Crescem opções para trabalhar fora do ambiente tradicional
Rodrigo Brancatelli – O Estadao de S.Paulo
O escritório do designer gráfico Daniel Arantes é o mundo. Aos 23 anos, recém-formado e ainda morando com os pais em um apartamento no bairro do Morumbi, na zona sul de São Paulo, ele trabalha com amigos em uma cafeteria dessas com acesso sem fio à internet. Faz trabalhos para uma revista produzida em Barcelona, tem um site colaborativo com outros designers ingleses e americanos, teve dois desenhos publicados num livro japonês e já foi convidado até para trabalhar em Lisboa e Paris. \”Aprendi um pouco de espanhol só pelos e-mails trocados com os profissionais da Espanha\”, conta ele. \”Quando fui convidado para trabalhar na França, eu nem consegui entender o e-mail e achei que era propaganda. O bom disso tudo é que tenho a liberdade de trabalhar do jeito que quero e ter a rotina que me dá vontade.\”
Talvez os vocábulos \”trabalho\” e \”rotina\” logo necessitem de uma definição um pouquinho diferente nos Aurélios. Ao juntar essas duas palavras numa mesma frase, logo se pensa em baias apertadas, chefes, horários, reuniões, relatórios de produtividade, departamento de recursos humanos, máquinas de café solúvel e todos os outros rituais e discursos da vida corporativa. Mas algo já está mudando nessas percepções, numa velocidade superior ao que muita gente está conseguindo perceber ou mesmo acompanhar. Diversos escritórios da cidade já relaxaram seus expedientes, principalmente as empresas \”pontocom\”, sempre tentando transformar seus ambientes em lugares mais criativos. Na Predicta, por exemplo, uma empresa de tecnologia na Vila Olímpia, zona sul, os funcionários podem jogar videogame na televisão de plasma no meio do expediente e pegar uma cerveja na máquina de refrigerantes.
A tecnologia também está fazendo muitas pessoas virarem os próprios chefes e trabalharem por conta, sem perder com isso a troca de idéias e de experiências típica dos escritórios. Em cafeterias como Starbucks, Suplicy e Fran?s Café, é cada vez mais comum ver grupos trabalhando em seus laptops enquanto tomam um cappuccino. \”Tem gente que cansou de ficar em casa trabalhando sozinho, enfurnado, e agora faz amigos em cafés e tem a chance de trocar conhecimento com outros profissionais iguais a ele\”, diz Henrique Bussacos, administrador de empresas que se cansou do ambiente corporativo e agora mantém um site com a ajuda de free lancers que se encontram semanalmente no café da Livraria da Vila, na Vila Madalena. \”Vira quase um escritório casual.\”
EXPERIÊNCIA INOVADORA
No começo de 2008, São Paulo terá uma das experiências mais inovadoras no quesito \”novas formas de trabalhar\”. A exemplo de Londres e Berlim, a cidade ganhará um Hub SP, uma espécie de escritório comunitário com internet sem fio, onde qualquer um pode levar seu computador e trabalhar lá. O local já está em construção, no número 409 da Rua Bela Cintra. Conforme palavras de seus idealizadores, o Hub será um espaço para conectar pessoas, alavancar projetos inovadores e inspirar transformações.
\”Poucas vezes uma idéia genial surge na frente do computador, dentro de uma corporação\”, diz Pablo Handl, principal organizador do Hub. Para trabalhar lá, seja qual for seu projeto, será preciso pagar uma espécie de \”taxa de estacionamento\” – no início, mesmo que seja para ficar o dia inteiro, esse valor não deve passar dos R$ 400 mensais. \”Queremos ter um espaço onde essas idéias apareçam naturalmente, onde as pessoas conversem, troquem informações. É o escritório do futuro para incubar as organizações do futuro.\”