Cafés da agricultura familiar: desafios na produção e comercialização
(27/03/2009 08:35)
O “Seminário Nacional sobre Cafés da Agricultura Familiar” foi um evento realizado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG) e Federações Estaduais de Trabalhadores na Agricultura (FETAGs) dos Estados da BA, ES, MG, MT, PR e SP, com o apoio da Tropical Commodity Coalition – TCC (ex Coalizão do Café da Holanda) e Aliança Nacional do Café (ANC-Brasil).
Os principais objetivos deste evento foram a identificação dos grandes desafios que a agricultura familiar tem na produção, no beneficiamento e na comercialização de cafés nos mercados nacional e internacional; a identificação das exigências atuais e tendências do mercado para os cafés certificados especiais; a apresentação e discussão dos pontos relevantes, positivos e negativos, da certificação de cafés e da produção e comercialização de cafés especiais; a apresentação e discussão das formas alternativas de produção e manejo de cafés e as inovações tecnológicas no beneficiamento e comércio; a elaboração de propostas para políticas específicas para a produção, beneficiamento e comercialização de cafés da Agricultura Familiar; e, a construção de um Plano de Metas e Ações para a Aliança Nacional do Café (ANC).
Na discussão sobre os desafios da agricultura familiar na comercialização de café conforme exigências dos mercados, nacional e internacional, Sérgio Parreiras Pereira, pesquisador do Instituto Agronômico IAC/SP – CBP&D/Café, disse que o envolvimento de produtores familiares na produção de café é muito elevado. De acordo com a Oxfam, em 2000, 70% da produção mundial de café foram provenientes de propriedades com menos de 10 hectares, 15% com tamanho médio (10-50 hectares) e 15% vieram de plantações com mais de 50 hectares.
Ainda segundo Pereira, o principal ponto de estrangulamento da Agricultura Familiar são os altos custos de produção, decisivo para uma renda sustentável. Como pode ser visto na tabela abaixo, entre 1994 e 2008 todos os insumos e serviços ligados à produção de café apresentaram aumento em torno de 500%, enquanto que para o café esse aumento foi da ordem de 20%, segundo dados da Sociedade Rural Brasileira.
Frederico de Almeida Daher, superintendente do CETCAF, acrescentou dizendo que é importante a compreensão do que realmente ocorre com os mercados. A valorização do Real não significou valorização das relações comerciais, isto é, houve inflação em Dólar. A interferência dos Fundos (Ex.: Fundos de Pensão), que compram nos mercados somente para especular, é um problema que levou o mundo à catastrófica crise econômica. No mercado da cafeicultura não foi diferente. Comprou-se e vendeu-se sem relação com os estoques, por pura especulação.
Daher afirmou haver nos últimos 44 anos uma crescente demanda mundial por cafés e apontou um favorecimento para o Brasil, que poderá expandir sua produção para mais de 50 milhões de sacas ao ano. Em sua reflexão tomou por base a produção mundial de 2007, de 124 milhões de sacas, quando o Brasil produziu apenas 33 milhões de sacas. Ele afirmou que estamos perdendo mercado, pois a demanda está praticamente empatada com a produção. Para Daher, as tendências de médio e longo prazos são a oferta e consumo equilibrados, o consumo com tendência de alta e a demanda crescente de robusta.
Sjoerd Panhuysen falou sobre a Coalizão do Café, que é uma ação que se iniciou em 2002, com o objetivo de discutir os procedimentos de produção e comercialização de cafés sustentáveis.
Para o Brasil aumentar a participação no mercado internacional sem comprometer a renda, é necessário que haja tecnologias disponibilizadas e suficientes para produzir cafés compatíveis com as exigências dos mercados internacionais. Para isso, é necessário a disponibilização destas ferramentas e mudar a lógica do consumo interno, que não estimula a produção de cafés com qualidade superior ou com atributos sócio-ambientais.
Outro ponto discutido foi sobre a capacidade da Agricultura Familiar para atender a demanda de qualidade dos mercados. Esta é uma função especial das organizações que devem proporcionar a capacitação de seus quadros dirigentes, nos níveis de gestão da organização, bem como na capacitação permanente dos sócios em relação à produção com qualidade.