No Brasil, o café ainda ganha em popularidade do chá. Mas a bebida feita de flores, folhas, cascas ou sementes deve entrar na rotina do brasileiro pelos benefícios que traz ao corpo. Há milênios o chá é indicado para afugentar doenças. “O chá de qualquer erva medicinal deve ser indicado como parte de um tratamento e não como remédio”, afirma o médico fitoterapeuta, Rui Diniz.
“Embora exista a possibilidade de haver efeitos colaterais, os dos chás são bem menores quando comparados com o tratamento à base de remédios alopáticos. Além disso, nem todas as ervas são recomendáveis para ingestão”, afirma o médico. Mas cuidados devem ser tomados com determinadas combinações entre chás ou com medicamentos sintéticos. “Os efeitos podem ser anulados ou intensificados e trazer danos ao paciente”, alerta.
Modismos
O médico, que é coordenador do Programa Municipal de Fitoterapia, ressalta que os cuidados com a ingestão de chás devem ser intensificados por gestantes, crianças e portadores de doenças crônicas.
“Uma vez uma personagem de uma novela recomendava chá de canela com mel a uma grávida. Isso para um leigo parece algo sem problema, mas a canela pode ser um agente abortivo, além de causar aumento da pressão arterial”, explica Diniz. “O horário e as quantidades ingeridas, também devem ser comedidos.”
O fitoterapeuta alerta ainda para os intitulados “chás milagrosos”, cuja ingestão ele chama de “curédio” – mistura de remédio com a cura imediata. “Nas décadas de 70 e 80, o confrei era bom para qualquer tratamento. Com isso, muita gente desenvolveu e até morreu vítima de cirrose hepática. Hoje não é recomendado, mas o uso da erva como pomada cicatrizante é altamente eficaz.”
Complemento
O fisioterapeuta Luciano Hirata é membro da Academia de Medicina Tradicional Chinesa, de Pequim, onde se especializou em técnicas orientais de medicina. Ele aplica os conhecimentos adquiridos na área da fitoterapia como complemento ao tratamento de acupuntura. “O chá é um complemento muito importante para o tratamento da medicina chinesa. A combinação dele com outros tratamentos potencializa os efeitos que se espera alcançar, bem como ajuda na prevenção de algumas patologias”, destaca Hirata.
“Uma boa orientação quanto ao uso e, principalmente, quanto à quantidade de ingestão deve ser observada, porque o excesso pode desencadear um desequilíbrio corporal ou ainda sintomas piores daquele que se espera tratar”, enfatiza o fisioterapeuta.
Preparo é diferente para cada erva
A absorção que a pessoa terá dos princípios ativos de cada chá depende não apenas de indicação correta, mas também do plantio, da colheita, da armazenagem e do preparo da planta. “O ideal é usar a erva fresca, mas o uso do produto seco é recomendável”, explica o médico fitoterapeuta Rui Diniz. “A forma de preparo também pode influenciar na ação do princípio ativo da planta.”
De acordo com o médico, um chá pode ser preparado de três maneiras: por infusão, decocção e maceração. A primeira delas, e a mais comum, é recomendada para folhas, flores e sementes pequenas, como camomila, erva-doce e jasmim.
“O ideal é que a planta seja imersa em água quente e não fervente. Quanto mais delicada e cheirosa a planta, menor a temperatura da água para o preparo. O recomendado é que se abafe a bebida por dez minutos”, ensina Diniz.
Ele explica que a decocção (fervura), é recomendada para cascas, raízes, frutos e sementes maiores. Já a maceração é indicada para plantas que se decompõem quando fervidas. Por isso deve ser feita em água fria.
Diniz não indica o uso de água da torneira para o preparo de chás, por causa do cloro. A água mineral ou fervida é o recomendável. Também não é aconselhado no preparo da bebida o uso de utensílios de alumínio. O ideal são os de louça, vidro ou plástico. (L.B.)
Loja vende mais de 200 tipos de ervas
Maria Anunciata Polizeli é proprietária da loja Sabor e Saúde há 11 anos. No estabelecimento, recomendado pelo médico Rui Diniz como referência na venda de ervas, são comercializados mais de 200 tipos de plantas para o preparo de chás.
Entre os mais procurados estão as variações da Camellia sinensis, planta da qual são extraídas os chás verde, branco e vermelho, famosos por apresentarem agentes antioxidantes, inibidores do envelhecimento celular. Mas Maria Anunciata ressalta que a erva não é recomendada para hipertensos. Também não deve ser ingerida no período noturno, devido aos altos índices de cafeína que contém.
Ela afirma que a procura de ervas para chás com fins medicinais tem aumentado nos últimos anos, principalmente por causa de revistas femininas, que indicam chás para tratamentos de saúde e emagrecimento. “Mas tem também aquele cliente fiel, que se informa e vem comprar o produto que gosta por recomendação médica”, afirma. “Sem contar que a medicina alopática tem lentamente adotado o tratamento com ervas medicinais”, observa.
Na loja, as plantas são mantidas em potes fechados de plástico, segundo normas da Vigilância Sanitária. Todas são compradas de um laboratório específico, que fornece certificados de garantia, validade e laudos laboratoriais de secagem das plantas.
“A nossa diferença em relação a uma farmácia convencional é que aqui nós dispomos de vários livros que podem ser fontes de conhecimento para sanar alguma dúvida dos clientes, além de oferecer um chazinho quente como degustação”, destaca Maria Anunciata. Ela participa de cursos de especialização em medicina natural anualmente. A loja fica na Rua Fernando de Noronha, 481.
Chá preto previne de cáries a problemas cardíacos
De acordo com o fisioterapeuta Luciano Hirata, da Academia de Medicina Tradicional Chinesa, o chá na China é um elemento cultural e presente em todos os momentos do cotidiano chinês. Um dos mais antigos consumidos na Ásia é o chá preto, também conhecido como chá vermelho devido à coloração da bebida. “Como os chás branco e verde, o preto é extraído da mesma erva (Camellia sinensis). Entre os benefícios cientificamente comprovados estão o aumento do metabolismo, a ação diurética, a prevenção de cáries, doenças degenerativas e problemas cardíacos”, afirma Hirata. “O chá de jasmim também é muito usado na China e é associado com a fitoterapia para casos de depressão, ansiedade e doenças psicossomáticas”, enfatiza
OMS indica receita para prevenir gripe A
Segundo Luciano Hirata, um comunicado da Federação Mundial das Sociedades de Medicina Tradicional Chinesa em conjunto com a Organização Mundial de Saúde (OMS), repassou aos associados receitas caseiras que podem ajudar a aumentar a imunidade e a prevenir a gripe suína. A recomendação é cozinhar em água, por dez minutos, a ponta da cebolinha (parte branca, do tamanho de dois polegares), gengibre cru em cinco fatias e açúcar vermelho (ou mascavo). Outra opção é ferver pedaços da ponta da cebolinha com nabo e espinafre. Em ambos os casos é recomendado tomar uma xícara da mistura à noite por sete dias seguidos. De acordo com Hirata, a mistura não apresenta contraindicação.