ECONOMIA
14/02/2011
A forte alta dos preços do café no mercado físico no Brasil nas últimas semanas está fazendo com que produtores e cooperativas busquem renegociar com compradores valores fechados em vendas realizadas no passado, para entrega a termo, disseram corretores. Os preços do café de boa qualidade no mercado brasileiro estão quase o dobro de igual período no ano passado e tiveram forte aumento desde o início de 2011, o que aumentou o descontentamento de produtores que fecharam vendas no ano passado.
O indicador de preços do Cepea, uma importante referência no mercado, aponta a cotação atualmente em R$ 489 a saca de 60 quilos (posto na cidade de São Paulo), cerca de R$ 210 acima do registrado em igual período do ano passado e quase R$ 80 reais mais alto ante o valor do início de 2011.
“Existem problemas realmente no mercado. Não digo isolados, mas representativos, de renegociação de contratos\”, afirmou o corretor Marcus Magalhães, da Maros, com sede em Vitória (ES).
O café arábica vem sendo negociado no mercado nova-iorquino nos maiores valores em quase 14 anos, impulsionando as cotações no Brasil, diante da oferta apertada de café no mundo e da demanda firme. “O setor hoje tem vários traumas, seja ele financeiro, seja de abastecimento”, afirmou, lembrando que muitos produtores venderam barato o café há alguns meses na comparação com os preços atuais.
Segundo Magalhães, a alta de preços, em vez de euforia, trouxe “muito mais apreensão ao mercado”, porque nenhum produtor que vendeu o café durante o ano passado esperava aumento tão forte. E exportadores foram afetados também na medida em que precisam de mais recursos, muitas vezes acima de seu limite de crédito.
“Você imagina aquele exportador que tinha um limite no banco de R$ 5 milhões.
Num mercado de R$ 250 a saca, ele tinha um volume de crédito de 20 mil sacas de café. Hoje, a saca é R$ 500, o limite dele continua em R$ 5 milhões, o próprio giro dele foi para R$ 10 milhões e o banco não aumentou o limite; pelo contrário, ficou com medo do produtor”, afirmou Magalhães, referindo-se ao “squeeze” financeiro.
Outro corretor, que pediu para não ser identificado, também comentou que há renegociação.
“O que andei ouvindo e vendo é de cooperativas e comerciantes.
Lógico, ninguém fala: ‘não vou cumprir porque sou sem vergonha’. Fala: ‘eu não recebi do produtor e não vou cumprir o negócio’. Ou então pede um acerto”, afirmou o corretor, destacando que vários casos ocorreram em Minas Gerais, o maior produtor do Brasil, e em São Paulo.
EXPORTAÇÃO. Na área exportadora, embora Magalhães acredite que exista problemas para se cumprir entregas, o segundo corretor afirmou apenas que pode ser que haja um ou outro caso, “de um pessoal menos capitalizado e menos preparado”, pois o Brasil tem tradição de honrar seus compromissos externos.
Exportadores consultados pela reportagem afirmaram que não há casos de tentativa de renegociação de contratos para embarques do produto ao exterior, embora um deles, entre os cinco maiores, também tenha admitido que o problema ocorre na negociação com setor produtivo.