Os cafeicultores brasileiros querem ser incluídos no programa de alongamento de dívidas, anunciado pelo governo federal na semana passada para beneficiar alguns setores do agronegócio.
De acordo com o diretor-executivo do Conselho Nacional do Café (CNC), Alberto Portugal, apesar dos bons preços internacionais do produto – a saca de 60 quilos saiu de US$ 43,30 em 2002 para US$ 116 em março deste ano –, a cotação do dólar em baixa vem prejudicando o setor.
A recuperação de preços começou em 2005 e até junho do mesmo ano o produtor teve boa remuneração, que superou os R$ 300. A partir daí, com a valorização do real, o valor recebido pelo produtor vem caindo. Em março, a saca valia R$ 250.
Segundo Portugal, o valor remunera a produção em torno de R$ 230, mas não é suficiente para recuperar os anos de prejuízo. O preço ideal seria de R$ 320, segundo o CNC. Entre 2001 e 2004, quando a cotação internacional do café esteve em queda, os produtores acumularam perdas da ordem de US$ 2,5 bilhões.
Em 2001 e 2002 os cafeicultores negociaram com o governo novos prazos para as dívidas, que somavam R$ 900 milhões. Parte desse valor começa a vencer este ano e os produtores não têm dinheiro para pagar, apesar de atualmente terem um pequeno lucro nas vendas.
Segundo cálculos do CNC, um produtor médio, com produção anual de 500 sacas, teria lucro de R$ 5.000 por mês. Além de prazo maior para pagar as dívidas, o setor reivindica ainda uma política de governo para fazer uma espécie de estoque regulador e garantir a manutenção dos preços.
Um outro pleito do setor já foi atendido este ano, o plano de safra de 24 meses. Para 2006 os cafeicultores terão R$ 1,4 bilhão para financiar colheita e estocagem. O dinheiro poderá ser pago em dois anos e não em um ano, como aconteceu até 2005.
Com isso, os produtores poderão diluir a venda por um tempo maior e evitar queda de preços devido a um excesso de oferta. O café é uma cultura de característica bianual – produz muito em um ano e pouco no outro. Este ano é de safra alta, com previsão de 40,62 milhões de sacas, frente a 33 milhões de sacas de 2005. Minas responde por cerca de 50% desse total.