RAQUEL MASSOTE – Agencia Estado
BELO HORIZONTE – Os representantes da cafeicultura que se reuniram hoje em uma manifestação contra a crise no setor pretendem insistir nas negociações com o governo federal em torno da conversão da dívida (estimada em R$ 4,2 bilhões) em sacas de café. O protesto, segundo informações da Polícia Militar reuniu aproximadamente 13 mil pessoas, além de 350 tratores e maquinário agrícola, no centro de Varginha, um dos principais municípios produtores do sul de Minas Gerais.
A proposta dos cafeicultores, que vem sendo discutida nos últimos três meses com a equipe econômica do governo é de que a dívida seja convertida utilizando como referência o valor de R$ 320 por saca, que seriam entregues ao governo ao longo de 20 anos, o que significaria um patamar de 5% por ano.
As estimativas do presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), Gilson Ximenes, são de que o volume de café resultante da conversão poderia atingir de 13 milhões a 14 milhões de sacas, que seriam utilizados para recompor os estoques oficiais do governo, que atualmente atingiram os menores níveis da história. “Nossa reivindicação continua a mesma, a transferência da dívida em produto, além da formulação de uma política de renda para o setor.”
Desde a apresentação da proposta, o governo federal criou um grupo de trabalho para analisar as reivindicações. “O governo fala que vai fazer e não faz”, disse ele. Ximenes reiterou ainda que os cafeicultores vão manter o pleito para a realização de leilões de opções públicas de venda, que faria parte da política de renda para o setor, com a liberação de R$ 1 bilhão para a comercialização de 3 milhões de sacas, que poderiam ser divididos em três leilões ao longo do ano, sendo que o primeiro poderia ocorrer já no mês de maio.
Para o presidente do CNC, a proposta solucionaria o endividamento do setor, que vem se arrastando desde 1995 com sucessivas renegociações. “O governo nunca perdeu dinheiro com as opções”, afirmou.
Na semana passada, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes anunciou a liberação de mais R$ 300 milhões para a capital de giro das cooperativas brasileiras. Em janeiro, o governo já havia liberado R$ 700 milhões e a previsão é de que mais R$ 1 bilhão seja liberado num prazo de 60 dias. “Esses recursos ainda não chegaram”, afirmou Ximenes.
Safra 2009
A primeira estimativa de produção total de café (arábica e conillon) para a safra 2009 divulgada em janeiro pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê uma colheita entre 36,9 e 38,8 milhões de sacas de 60 quilos de café beneficiado, o que representaria uma redução de 19,8% e 15,6%, quando comparada com a produção de 46 milhões de sacas obtidas na temporada anterior.
A manifestação de hoje teve como principal objetivo alertar contra a crise social que poderá se instalar a partir da ameaça de desemprego dos trabalhadores envolvidos com a cafeicultura, caso a situação se agrave. O movimento, denominado SOS Cafeicultura, argumenta que o setor gera mais de 2 milhões de empregos diretos e 8 milhões indiretos.
Participaram da caminhada, além do presidente do CNC, Gilson Ximenes, os secretários de Estado da Agricultura de Minas, Gilman Viana Rodrigues, de São Paulo, João Sampaio, o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Faemg), Roberto Simões, da Comissão de Café da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Breno Mesquita, além de deputados federais e estaduais.