CAFETERAI – Legado cultural, cafés viram reduto obrigatório para torcedores no Egito

1 de outubro de 2009 | Sem comentários Cafeteria Consumo
Por: 25/09/2009 08:09:27 - UOL

25/09/2009 08:09:27 – UOL
Muita fumaça e uma dose cavalar de animação. Se você é um torcedor no Egito e prefere ficar longe dos estádios, a solução é visitar um dos milhares de cafés espalhados por avenidas e ruelas do país. Tradicional retiro masculino, o ahwa, como é conhecido, assegura o divertimento dos fanáticos por futebol e é parte fundamental da esfera de aficionados na terra que sedia o Mundial Sub-20.


A experiência de acompanhar os jogos em um café pode ser comparada às reuniões em pubs britânicos nos dias de futebol. Só que no Egito, sai o pint de cerveja e entra a dose do bom e velho cafezinho, já que o consumo de bebidas alcoólicas é considerado pecado pela religião islâmica.


As opções para escolha de um café ideal são das mais variadas. Vão desde os bem simples – e muitas vezes mais sujos – até os esnobes e mais liberais. Em qualquer um deles, no entanto, é possível se deparar com uma televisão ligada no futebol e um grupo atento de torcedores egípcios de olho na partida.


Os ahwas mais humildes lembram os botecos brasileiros, mas cercados pelo ar mítico já existente no imaginário ocidental. As paredes sujas e o clima pesado dentro do ambiente vêm acompanhados de doses de café ao preço de 1,50 libra egípcia (cerca de R$ 0,50) e um bom tabuleiro de gamão para ser utilizado no intervalo dos jogos. Nestes estabelecimentos, a entrada de mulheres é praticamente proibida.


Já os cafés mais pomposos são também os mais liberais. Com assentos luxuosos e de vários tipos, os ahwas para ricos são pontos de encontro comuns para as mulheres egípcias, que torcem com a mesma intensidade dos homens. Apesar de os preços serem até 15 vezes superiores, a qualidade dos alimentos e o bom atendimento podem compensar os valores.


Mesmo com a diferença no luxo, os dois tipos de café são idênticos em relação a uma coisa: a reação dos torcedores durante as partidas. Com animação similar a dos brasileiros, os egípcios enchem o ambiente de berros em meio às tragadas de narguilé.


“É quase uma obrigação gostar de futebol nos cafés. E tudo mundo aqui é muito alegre, às vezes até demais. Mas esse clima é muito apreciado pelos egípcios”, destacou Ahmad Abdul, 45, que se orgulha de frequentar o humilde Knoz Ahwa há mais de 15 anos.


“Com certeza os dias de futebol mudam o movimento por aqui. Recebo duas vezes o número de pessoas em relação aos outros dias e isso sempre é bom para o negócio”, afirmou o dono do mesmo café, enquanto os clientes berravam ao fundo após um gol do Egito sobre Trinidad e Tobago na abertura do Mundial Sub-20.


Além do comportamento dos torcedores, outra característica assemelha os dois tipos de cafés. A admiração pelo futebol brasileiro é quase uma regra inquebrável dentro dos estabelecimentos. Tendo Ronaldinho como ídolo canarinho, os fãs iniciam longo diálogo sobre futebol com apenas um olhar de relance sobre um brasileiro. “Não importa o que digam, o Brasil sempre mandará no futebol. Todo egípcio sabe disso”, exagerou o fã Mohab Abdel.


Com o apito final, boa parte da clientela se dispersa para a tristeza dos proprietários. Alguns ainda permanecem no local durante as primeiras horas da madrugada, mas sem qualquer sinal da atmosfera contagiante que moveu os ambientes fechados durante a estreia dos “Faraós”, como é conhecida a equipe nacional.

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