dos cafés encontrados em hotéis da Colômbia e tais críticas foram significativamente reverberadas pelos jornais e pela internet colombiana.
Durante muitos anos a principal preocupação do setor cafeeiro colombiano foi torrar e vender o produto, sendo que somente nos últimos anos alguns padrões de qualidade passaram a ser exigidos. Bocuse, que participou de um congresso gastronômico na cidade de Popayán, a 557 quilômetros ao sul de Bogotá, não teve dúvida ao afirmar que os cafés que consumiu no país não passavam de “água suja”.
Com algumas variações, dois especialistas consultados não ficaram longe da impressão de Bocuse. Sem rodeios, Parmenio Angarita, da Escola Colombiana do Café, sustentou que “um grande percentual dos colombianos toma um café ruim e só uma certa elite tem acesso a um produto de qualidade. O café bom é caro”, disse.
Segundo Angarita, o problema é econômico, uma vez que o café bom é oneroso e também obedece a um esquema desenvolvido por muitos anos pela Colômbia, que exportava seus cafés bons e deixava os grãos de pior qualidade para serem consumidos internamente. Ainda há um outro agravante: a forma como se prepara o café. “Nunca se teve preocupação de ensinar o consumidor a preparar um bom café”, reconheceu Eva Celeita, diretora de qualidade da Procafecol (Promotora de Café da Colômbia), empresa que administra a marca Juan Valdez.
Na Colômbia existem hoje cafeterias da rede Juan Valdez em 32 capitais, no entanto, elas ainda são poucas diante de uma demanda de 45 milhões de habitantes. A Federacafe (Federação Nacional dos Cafeicultores da Colômbia), entidade que agrupa os produtores locais, impulsiona, há mais de uma década, um programa de treinamento para o preparo de café, sendo que milhares de pessoas foram capacitadas.
No entanto, muitos colombianos seguem incorrendo em práticas não recomendadas no preparo do café em suas casas e nas áreas de trabalho. Eva e Angarita dizem que não se deve preparar grandes quantidades de café para um só dia, o que obriga a esquentar o produto, fator que tira muitas de suas qualidades. “O que se recomenda é o preparo do café para o instante que se vai consumir”, disse.
Além disso, os especialistas criticam o uso de máquinas de café filtrado, que na Colômbia recebem o nome de grecas, nas quais a bebida é mantida quente por várias horas, sem, porém, o frescor e sabor originais. “Eu preparo três vezes o café na greca no escritório em que trabalho e procuro mudar o filtro a cada duas semanas”, explica Argenides Causil, que atua em uma companhia de Bogotá e que serve café para centenas de pessoas diariamente. Ela sabe que sua greca não prepara o melhor café, mas aponta que é o único maquinário disponível para efetuar o trabalho. As informações partem da Agnocafé, noticiou o Café e Mercado.