14/10/2009 – O café enfrenta situação anunciada, com preços estáveis e baixos num mercado em que não se vislumbram mudanças. Os cafeicultores vivem mais uma das crises que ao longo da história afetam a cultura. Desta vez, como explicam os analistas, a crise é de renda: produtores recebem pouco pelo café e ainda arcam com um custo alto na lavoura. Medidas emergenciais, como contratos de opção e Aquisições do Governo Federal (AGFs), estão sendo adotadas, mas ainda não interferem na remuneração. Os ganhos dos produtores também sofrem os efeitos das negociações no mercado externo.
Segundo levantamento do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (Seab), no mês de setembro, a saca de 60 quilos foi comercializada a R$ 218. Este valor está abaixo do mínimo estabelecido (R$ 261) e, segundo os produtores, é insuficiente para cobrir os custos da produção. Nos últimos meses os preços não têm saído desse patamar. O Deral calcula que o produtor tenha um custo de R$ 260 por saca e uma média de produtividade de 40 sacas por hectare.
Junto com a crise, este ano a cafeicultura se ressente dos eventos climáticos. Estiagem prolongada na época da formação dos grãos e excesso de chuva no período da colheita provocaram perdas importantes na qualidade o que, fatalmente, irá também interferir nos ganhos. ”Os mais pessimistas estimam que apenas 10% da produção deste ano será de café bom; índice que não aumenta muito na visão dos otimistas, que calculam em 20% a produção de café bom”, afirma Paulo Franzini, secretário executivo da Câmara Setorial do Café e coordenador estadual do café do Deral.
De acordo com o Deral, metade das 2,6 milhões de sacas da safra passada alcançaram bom padrão de qualidade. A produção deste ano, de ciclo baixo, deve ficar entre 1,4 milhão e 1,5 milhão de sacas.
”O ânimo do produtor está muito baixo”, sintetiza Ricardo Strenguer, presidente da Associação dos Cafeicultores Paranaenses (Apac). Segundo ele, foram positivas as medidas adotadas pelo governo que vai retirar 3 milhões de sacas de café do mercado por meio leilões de opção e outras 7 milhões de sacas por meio de AGFs. Mas para ele são apenas paliativos. ”Na prática, nada aconteceu”, diz ao avaliar os efeitos das medidas nos preços. Strenguer diz que a situação é agravada pelo estoque de 30 milhões de sacas no mundo.
O produtor Ilton Essenfelder Hintz, de Santo Antônio da Platina, traduz a opinião do dirigente da Apac. ”Nesses 41 anos já enfrentei geada, ferrugem e outras situações, mas sempre conseguimos produzir bem. Afetar a produção é a primeira vez”, afirma. Com as chuvas abundantes que não dão trégua desde junho, o produtor calcula que irá colher produto aproveitável em apenas 30% dos 250 mil pés de café que tem na propriedade. Na região de Santo Antônio da Platina as perdas já superam 60% da produção esperada para este ano.
As informações partem da Folha de Londrina, noticiou o Agrolink / Café e Mercado.