Cafeicultor está com um pé atrás na hora de investir

Café: cautela na hora de investir


O produtor de café em São Sebastião do Paraíso (MG) Francisco José Tonim acabou de adquirir, na Agrishow, em Ribeirão Preto (SP), que se encerrou no sábado, uma colhedora automotriz de café. Pagou por ela R$ 350 mil, “praticamente à vista”, diz o cafeicultor, que dividiu em quatro meses o pagamento à empresa fabricante. O vultoso investimento para um cafeicultor que pode ser considerado de médio porte em sua região – 100 hectares de café para uma produção de 4.500 sacas beneficiadas – não se trata, porém, de euforia diante das boas perspectivas da cultura para os próximos anos. “Meus objetivos são reduzir custo com mão-de-obra e poder colher na hora que quiser, sem ter de alugar colhedoras”, diz Tonim.

Reduzir custos, adotando a mecanização, era a palavra de ordem entre os cafeicultores que visitaram a mostra de Ribeirão Preto este ano. “Mão-de-obra não falta, mas as exigências legais tornam inviáveis esses custos”, diz o cafeicultor Dirnei de Barros Pereira, que tem lavouras em Pedregulho (SP) e Serra do Salitre (MG).


CAUTELA

Ainda assim, os investimentos têm sido feitos com cautela, jamais na base da euforia, como se viu recentemente no setor de grãos, que comprou a rodo principalmente em 2003, 2004 e agora amarga dívidas milionárias, agravadas pela baixa remuneração por causa do dólar desfavorável às exportações. Talvez pelas próprias características do café, uma lavoura perene, cujas projeções de investimento levam em conta obrigatoriamente o longo prazo, o cafeicultor está com o pé no chão. “Os preços internacionais estão bons, mas o cafeicultor não está usufruindo disso por causa do dólar baixo”, diz o supervisor na Área de Colhedoras da Café da Jacto, Toyoshiko Kashima. O preço internacional da saca estava, na semana passada, em US$ 125, para um preço histórico de US$ 100.

A Jacto, com sede em Pompéia (SP), fabrica, entre outros equipamentos, pulverizadores e colhedoras para a cafeicultura. Kashima acredita que o mercado de máquinas para café está melhorando, porque vem saindo da crise, “mas poderia estar muito melhor”, diz. “A tendência é de crescimento, mas não sei se chega a 10% ao ano dessa fase boa, prevista para se prolongar até 2009”, conclui.


NECESSIDADE

O cafeicultor Pereira, que cultiva 105 hectares em Pedregulho e 300 hectares em Serra do Salitre, na região do cerrado mineiro, também iria investir em equipamentos na Agrishow Ribeirão Preto, “por pura necessidade da cultura”, ressalta. “Apesar de o preço estar melhorando, ainda não é uma época boa para fazer compromissos”, diz ele, que pretendia comprar uma carreta no valor de R$ 8 mil e, em março, já havia adquirido um trator cafeeiro da Yanmar Agritech no valor de R$ 60 mil, financiados.

Para “ficar bom para a cafeicultura”, segundo Pereira, o dólar deveria estar entre R$ 2,50 e R$ 2,80. Na segunda-feira, dia de fechamento desta edição, o dólar teve alta expressiva e fechou em R$ 2,28. “Os outros países cafeicultores, que não enfrentam problemas cambiais, estão rindo à toa”, diz Pereira.

O produtor conta que foi mecanizando a lavoura de cinco anos para cá, para reduzir custos com mão-de-obra. “Com a colheita mecanizada, o peso da mão-de-obra no custo total de produção é de 30%”, diz Pereira. “Sem mecanização, tínhamos 50% de custo com mão-de-obra e só não reduzimos mais estes custos por causa do preço alto do óleo diesel.” Pereira tem duas colhedoras, sendo uma automotriz e outra tracionada.

“Não há mais como trabalhar sem mecanizar a colheita”, concorda outro cafeicultor, José Lázaro Negrão, que planta 120 hectares de café em São Tomás de Aquino, região de Sebastião do Paraíso (MG), e deve colher nesta safra cerca de 4 mil sacas beneficiadas. “Tenho 35 anos no café”, diz Negrão, que também sondava na Agrishow a compra de uma colhedora. Em tempos de safra, ele tem alugado colhedoras por R$ 150 a hora, fora o preço do diesel. “Mas vale mais a pena comprar do que alugar”, diz.

Fonte: Estado de São Paulo

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