Gerardo Queiroz Farias, 82 anos, só não é o produtor mais antigo de café sombreado do Maciço de Baturité por causa do irmão, de 99 anos. ´Em 1913 o papai comprou o Sítio São Roque, aqui em Mulungu, mas o vovô já plantava desde o Século XIX´, conta. Com seis filhas e um filho, seu Gerardo afirma que apenas um genro se interessa pela lida com a terra. Apesar da idade, ele e mais sete trabalhadores cultivam 31 hectares sob a floresta. Ano passado retirou cerca de 40 sacas, mas conta que, na última grande safra, de 1960, quando seu pai ainda era vivo, foram quase 600.
A produção de café sombreado na região tem pelo menos dois séculos. Segundo o diretor técnico da Cooperativa Mista de Produtores de Café do Maciço de Baturité (Comcafé) e agricultor familiar Francisco Auri Alves Júnior, 19 anos, até 30/40 anos atrás, era essa a atividade que mantinha as propriedades da região. Mas, nos anos 60/70, houve uma substituição pela banana e somente nos anos 80, o setor produtivo começou a se reorganizar.
´A cultura do ´Coffea arabica´ é a que melhor mantém a Mata Atlântica porque não precisa desmatar e o orgânico só agrega valor. A baixa no preço e a falta de incentivo governamental levaram à decaída. Hoje só vejo o governo investir no turismo com especulação imobiliária predatória´, afirma.
O café Pico Alto conquistou certificação há dois anos. Atualmente cinco municípios o cultivam: Aratuba, Baturité, Guaramiranga, Mulungu e Pacoti. A produção – de aproximadamente 150 agricultores, sendo 60 só em Mulungu -, de 10 a 12 mil sacas anuais, ainda é considerada pouca em relação ao potencial da região.