Cafeicultores do Brasil afetados pela seca buscam mecanização para reduzir custos

segunda-feira, 25 de agosto de 2014


Por Caroline Stauffer

VARGINHA (Reuters) – Anos de baixos preços do café, seguidos pela pior seca em décadas no Brasil, levaram mesmo os pequenos produtores familiares a comprar maquinário moderno para depender menos da mão de obra cada vez mais escassa e cara.


A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontou uma “intensa comercialização de máquinas, principalmente colheitadeiras, para a região cafeeira de São Paulo e de Minas Gerais” nesta temporada, em resposta a uma alta média de cerca de 46 por cento nos custos com trabalhadores ante um ano antes.


Grandes produtores do Brasil, que fornece cerca de um terço do café consumido no mundo, começaram a comprar maquinário –boa parte dos Estados Unidos– 15 anos atrás. Agora a modernização tornou-se uma necessidade também para os pequenos produtores, em dificuldades financeiras.


O produtor Michael Reguim, 26, comprou uma colheitadeira em 2008 e nesta temporada tornou-se o primeiro de sua comunidade de 82 famílias, nas montanhas de Minas Gerais, a adquirir uma máquina que retira a casca dos grãos de café, uma tarefa que antes empregava quatro pessoas.


“Você costumava comprar máquinas para tentar melhorar as margens, agora você faz isso para sobreviver”, disse Reguim, mostrando seu novo equipamento, comprado e instalado por 72 mil reais com a ajuda de um financiamento do governo.


A máquina também trouxe o benefício de reduzir o consumo de água em uma região que viu a seca do início do ano reduzir a safra 2014 em 30 por cento. Reguim inicialmente esperava colher 4 mil sacas de café este ano.


“Agora vou estar feliz com 2 mil. Se eu não tivesse mecanizado, não teria sobrevivido”, disse ele, referindo-se à seca.


O café é a única das grandes commodities agrícolas exportadas pelo Brasil que é produzida majoritariamente por agricultores familiares. Em setores como soja, milho e cana, há uma grande participação de grandes propriedades e uso generalizado de maquinário pesado e moderno.


No sul de Minas Gerais, uma região responsável por um quarto da produção brasileira de café, metade da colheita está agora automatizada, ante 20 por cento cinco anos atrás, disse o engenheiro agrônomo Luiz Reis, da Emater, responsável pela assistência rural no Estado. Em algumas regiões mais remotas e de terreno acidentadas de Minas, a mecanização é praticamente impossível.
O produtor Bruno Reguim Filho, primo de Michael, comprou uma colheitadeira com seu irmão no ano passado e planeja quitar o financiamento em 10 anos. Em 2013, como foi impossível encontrar na região pessoas para a colheita, ele acabou contratando 20 migrantes da Bahia, a mil quilômetros de distância.


Agora, o custo de colheita caiu de 300 reais por hectare para 100 reais, graças à automação, disse Bruno, enquanto a barulhenta máxima retirava do cafezal os últimos grãos da safra 2014.


Mesmo com a alta de 55 por cento nos preços do café arábica nos últimos 12 meses, atingindo um pico de dois anos após a seca, agricultores dizem que ainda está muito difícil compensar a redução na safra.


“Mesmo com a mecanização, o custo está sendo muito alto. Quem não está mecanizado não tem condições para fechar as contas, disse o economista e professor da Universidade Federal de Lavras.

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