01/04/2013
NICOLE LAPORTE
DO “NEW YORK TIMES”
Em 2005, o advogado Kenneth Lander, de Monroe, na Georgia, mudou-se com sua família para uma fazenda de café em San Rafael de Abangares, na Costa Rica. Lander, que hoje tem 46 anos, vendia lotes de um terreno na Georgia e começou a plantar café como diversão.
Mas, em 2008, chegou a crise financeira, e ele teve que começar a ganhar a vida como cafeicultor. Não demorou a perceber que isso seria difícil.
Lander fazia parte de uma cooperativa de comércio justo, ou de “fair trade”, que garante um preço mínimo aos produtores. Porém, ele estava ganhando apenas US$ 2,80 por quilo do café que era vendido no varejo nos Estados Unidos por US$ 25,25. Por que ele não recebia uma parcela maior?
Essa pergunta vem sendo feita ao longo da história, especialmente nos países em desenvolvimento, onde os produtores de commodities como café e cacau com frequência vivem na pobreza. Um movimento mundial sob a bandeira do comércio justo vem procurando há décadas corrigir esse desequilíbrio.
Os produtores que trabalham com o comércio justo recebem preços ditos “justos” por seus produtos e, em contrapartida, precisam respeitar critérios ambientais e trabalhistas determinados por grupos de certificação, como a Fairtrade International, que representa 1,24 milhão de produtores.
Mas Kenneth Lander achou que poderia aperfeiçoar a ideia. Ele começou a torrar seu café em grão e vendê-lo pelo Facebook a amigos nos Estados Unidos. Além disso, abriu um café em Monteverde.
Em seguida, formou uma parceria com dois outros produtores da região, Jorge Fonseca e Alejandro Garcia, e começou a vender volumes maiores. De repente, começou a ganhar dinheiro.
Em 2011, Lander, Garcia e Michael Jones, um empreendedor de Atlanta, criaram a empresa Thrive Farmers Coffee. De acordo com Lander, a empresa se baseia na ideia de que “os produtores podem participar do valor adicionado à medida que o café passa pela cadeia de distribuição, até chegar ao consumidor”.
Os produtores geralmente vendem seu café em grãos antes de eles serem torrados. O preço pago pelo café em grão normalmente é baseado no preço do café no mercado de commodities. Em fevereiro, segundo a Organização Internacional do Café, o preço médio pago por um quilo de café arábica foi de US$ 3,50.
O conceito do comércio justo representa uma melhora em relação a esse modelo. O comércio justo paga o preço de mercado, mas garante um preço mínimo, que hoje é de US$ 3,15 pelo café arábica. A cooperativa que coleta e processa os grãos fica com uma parcela do valor, hoje de US$ 0,20 por quilo, usada para financiar projetos sociais.
Teoricamente, um produtor que trabalha com comércio justo nunca sai perdendo: quando o preço no mercado de commodities está mais alto que o preço do comércio justo, o produtor recebe o preço de mercado, e a cooperativa ainda recebe seu prêmio. Mas os compradores no comércio justo compram café ainda não torrado, e o processamento que eleva o preço do café acontece depois.
Os produtores que trabalham com a Thrive recebem depois que seu café foi exportado e vendido aos varejistas. Se o café é vendido a US$ 15,75 o quilo, a Thrive e os produtores ficam com cerca US$7,87 cada. Em 2012, a Thrive vendeu 148 toneladas métricas de café, vendido no varejo por entre US$ 21,70 e US$ 26,60 o quilo.
Os produtores que trabalham com a Thrive precisam pagar pelos custos mais altos de processamento e exportação, mas, segundo Lander, eles ganham, em valores líquidos, quatro vezes o que receberiam no esquema do comércio justo. “Estamos ensinando aos produtores que não é preciso abrir mão do controle sobre o café que eles produzem”,
disse ele.
Paul Rice, presidente e CEO da Fair Trade USA, aplaudiu empresas como a Thrive, mas questionou: “Será que esse modelo pode ser aplicado em maior escala? Será que vai alcançar milhões de produtores?” Afinal, as parcerias do comércio justo com empresas como Starbucks e Green Mountain Coffee Roasters são fundamentais para a sobrevivência de produtores do comércio justo.
Carlos Vargas, executivo-chefe de finanças da cooperativa cafeeira CoopeTarrazú R.L, na Costa Rica, disse que o modelo de pagamento da Thrive, pelo qual os produtores só recebem depois de seu café ser vendido, pode ser difícil para muitos. Segundo ele, os produtores têm que esperar entre seis e 12 meses para receberem.
Lander ponderou que, justamente devido a demora, pede-se aos produtores a venda de apenas uma pequena parte de sua safra para a Thrive no primeiro ano, aumentando a parcela com o tempo.
Rice concordou que “existem muitas portas diferentes que os consumidores podem usar para entrar nesse espaço de sustentabilidade. Se o consumidor descobrir um ótimo produto que também fizer do mundo um lugar melhor pela Thrive, isso será muito bom.”