A cafeicultura no Brasil: diversidade é principal característica
Desde que surgiu no Brasil, no século XVIII, o café já se expandiu do Sudeste para todas as outras regiões. Por esse motivo, a diversidade é uma das características da cafeicultura brasileira. Do Sul à Amazônia, o café está presente em planaltos e regiões montanhosas, em cultivos adensados ou convencionais, resiste ao frio e tem auxílio da irrigação para suportar o clima seco e é cultivado em pequenas, médias e grandes propriedades. O país produz os mais variados tipos de grãos e obtém todas as qualidades de bebida. Ao contrário do que ocorre em outros países produtores, que, pela própria extensão, têm menor área cultivada, a diversidade do Brasil tem relação com espécies e variedades.
O arábica e o robusta dividem o solo verde e amarelo e todos os anos passam pelas mãos de milhões de trabalhadores, seja na colheita ou no beneficiamento, armazenamento, comercialização, industrialização e em outras fases do processo pelo qual tem de passar, até chegar à mão de centenas de milhões de consumidores de todas as partes do mundo.
De acordo com José Braz Matiello, pesquisador do Procafé (Programa de Café do Ministério da Agricultura), cerca de 26% do parque cafeeiro do Brasil é ocupado pela espécie robusta. Isso representa cerca de 1,1 bilhão de pés de café, de um total de aproximadamente 5 bilhões. Portanto, a espécie arábica ocupa 74% do parque cafeeiro nacional, com quase 4 bilhões de pés plantados. Segundo Matiello, a área total utilizada para o cultivo de café no país é de cerca de 2,4 milhões de hectares.
Da espécie robusta, a única variedade cultivada é o Conillon. No entanto, na espécie arábica, existe um grande número de variedades. As duas variedades mais cultivadas no Brasil são o Catuaí, com aproximadamente 60% do total, e o Mundo Novo, com cerca de 35%. O restante é formado por variedades que foram introduzidas nos últimos anos e que são resistentes a doenças. Dentre essas variedades estão o Icatu, Obatã, Catucai, entre outras. “Os cafés tradicionais estão sendo substituídos gradativamente pelas novas variedades. Porém, esse é um processo lento, devido aos custos para a implantação de novas lavouras”, observa Matiello, que trabalha em pesquisas sobre café há mais de 30 anos. Durante esse período, ele lançou mais de 10 livros sobre o produto e realizou mais de mil trabalhos de pesquisa relacionados ao café.
Matiello revela que, em cinco anos, talvez, os produtores possam ter à disposição uma planta resistente à ferrugem e, ao mesmo tempo, ao bicho mineiro, que são considerados a doença e a praga de maior incidência nas lavouras brasileiras. “Já estamos com essa variedade pronta, mas necessitamos de mais uma geração para aprimorá-la”, disse.
Para Matiello, a atual crise do setor, provocada pela queda na cotação do produto, pode ter grandes reflexos na cafeicultura brasileira. Algumas conseqüências da crise seriam o mal trato das lavouras, o menor uso de insumos e o abandono do parque cafeeiro. Para que os produtores não passem por crises de preço, o pesquisador considera essencial haver um ordenamento da oferta, que deve ser feito não somente pelo Brasil, mas por todos os países produtores.
De acordo com a estimativa para a safra 2000/2001, feita pela Conab/Embrapa, o Brasil teve uma produção de 27,49 milhões de sacas de café. Como segundo maior produtor, o Vietnã obteve um volume de 12,5 milhões, de acordo com dados divulgados pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). Já a Colômbia produziu 11,4 milhões de sacas. Outros três países, que estão entre os maiores produtores, são Indonésia, com 6,2 milhões, Guatemala, com 4,9 milhões, e Costa do Marfim, com uma produção de 4,7 milhões de sacas.
Apesar de o país ocupar a posição de maior produtor e exportador mundial de café, Matiello considera que a cafeicultura brasileira não é uma das mais competitivas do mundo. “Além de nossa mão-de-obra ser mais cara, ainda temos uma clima muito seco e um solo mais pobre. Isso provoca um desequilíbrio nutricional e o conseqüente aumento de pragas e doenças do cafeeiro. Todos esses fatores exigem um grande investimento por parte do produtor, o que acaba tornando onerosa a atividade.”
No entanto, o pesquisador acredita que o país ainda ocupará a posição de maior produtor por muito tempo ou “talvez até para sempre”. No entanto, ele alerta para o fato de que a crise de preços pode ter reflexos na produtividade. “Essa falta de investimento do produtor já ocorreu no passado e vai continuar nos próximos dois, três anos, a menos que seja feita alguma coisa”, finaliza José Braz Matiello.