Os baixos estoques, colheita atrasada e aumento da demanda normalmente contribuem para a valorização das commodities. Porém, isso não tem acontecido com o café em função da pressão da ponta compradora por preços mais baixos no mercado futuro.
Além disso, por conta de uma desconfiança em relação ao mercado e, principalmente, dos altos custos de produção, os cafeicultores estão vendendo antecipadamente parte da safra para liquidar compromissos de compra de insumos.
O valor negociado hoje, que varia de R$ 270 a R$ 350 fica próximo do custo de produção projetado para a próxima safra e abaixo do potencial que alguns analistas avaliam que o preço do café possa chegar nos próximos semestres. Alguns contratos de venda já assinados têm como prazo março de 2010, que é hoje o maior vencimento da Bolsa de Nova York.
De acordo com João Ferreira Júnior, gerente comercial da Expocaccer, empresa de exportação na região do cerrado, há produtores participando de todos os vencimentos. “Preocupados com o aumento dos custos de mão-de-obra e de insumos, os produtores pegam parte da produção e usam para liquidar compromissos que já estão assumindo”, explica.
Na área de abrangência da empresa, que deve colher cerca de 3 milhões de sacas na safra 2008/2009, mais de 10% da próxima safra foi comercializada no longo prazo, cerca de 350 mil sacas. O preço da saca com recebimento previsto para o segundo semestre de 2009 é de R$ 310, em média, para o mercado interno, e R$ 320 para exportação.
Para Sérgio Carvalhaes, sócio do Escritório Carvalhaes, consegue negociar nesse preço apenas uma pequena porcentagem de produtores que são altamente tecnificados. “A maioria dos produtores de Minas Gerais e da Mogiana – em São Paulo – está em regiões montanhosas onde o custo de produção é mais alto e não tem ganho de escala como tem o Cerrado”, avalia.
Para Carvalhaes, levando-se em conta os preços divulgados em outras praças, próximos ou abaixo do custo de produção, dependendo da região e do produtor, a venda antecipada nos patamares que estão sendo praticados só teria explicação em um ambiente de superprodução e consumo em queda. “Pela bianualidade de nossa produção, a próxima safra será menor do que nossas necessidades de exportação e consumo, e isso se tudo correr bem. Portanto parece mais uma tentativa de “ancoragem” dos preços, passando ao mercado uma imagem de produção farta e sem problemas”, afirma.
Na Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé) a venda antecipada também é uma prática adotada por muitos produtores. “O produtor já comercializou boa parte da sua colheita, em torno de 30% já foi vendido”, diz Mário Palhota, gerente de mercado da Cooxupé. Isso para os padrões da cooperativa que é a maior do mundo representa cerca de 1,5 milhão de sacas negociadas para o próximo ano.
Para Gil Barabach, analista da Safras & Mercado, o cenário para o mercado de café nos próximos meses é positivo. “Não é o melhor momento para o produtor negociar tão antecipadamente, o melhor é sair de pressão da chegada de safra”, avalia.
O analista destaca que o produtor que negocia agora está pensando só no ganho financeiro, não no econômico. “Ele está querendo cobrir o custo dele, mas pode perder o lucro econômico; ele troca o potencial para eliminar o risco”, diz Barabach.
Na última sexta-feira o contrato do arábica para setembro de 2008 na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) foi cotado a US$ 183,30, com queda de 0,38%
Os preços do café, mesmo com cenário favorável para alta com atraso na colheita e aumento na demanda, permanecem baixos em função da pressão da indústria por preços reduzidos no mercado futuro.
Priscila Machado