O chamado “mercado verde” internacional vem exigindo há cerca de sete anos, produtos orgânicos produzidos de acordo com os princípios da agricultura orgânica: o primeiro é a não utilização de agrotóxicos, que desequilibram o agroecossistema, e o segundo é que os sistemas de produção orgânico geram um equilíbrio solo/planta pelo uso da matéria orgânica, produzindo plantas mais resistentes às pragas e doenças.
Grande parte das técnicas propostas pela agricultura orgânica estão sendo aplicadas ao cultivo de café, obtendo-se produções satisfatórias principalmente na região Sul de Minas Gerais e interior de São Paulo.
O café orgânico é um tipo de café produzido de maneira especial, sem a utilização de agrotóxicos e adubos de alta solubilidade, que são substituídos por subprodutos da reciclagem da matéria orgânica vegetal e animal, utilizando dejetos de animais, biofertilizantes, polpa e casca de café, compostos, húmus de minhoca, etc. Vale ressaltar que a agricultura orgânica não representa fórmulas milagrosas, e sim o aproveitamento de todos os resíduos vegetais e animais dentro do organismo agrícola.
Atualmente, quase toda a produção do café orgânico mineiro se destina ao mercado internacional (principalmente Japão, Estados Unidos e Europa), onde consegue um preço entre 15% e 50% superior ao café convencional.
A única exigência dos importadores é a certificação que garante a origem orgânica dos produtos, concedida pelo Instituto Biodinâmico (IBD-Botucatu/SP) ou pela Associação de Agricultura Orgânica (AAO/SP).
Os consumidores brasileiros também podem saborear um café isento de agrotóxicos. A empresa que está produzindo este café é a Gazzola Chierighini Alimentos, sediada em Itú/SP. A marca do café é Greenpeace Orgânico by Café Ituano, e é o primeiro café orgânico no mundo a ser licenciado pela ONG ambientalista Greenpeace. A idéia é popularizar o consumo de café orgânico no Brasil!
O volume do café orgânico produzido (em torno de 35-40mil sacas/99) no Brasil ainda não é representativo, mas o esforço dos produtores pioneiros em adquirir conhecimento sobre técnicas agrícolas que atendam aos principais objetivos do desenvolvimento sustentável, é recompensado pela preservação do meio ambiente e o bem estar dos trabalhadores e dos consumidores que são a motivação principal.
E foi nesse sentido que foi criado na cidade de Mococa, em São Paulo, em março de/98, a Associação de Cafeicultura Orgânica do Brasil (Acob), representado por produtores de café orgânico do Estado de São Paulo e Minas Gerais , que juntamente com a Universidade Federal de Lavras, representada pelos membros da “E.C.O.” (Equipe de Cafeicultura Orgânica) vinculada ao Necaf/Ufla (Núcleo de Estudos em Cafeicultura), promoverão pesquisas nas áreas de nutrição, pragas, doenças e qualidade de bebida, no sentido de aprimorar técnicas de produção do cafeeiro em sistemas orgânicos e comprovar a viabilidade das mesmas.
Já está em andamento uma dissertação de mestrado, a primeira do Brasil em cafeicultura orgânica, numa iniciativa pioneira da Ufla/MG, conduzida na cidade de Santo Antônio do Amparo/MG, na Fazenda Cachoeira de propriedade do Sr. Fernando Paiva, um dos pioneiros na produção de café orgânico no Brasil. A pesquisa visa a caracterização dos sistemas se produção orgânico, em conversão e convencional do cafeeiro (C. arábica L.), instalados no mesmo ecossistema, espaçamento, variedade e solo.
A viabilidade econômica do café orgânico é avaliada caso a caso, dependendo da realidade de cada propriedade. A velha fórmula do “café com leite” vem sendo utilizada para reduzir os custos de produção em fazendas de Minas Gerais, e a produtividade média dessas lavouras orgânicas vem acompanhando ás outras lavouras convencionais.
Além da cafeicultura, as fazendas criam gado de leite, que fornece o adubo necessário para a produção de húmus enriquecido. As variedades de café mais usadas são a Icatu e a Catucaí, resistentes a ferrugem. As mudas são selecionadas e produzidas nas próprias fazendas, e o controle de pragas e doenças é feito utilizando-se caldas e extratos recomendados pelas normas técnicas. A opção pelo café orgânico deve ser bem pensada e estudada com cautela, para não haver decepção. O cafeicultor deverá imcorporar uma série de princípios, começando pelos interesses econômico de curto prazo para ser considerado como produtor orgânico. O objetivo é melhoria da qualidade de vida do produtor, sua produtividade, sua renda e produzir um produto diferenciado. Para o Brasil, é uma ótima oportunidade para melhorar sua imagem no mercado internacional e para que, em algumas regiões, o café volte a ocupar parte da área de terras nobres, incentivando a agricultura familiar.
Vanessa Cristina de Almeida Theodoro é Engenheira Agrônoma
Mestranda/Cafeicultura/UFLA e diretora de pesquisa da Associação de Cafeicultura Orgânica (Acob).
Fonte: Informativo Garcafé: agosto de 1999.