Com a perspectiva de uma safra recorde no Brasil, maior produtor e exportador global, os preços internos estão cerca de 15 por cento mais baixos na comparação com o mesmo período do ano passado, retraindo o interesse de venda pelos produtores, que estão c
27/02/2018
Por José Roberto Gomes | Thomson Reuters
Reuters – Preços considerados pouco atrativos estão travando a comercialização da safra de café deste ano no Brasil, com as vendas antecipadas da colheita que começa nos próximos meses praticamente no zero, de acordo com produtores ouvidos pela Reuters durante uma feira do setor em Minas Gerais nesta semana.
Com a perspectiva de uma safra recorde no Brasil, maior produtor e exportador global, os preços internos estão cerca de 15 por cento mais baixos na comparação com o mesmo período do ano passado, retraindo o interesse de venda pelos produtores, que estão capitalizados, segundo integrantes do mercado.
A comercialização da safra futura, que já poderia superar os 20 por cento, como em outros anos, ainda patina, disseram os produtores, que deverão continuar negociando nos picos de preço pelo menos até a entrada da colheita, na avaliação de especialistas.
“Tem de ser pelo menos 500 reais, porque a mão de obra encareceu. O adubo e a gasolina também subiram de preço”, disse José Antonio Vilela, que colhe cerca de 600 sacas de 60 kg por ciclo em Alpinópolis (MG), referindo-se ao valor que o levaria a fechar negócios.
Sob os estandes da Femagri, feira de máquinas, implementos e insumos promovida pela cooperativa Cooxupé em Guaxupé (MG), ele lembrou que o preço da saca está, atualmente, em torno de 420 a 430 reais, bem abaixo dos mais de 500 reais que recebia há um ano.
O monitoramento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, confirma um recuo de 15 por cento no valor da saca de arábica entre fevereiro de 2017 e de 2018, repercutindo o potencial para uma grande safra em 2018, dada a bienalidade positiva da variedade e condições climáticas mais favoráveis nos últimos meses.
O cafeicultor Abiandino de Souza, que produz 700 sacas em Botelhos (MG), também disse que ainda não travou nenhuma venda da safra que começa a ser colhida a partir de abril.
“Geralmente já tinha uns 20 por cento (de comercialização de safra nova), mas não tem preço”, afirmou, acrescentando que os negócios começam a ficar atrativos para ele a partir de 480 reais por saca.
Situação semelhante foi descrita por Osvaldo Bachião, que colhe em torno de 4 mil sacas por ano na região de Nova Rezende, também em Minas Gerais.
O produtor disse esperar que os preços reajam nos próximos meses, pois, em sua avaliação, a safra brasileira deste ano não será tão grande quanto se estima.
“Houve muita renovação de lavouras, e isso diminui o potencial produtivo… Teve também a seca no ano passado e as chuvas só foram se normalizar agora em fevereiro. Demorou a chover”, comentou, lembrando de uma forte estiagem entre setembro e outubro, durante a fase de florada dos cafezais.
Para Antônio Carlos Pitondo, que produz 200 sacas em Guaranésia (MG), essa seca tornou o grão “cascudo”, e a safra deste ano no país “certamente” será inferior às 60 milhões de sacas consideradas por algumas instituições.
Também presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Guaranésia, ele afirmou que, caso o preço da saca não reaja, será necessário mesmo “segurar” a produção.
“Daí é negociar metade e segurar a outra metade”, comentou.
As lentas vendas, que podem ser vistas como um sinal sobre o ritmo de exportações nos próximos meses, têm também impactado a indústria de equipamentos para cafeicultores.
Segundo a Pinhalense, líder no setor de máquinas para o segmento, há indicações de que os negócios podem não ser tão fortes em 2018 dada essa postura dos produtores. A empresa aposta inicialmente em uma estabilidade nos acordos fechados na Femagri.
Preços considerados pouco atrativos estão travando a comercialização da safra de café deste ano no Brasil, com as vendas antecipadas da colheita que começa nos próximos meses praticamente no zero, de acordo com produtores ouvidos pela Reuters durante uma
Por José Roberto Gomes
GUAXUPÉ, Minas Gerais (Reuters) – Com a perspectiva de uma safra recorde no Brasil, maior produtor e exportador global, os preços internos estão cerca de 15 por cento mais baixos na comparação com o mesmo período do ano passado, retraindo o interesse de venda pelos produtores, que estão capitalizados, segundo integrantes do mercado.
A comercialização da safra futura, que já poderia superar os 20 por cento, como em outros anos, ainda patina, disseram os produtores, que deverão continuar negociando nos picos de preço pelo menos até a entrada da colheita, na avaliação de especialistas.
“Tem de ser pelo menos 500 reais, porque a mão de obra encareceu. O adubo e a gasolina também subiram de preço”, disse José Antonio Vilela, que colhe cerca de 600 sacas de 60 kg por ciclo em Alpinópolis (MG), referindo-se ao valor que o levaria a fechar negócios.
Sob os estandes da Femagri, feira de máquinas, implementos e insumos promovida pela cooperativa Cooxupé em Guaxupé (MG), ele lembrou que o preço da saca está, atualmente, em torno de 420 a 430 reais, bem abaixo dos mais de 500 reais que recebia há um ano.
O monitoramento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, confirma um recuo de 15 por cento no valor da saca de arábica entre fevereiro de 2017 e de 2018, repercutindo o potencial para uma grande safra em 2018, dada a bienalidade positiva da variedade e condições climáticas mais favoráveis nos últimos meses.
O cafeicultor Abiandino de Souza, que produz 700 sacas em Botelhos (MG), também disse que ainda não travou nenhuma venda da safra que começa a ser colhida a partir de abril.
“Geralmente já tinha uns 20 por cento (de comercialização de safra nova), mas não tem preço”, afirmou, acrescentando que os negócios começam a ficar atrativos para ele a partir de 480 reais por saca.
Situação semelhante foi descrita por Osvaldo Bachião, que colhe em torno de 4 mil sacas por ano na região de Nova Rezende, também em Minas Gerais.
O produtor disse esperar que os preços reajam nos próximos meses, pois, em sua avaliação, a safra brasileira deste ano não será tão grande quanto se estima.
“Houve muita renovação de lavouras, e isso diminui o potencial produtivo… Teve também a seca no ano passado e as chuvas só foram se normalizar agora em fevereiro. Demorou a chover”, comentou, lembrando de uma forte estiagem entre setembro e outubro, durante a fase de florada dos cafezais.
Para Antônio Carlos Pitondo, que produz 200 sacas em Guaranésia (MG), essa seca tornou o grão “cascudo”, e a safra deste ano no país “certamente” será inferior às 60 milhões de sacas consideradas por algumas instituições.
Também presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Guaranésia, ele afirmou que, caso o preço da saca não reaja, será necessário mesmo “segurar” a produção.
“Daí é negociar metade e segurar a outra metade”, comentou.
As lentas vendas, que podem ser vistas como um sinal sobre o ritmo de exportações nos próximos meses, têm também impactado a indústria de equipamentos para cafeicultores.
Segundo a Pinhalense, líder no setor de máquinas para o segmento, há indicações de que os negócios podem não ser tão fortes em 2018 dada essa postura dos produtores. A empresa aposta inicialmente em uma estabilidade nos acordos fechados na Femagri.
ATÉ QUANDO?
O operador-chefe da exportadora Comexim, Mauricio Di Cunto, afirmou que o produtor de café está mais capitalizado após ganhos em safras recentes, o que permite essa postura retraída quanto à comercialização em meio a preços mais baixos.
“O produtor ainda tem café desta safra na mão. Além disso, ele vem capitalizado… Teve um retorno bom nos últimos anos com as safras de café. Nos últimos três a quatro anos, ele ganhou mais em reais por saca”, comentou em entrevista à Reuters.
“O produtor não está com muita pressa em vender”, disse, acrescentando que os cafeicultores tendem a aproveitar picos de alta nos preços pelos próximos 60 a 80 dias, antes do início da colheita, para vender.
O consultor Gil Barabach, da Safras & Mercado, também avalia que o produtor terá de analisar suas vendas até a colheita, ficando menos exigente até lá.
“Quando chega a safra, o produtor precisa de fluxo de caixa para os custos com a colheita… Se ele vendeu pouco café, terá pouco fluxo, e isso pode gerar uma situação ruim. Ele vai tentar equacionar nos próximos meses. A ideia é que ele fique menos exigente”, disse.
“O que está acontecendo é o produtor vender em picos, depois ele sai do mercado… Estamos na iminência de uma safra recorde, e temos um fluxo de vendas percentualmente menor”, afirmou Barabach, sem precisar um número.
A retração por parte dos produtores pode se refletir nas exportações brasileiras de café neste ano, mas isso ainda dependerá da evolução dos negócios justamente até o início da colheita.
Em janeiro, por exemplo, as vendas externas já caíram 5,1 por cento na comparação com igual mês de 2017, conforme os dados mais recentes do Cecafé.
Fonte: Reuters