Cafeicultores baianos anunciam perda de 30% na próxima safra

POR JUSCELINO SOUZA VITÓRIA DA CONQUISTA

Por: A Tarde

Cafeicultores falam em colapso

Em Vitória da Conquista, em um simpósio nacional, produtores baianos
anunciam perda de 30% na próxima safra

 

A situação da cafeicultura nacional, com os produtores já falando em crise, e
em especial a baiana, norteou as discussões do 7º Simpósio Nacional do
Agronegócio Café (Agrocafé), realizado de 15 a 17, em Vitória da Conquista,
também pólo produtor. No rol das queixas, além da conseqüência da estiagem, se
destacaram o veto presidencial à renegociação das dívidas, a falta do seguro
agrícola e a política cambial do governo.

As primeiras conseqüências apontadas pela quebra da safra, por conta da falta
de chuva, disseram os produtores, serão traduzidas em perda de 30% dos 2,2
milhões de sacas previstos para este ano no Estado. O consenso é que, caso não
haja medidas compensatórias, o que incluiria a renegociação imediata da dívida
do setor, a cultura pode entrar em colapso em todo o País.

O presidente da Associação dos Produtores de Café da Bahia (Assocafé),
Eduardo Salles, criticou a política econômica do governo, destacando que
“números oficiais nem sempre traduzem a realidade, principalmente quando se
enfrenta uma realidade adversa”. Salles defendeu os produtores que, segundo ele,
adquiriram fertilizantes e outros insumos e importaram maquinário com o dólar a
R$ 3,20. “Na hora de vender a safra, devido à falta de uma política cambial
responsável, todos tiveram como preço R$ 2,40 por dólar”.

“O valor”, continua o presidente, “não foi suficiente, na maioria dos casos,
para cobrir custos, sacrificando, sobretudo, os pequenos produtores”. Para
resolver a situação, os produtores sugerem que o governo adote uma política
“urgente de refinanciamento e liberação de novo crédito, sem burocracia”.

A redução de impostos sobre insumos e maquinários e um ajuste na política
cambial, defendem, “permitiriam um reaquecimento do agronegócio, com a geração
de milhões de empregos”. Dizem que o seguro agrícola, diretamente vinculado à
renegociação da dívida, serviria para cobrir eventuais prejuízos com a perda de
safras e, por extensão, aliviaria o saldo devedor. “As dívidas cobradas não são
reais: são originárias de secas que aconteceram, e isso por falta de um seguro
agrícola, que existe em todos os países mais importantes do mundo”.

SAFRA AMEAÇADA – No entendimento de cafeicultores como Israel Tavares Viana,
se o seguro agrícola estivesse em vigor, no caso da seca – que devastou culturas
inteiras os últimos três meses –, o produtor estaria insento do pagamento do
custeio e receberia recursos para custear despesas. Presidente do Sindicato
Patronal dos Cafeicultores de Barra do Choça, ele também reclama das perdas em
sua região com a falta de chuvas. Viana, que em 1971 introduziu a cafeicultura
em Barra do Choça, explica que a granação – quando da formação dos grãos –
prejudicada pela falta de chuvas fez com que alguns frutos murchassem e os que
resistiram tivessem o tamanho reduzido.

Disse, ainda, que não existe suporte ou subsídio governamental para os
produtores de café da região superarem a crise. A próxima safra também está
sendo ameaçada, pois, não só os frutos, também os pés de café estão
comprometidos. “Com água escassa, algumas plantas estão perdendo fruto e
folhagem, de forma que serão necessários mais um ou dois anos para sua
recuperação”, finalizou.

Também produtor de café, o engenheiro agrônomo Giano Brito fala das
adversidades ocorridas no período que antecederam o simpósio e que serviram como
argumentos na busca de melhorias para o setor cafeeiro. De acordo com Brito, as
altas temperaturas – beirando 37 graus – em uma região com altitudes acima dos
900 metros, demonstraram que tudo estava fora do padrão, da normalidade. “Isso
jamais ocorreu aqui na região e as perdas geraram crise que se instalou em todo
o agronegócio do Estado”.

A falta de chuvas regulares entre outubro do ano passado e final de fevereiro
deste ano deixou marcas nas lavouras de café do oeste ao sudoeste baianos. A
maioria das plantações teve perdas de até 50% e o quadro se agravou no mês
passado, quando ocorre a granação.

Matéria A Tarde: http://www.atarde.com.br/materia.php3?mes=03&ano=2006&id_materia=3134
 

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