Café uma riqueza vulnerável, por João Lopes Araújo

Por: Correio da Bahia‎

20/03/2014 – cce A cafeicultura, nos quase 300 anos de Brasil, gerou riquezas imensas nas regiões onde se concentrou ao longo da história, mantendo-se em constante migração. Esteve no Rio de Janeiro, concentrou-se em São Paulo, onde financiou grande parte do seu desenvolvimento, foi ao Paraná e, agora, fincou pé em Minas Gerais, maior produtor do país, com mais de 50% da produção nacional.


É uma cultura com futuro garantido pelo crescente consumo mundial e pelas descobertas de novos  mercados e novos  produtos oferecidos ao consumidor. O brasileiro lidera o crescimento do consumo com cerca de 5% ao ano.Temos espaço na mídia quase diariamente e damos a ideia de uma atividade muito rentável, mas a verdade é que esse rendimento cada dia se distancia mais do pé de café. O produtor, no momento atual, não consegue pagar suas contas, com os encargos crescentes do custo Brasil.


Somos uma riqueza vulnerável. Não aprendemos, ainda, produtores e governo, a administrar a crescente produção nacional resultante da demanda brasileira e mundial. A situação que enfrentamos nos últimos três anos é verdadeiramente ridícula.


Prova inconteste da incompetência. A safra grande, acima de 50 milhões de sacas  em 2012 e 2013, provocou a redução dos preços ao produtor quase aos níveis de 2002, os piores da história. O mais humilhante é que não havia fundamento para a queda. O mundo não tinha sobra; o que sobrava estava no Brasil, com cerca de sete milhões de sacas, em um consumo mundial de mais de 130 milhões de sacas. Como explicar?


Se agora, que apenas o Brasil precisava administrar sua produção, foi esse desastre, imagine se houvesse sobra de café no mundo, já que os quase 100 países produtores são mais pobres que nós. A única medida concreta que foi praticada, o leilão de opções, o foi para não ser concretizada. As opções foram em novembro de 2013, mas a entrega e o pagamento era para março de 2014. O produtor continuava sem dinheiro, derrubando os preços a cada dia.


Se tivéssemos retirado do mercado aqueles três milhões de sacas, ou um pouco mais, estancávamos  a sangria e não quebraríamos tantos produtores. Está provado que não havia fundamentos, pois, ao anúncio de quebra de produção por problemas climáticos, os preços reagiram imediatamente e os cafés das opções sumiram do mercado e não se entregou nada.


Chega a ser inacreditável que uma riqueza de bilhões de dólares anuais para economia – que gera tantos empregos – seja tão frágil na sua organização. E, isso, considerando-se que temos, coisa rara, um fundo próprio, o Funcafé, com mais de R$ 4 bilhões de patrimônio à disposição da cafeicultura.


Várias medidas têm que ser tomadas, mas entendo que os países produtores, por meio da OIC- Organização Internacional do Café, necessitam criar mecanismos que  norteiem a realidade do mercado, tirando os milhões de produtores de países pobres do mundo da desumana manipulação dos fundos nas bolsas de Londres e Nova York.


Como justificar que o produtor, no dia que precisa vender, perca R$ 20 ou R$ 30 por saca porque os fundos migraram de café para petróleo naquele dia?

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