Cafeeiro responde às altas doses de fósforo com mais produtividade

Por: 22/07/2009 22:07:02 - Revista Cultivar

Dissertação de mestrado defendida na Universidade Federal de Lavras (Ufla)
contribui para abandonar a idéia de que o cafeeiro não responde à aplicação de
altas doses de fósforo (P) no solo em sua fase de produção, sobretudo, em solos
de baixa fertilidade.


As conclusões de Thiago Henrique Pereira Reis reafirmam a visão de uma nova
corrente que busca repensar o sistema produtivo do cafeeiro, visando torná-lo
mais eficiente, competitivo e sustentável. Neste estudo, que recebe o apoio
financeiro do Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do café
(CBP&D/café), cujo programa de pesquisa é coordenado pela Embrapa café,
observou-se que o cafeeiro irrigado respondeu à adubação fosfatada, obtendo uma
produtividade média de 70 sacas em seis anos avaliados com a maior dose de P2O5
(400 Kg/ha).


A pesquisa de Thiago Reis segue a linha adotada pelos pesquisadores da
Embrapa Cerrados, da equipe do pesquisador Antônio Fernando Guerra, aprofundando
os conhecimentos quanto ao comportamento e disponibilidade de fósforo no solo,
observados no âmbito do sistema solo-planta. O estudo questiona os atuais
critérios de recomendação de adubação fosfatada para o cafeeiro. Desta forma,
buscou caracterizar a disponibilidade de P quando da aplicação de maiores doses
do nutriente, por meio de seu fracionamento no solo. Constatou-se que a maior
parte dos compostos fosfatados está na fração biodisponível, ou seja, aquela
ainda disponível às plantas. Também se buscou caracterizar a variação das formas
inorgânicas de fósforo ligadas a Ferro (Fe), Alumínio (Al) e Cálcio (Ca), por
meio do fracionamento das mesmas, ao longo dos ciclos de cultivo.


Sob orientação do professor Antônio Eduardo Furtini Neto e coorientação do
pesquisador da Epamig, Paulo Tácito Gontijo Guimarães, o estudo quantificou as
frações do nutriente em função da produtividade do cafeeiro em dois experimentos
com solos distintos: em um Latossolo Vermelho distrófico, em área irrigada
localizada em Planaltina (DF), no Campo Experimental da Embrapa Cerrados, e em
um Argissolo Vermelho distrófico, em área de sequeiro, em Cabo Verde, Sul de
Minas Gerais.


Demonstrações e resultados


A conclusão do estudo de Thiago Reis revela que o fósforo aplicado ao solo
encontra-se na fração biodisponível, principalmente ligado ao Alumínio, sendo
esta a forma que predominantemente fornece o nutriente ao cafeeiro. Vale lembrar
que o fósforo total (PT) é composto de frações orgânicas e inorgânicas do
nutriente e apresentam diferentes graus de disponibilidade para as plantas.
Nesse sentido, analisando-se os resultados obtidos pelo fracionamento do P
inorgânico, onde não ocorreu a adição de P no solo (dose 0 kg ha de P2O5),
observou-se que a maior parte do nutriente esteve complexada com Fe,
prevalecendo a ordem P-Fe>P-Al>P-Ca, para todas as camadas avaliadas nos
dois anos (0 a 10, 10 a 20 e 20 a 40cm).


À medida que as doses de P no solo foram aumentadas, todas as frações
inorgânicas do nutriente aumentaram, de modo mais expressivo o P-Al, seguido do
P-Fe e, posteriormente, o P-Ca. Esse comportamento foi observado com maior
destaque na camada de 0 a 10 cm, uma vez que a adubação fosfatada na cultura do
cafeeiro ocorre em superfície, sem haver incorporação, sendo o nutriente de
baixa mobilidade no solo.


De maneira geral, os maiores ganhos de produtividade do cafeeiro foram
constatados a partir da dose anual de 200 kg/ha de P2O5. Esses resultados
mostram-se expressivos em relação a estudos anteriores, quando foram analisadas
doses de 0 a 180 kg de P2O5 e incrementos da ordem de 12 a 16% na produtividade.
Na área de sequeiro avaliada, a produtividade foi de 69,5 sacas beneficiadas/ha,
na safra 2008, para a área que recebeu 300 kg/ha de P2O5 e 38,8 sacas
beneficiadas/ha para a área adubada convencionalmente. Neste experimento,
localizado no Sul de Minas, além da maior produtividade, a aplicação de alta
dose de fósforo ainda resultou em um menor efeito da bienalidade, mantendo-se a
produtividade acima de 60 sacas/ha nos dois anos avaliados.


Contextualização da pesquisa


Por muitos anos, o cafeeiro foi considerado uma planta que não respondia à
aplicação de doses de fósforo no solo em sua fase de produção. Provavelmente,
chegou-se a esta conclusão devido ao fato do fósforo ser um dos nutrientes menos
exportados pelo cafeeiro, como descrito nos trabalhos do professor Eurípides
Malavolta, que também creditava ao nutriente o papel de armazenar e transferir
energia para a planta. Além disso, anteriormente, o cafeeiro era cultivado em
solos de média a alta fertilidade e a maioria das fazendas experimentais nas
diferentes regiões do mundo situava-se em localidades nessas condições.
Entretanto, alguns trabalhos têm mostrado que esta planta consegue responder a
incrementos de fósforo, principalmente nos solos de baixa fertilidade como os
originalmente sob cerrado.


As pesquisas acerca do comportamento do fósforo no solo foram intensificadas
a partir do desenvolvimento da tecnologia do estresse hídrico controlado pela
equipe da Embrapa Cerrados. Existia uma demanda crescente por informações sobre
a influência de adubações fosfatadas no desenvolvimento, vigor das plantas e
pegamento da florada. Existia a idéia de que o nível de fósforo observado nas
análises do solo de alguma forma estaria inadequado para as plantas. Neste
sentido, o estudo de Thiago Reis retoma os trabalhos que focalizam a importância
do fósforo na formação e manutenção dos cafeeiros.


Os resultados demonstram que o ajuste nutricional é necessário também nas
lavouras de sequeiro, visando garantir o desenvolvimento das plantas e o
pegamento da próxima safra, sobretudo, para lavouras de alta performance.
Contudo, ainda há necessidade de responder muitas indagações a respeito do
assunto.


Cibele Aguiar
Embrapa café
http://www.embrapa.br/cafe
 

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