06-Mai-2009 – SÃO SEBASTIÃO DO PARAÍSO – A aprovação pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) no dia 30 de abril da elevação dos preços mínimos de café para a safra que será colhida em 2010 motivou imediatamente a realização de uma reunião emergencial de lideranças da cafeicultura na sede da Coopa-raiso (Cooperativa Regional dos Cafeicultores de São Sebastião do Paraíso) na tarde do feriado de 1º de maio. Produtores de café estão insatisfeitos com o tratamento que estão recebendo nas negociações para saldar as dívidas e implantar uma política agrícola para o setor e prometem reagir no sentido de sensibilizar o governo. Os organizadores do movimento SOS Cafeicultura já estão se rearticulando para uma nova manifestação, desta vez em Brasília, dentro de 20 dias.
Para o café do tipo arábica, de melhor qualidade, o preço mínimo da saca de 60 quilos subiu de R$ 211,75 para R$ 261,69, aumento de 23,6%. Os produtores que reivindicam um preço mínimo para a saca de 60 quilos apontam que o posicionamento do governo em relação a este valor foi a gota d’água para uma reação imediata do setor. Os cafeicultores argumentam que os custos de produção são mais altos do que os levados em conta na hora de estabelecer os valores.
O encontro reuniu lideranças como dirigentes da Faemg (Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais), do CNC (Conselho Nacional do Café), diretores dos sindicatos dos produtores rurais do Sul de Minas, Triângulo Mineiro e Nordeste Paulista, representantes e lideranças dos produtores de café. “Todo este pessoal está aqui hoje, em pleno feriado de 1º de maio, no Dia do Trabalho para demonstrar a preocupação e insatisfação com o preço mínimo de garantia que o governo soltou para o café”.
Para Francisco Miranda de Figueiredo, presidente da Coocatrel (Cooperativa dos Cafeicultores de Três Pontas) o governo é muito lento em suas decisões. “Fico triste porque sinto que o governo não dá atenção a quem deveria dar. A cafeicultura é extremamente financeira e as decisões do governo precisam ser mais rápidas, mas a burocracia de Brasília destrói qualquer segmento”, aponta.
De acordo com o presidente da Cooparaiso, deputado Carlos Melles, da Frente Parlamentar do Café, esta posição governamental já está se tornando insustentável. “É impossível depois de tantos anos, tanto sofrimento e tantas perdas que o governo federal não tenha a sensibilidade do que é preciso para o café”. Conforme Armando Matielli, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Guapé, o que o setor quer está bem claro. “Estamos pedindo o resca-lonamento da dívida, seja ela oriunda do Funcafé, de recursos livres, CPR física ou financeira, de recursos obrigatórios ou outras dívidas oriundas da cafeicultura que queremos seja transformada em sacas de café”, aponta Matielli. Ele diz desta forma seria possível pagar a cada ano 5% da dívida e em 20 anos saldar os débitos.
Entre os mais variados representantes dos segmentos produtivos do café o descontentamento é total diante da posição do governo. “Nós não queremos ser caloteiros, nem deixar de pagar. Queremos é salvar o patrimônio da cafeicultura que é muito grande hoje para um setor que gera dois milhões de empregos diretos e oito milhões de empregos indiretos, observa Matielli. “Nós ficamos inconformados com estes valores anunciados, por isso viemos até o nosso deputado Melles, que é o deputado do café para reunirmos com as lideranças porque precisamos reagir”, diz João Abrão Filho, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Altinópolis (SP). Outro posicionamento firme partiu do presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Piumhi, Juninho Tomé, que fala na adoção de medidas fortes. “A indignação é muito grande, por isso, ou nós nos articulamos e tomamos medidas drásticas, contundentes e acima de tudo urgentes que deveriam ser não para hoje, mas para ontem, ou nós perdemos o foco de liderar nossos produtores”, admite.
Ele ressalta que do contrário não saberá medir nem as conseqüências. “Do contrário nem me responsabilizo por mim, nem pelo sindicato, eu tenho receio do que possa ocorrer pelas dificuldades que os produtores estão enfrentando”, relata. O produtor de café em Ibiraci, Sebastião Ananias comenta que se tivesse que sobreviver da cafeicultura não sabe como faria e por isso se sente solidário aos demais cafeicultores que não possuem outra fonte de renda. “Nós não queremos esmola não, o produtor quer preço justo para o seu produto para que possa trazer paz para ele e para a nação”, anuncia. Ananias diz que são duas frentes distintas, já que existe a família do produtor e a do trabalhador. “Aliás elas convivem e sobrevivem juntas e uma depende da outra, por isso a dimensão da cafeicultura ser tão grande e atingir a tantas pessoas”, menciona.
Manifesto. Diante do quadro desani-mador os cafeicultores decidiram que vão partir para mais uma cartada decisiva no sentido de sensibilizar o governo. Por suas lideranças já está sendo rearticulado o movimento SOS Cafeicultura. No dia 16 de março o manifesto realizado em Varginha, Sul de Minas, reuniu cerca de 25 mil manifestantes na chamada marcha pelo café. Vários protestos também foram realizados em várias outras cidades do interior paulista e mineiro, como em São Sebastião do Paraíso.
O objetivo além de mostrar a crise enfrentada elo setor também teve como meta sensibilizar o Governo Federal para os aspectos econômicos e vários outros aspectos listados em uma pauta de reivindicação. Agora os produtores de café decidiram que irão a Brasília manifestar com o mesmo objetivo. O evento ainda não tem data definida, mas está sendo agendada para ocorrer nos próximos 20 dias.
“Mais uma vez estamos decepcionados com o governo pelas atitudes que ele vem tomando”, lamenta João Roberto Puliti que é membro do Comissão Nacional do Café e diretor da Faemg. “O movimento novamente toma corpo no sentido de irmos a Brasília, desta vez até acamparmos se preciso for, no sentido de sensibilizar para aquilo que estamos vivendo, que é um momento crucial na vida da cafeicultura”, anuncia.
Segundo Eric Abreu, um dos coordenadores do SOS Cafeicultura já existe toda uma infra-estrutura sendo preparada no sentido de mobilizar os produtores. “Estamos preocupados, pois o início da safra esta ai e de lá para cá nada aconteceu, por isso estamos colocando os pontos que foram pleiteados mais uma vez dizendo que ou o governo implementa as medidas necessárias para resgatar a dignidade da cafeicultura ou então marcharemos em Brasília para reivindicar os nossos direitos”, anuncia.
Para o deputado federal e presidente da Cooparaiso, Carlos Melles, a classe está unida e ciente dos caminhos que deve percorrer. “Numa reunião que tivemos recentemente o governador Aécio Neves disse ao ministro e ao presidente Lula que o café para Minas Gerais funciona como o programa Bolsa Família, ou seja, tem uma importância social muito grande. Por isso é importante termos aqui reunidos os mais diversos representantes do setor produtivo do café, os sindicatos, o sistema cooperativo e as associações de produtores demonstra que todos estamos unidos”, destaca.
Melles completa dizendo que desta forma haverá um movimento reivindicatório muito forte em Brasília alertando o presidente, “de que não é possível que ele continue deixando esta situação perdurar”.
Para o presidente da Co-oparaiso ficou claro e está estabelecido qual o foco e o caminho a ser seguido. “Continuamos perseguindo preço de garantia justo, buscando opções, trocar as dívidas por café e queremos uma nova política para a cafeicultura brasileira, é isso que nós queremos”, finaliza.
Fonte: www.jornaldosudoeste.com.br