Cafeicultores cobram subsídios para segurar mais prejuízos

29 de janeiro de 2010 | Sem comentários Análise de Mercado Mercado
Por: 29/01/2010 11:01:12 - Campo News

Em média, produtores brasileiros vendem a saca de café por até R$ 40,00 a menos do valor do custo de produção


Insatisfeitos com o cenário de perdas do qual fazem parte – nos últimos 13 anos, o prejuízo calculado foi de US$ 28 milhões –, os cafeicultores brasileiros reivindicam mudanças na política de exportação do produto e cobram subsídio ao governo, na tentativa de amenizar a situação. Segundo os produtores, o País tem vendido o café ao exterior por um preço até 40% mais baixo se comparado aos principais concorrentes.


Na última safra, em 2009, o produtor investiu cerca de R$ 320,00 na produção de cada saca, mas a preço de comercialização alcançou R$ 280,00, prejuízo médio de R$ 40,00 por saca. Na região de Garça (localizada no centro-oeste paulista), a perda foi ainda maior. Alberto Baracat, presidente do Sindicato Rural do município, conta que desde o fim da cooperativa de cafeicultores da cidade, eles deixaram de ser referência na produção de café. Consequentemente, perderam espaço na exportação do produto e calculam prejuízos de até R$ 60,00 por saca (o custo de produção na região ficou na média de R$ 280,00). “O ideal seria a comercialização entre R$ 320,00 e R$ 330,00 por saca, para o produtor se manter. Mas, o melhor café que temos na região não é vendido por mais de R$ 240,00”, revela.


Diante à situação, a estimativa do sindicato é de que a produção caia em 2010. No ano passado, os produtores de Garça introduziram no mercado 400 mil sacas de café. Na região, foram produzidas 650 mil sacas. Para a próxima safra, a expectativa é de que a produção seja de 300 mil sacas e Garça e de 500 mil na região. “No meu ponto de vista, o Brasil precisa de uma política agrícola mais direcionada. Uma alternativa seria o preço de garantia do produto. Hoje, o governo financia a produção do café com juros entre 6% e 8%, mas não dá um preço garantido ao cafeicultor”, sentencia Baracat.


Exportação


Na última safra, o Brasil destinou 2 milhões de hectares para a plantação de café. Neste período, foram produzidos 40 milhões de sacas – deste total, 28 milhões (70%) foram destinados à exportação, o restante ficou no mercado interno (o Brasil é o 2º maior consumidor de café do mundo, perde apenas para os Estados Unidos).
De acordo com Maurício Lima Verde, presidente do Sindicato Rural de Bauru, o custo de produção do produto foi de aproximadamente R$ 320,00, mas a comercialização não passou de R$ 280,00 por saca. “Com o dólar na casa de R$ 1,80, exportar café é certeza de prejuízo. Quando o dólar estava acima dos R$ 2,00, o cafeicultor conseguia se manter, mas sem lucros. Com a valorização do Real, a situação ficou ainda pior”, afirma. “Por isso, a categoria pede subsídios ao governo. Esse ano, o governo deve adquirir sacas por R$ 305,00. Isso vai ajudar, mas não solucionar o problema. O setor precisa de outras medidas”, acrescenta.


Perda de mercado


Para Lima Verde, a falta de incentivo do governo ocorre porque, dos cerca de R$ 100 bilhões que entraram no País com as exportações, em 2009, apenas R$ 5 bilhões foram provenientes do café. “Consequentemente, o Brasil tem perdido cada vez mais espaço no cenário mundial. Em contrapartida, o Vietnã, o México e a Colômbia ganham mercado”, revela.


Nos últimos oito anos, o Vietnã dobrou a produção de café, passou de 10 milhões de sacas para 20 milhões. Em cinco anos, o país tem planos de duplicar a área plantada.


Atualmente, o Estado de Minas Gerais é o maior produtor brasileiro – responsável por 60% de toda produção –, seguido do Espírito Santo e de São Paulo (a maior região produtora é a Mogiana, no Norte do Estado; ela responde por 40% do café produzido).


Cana e eucalipto


Lima Verde afirma que há muito tempo o café deixou de ser rentável ao agricultor, que tem buscado alternativas. “Hoje, só tem café o produtor que não tem alternativas de agricultura. Nas regiões com altitude elevada, por exemplo, ainda há justificativa para a existência do produto, já que as condições não favorecem outras culturas. Mesmo assim, nestes locais não conheço cafeicultor que esteja fazendo investimentos”, afirma. “Quando há alternativas, o cafeicultor migra para outras áreas. No Estado de São Paulo, a cana-de-açúcar e o eucalipto têm ganhado espaço por serem muito mais rentáveis. Com isso, temos notado uma queda acentuada na área destinada à plantação de café”, acrescenta o presidente.



 

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