A crise financeira e o excesso de tributos no mercado europeu vai reduzir o volume de café solúvel exportado em até 50% neste ano. Ao contrário do café verde, o solúvel foi o que mais sentiu os efeitos da crise global até agora. O problema foi agravado pelo excesso de tributação que o produto enfrenta na União Européia (UE). Com a escassez de recursos, os compradores estão buscando produtos com custos inferiores. Conforme dados da Associação Brasileira da Indústria de cafés Solúveis (Abics), o bloco cobra 9% em tarifas para o produto brasileiro acessar os países. Os concorrentes, por sua vez, pagam no máximo 3%.
Em 2008, a queda nos embarques foram notadas com maior intensidade no último trimestre. Segundo dados do Conselho dos Exportadores de café (Cecafé), nos primeiros quatro meses de 2009, a queda no volume foi de 30%, para 212,1 mil sacas. O número é o menor já registrado nos últimos 5 anos. Conforme Roberto Paulo, diretor-executivo da Abics, a tributação ocorre desde 1991. “Mas os países filiados ao bloco europeu saltaram de 12 para 27, tornando a região na maior consumidora e distribuidora do mundo”. Conforme seus cálculos, se a situação permanecer a mesma, a perspectiva é que o volume total em 2009 fique entre 800 mil sacas e 1 milhão de sacas. No ano safra (jul-jun) passado, segundo dados do Cecafe, foram vendidas 1,53 milhão de sacas. O diretor da Abics conta que o bloco europeu reservou uma cota de 10 mil toneladas anuais para o País entre 2002 e 2005 com custos mais baixos. “Eles prometeram rediscutir as tarifas assim que o prazo terminasse, porém ficou apenas na promessa”, acrescentou. Conforme observou, países como o Vietnã, maior produtor do conillon, grão utilizado em grande escala na produção de solúvel, paga apenas 3% em impostos. “Eles usam aquela velha alegação de ajuda no combate ao tráfico nesses países. Mas na verdade não há relação nenhuma entre uma coisa e outra”. Para Roberto Paulo, o real objetivo é evitar que o Brasil tome conta do mercado. ” Qualidade e potencial para isso nós temos”, completou.
As exportações do conillon vietnamita, por sua vez, tomou o sentido contrário da brasileira nos quatro primeiros meses de 2009. O total embarcado no período somou 9 milhões de sacas, incremento de 19%. Destaque para abril, que registrou aumento de 41% com 1,83 milhões de sacas vendidas, segundo estudo realizado pelo Centro de Inteligência do café (CIC) baseado no Escritório de Estatísticas Gerais (GSO, sigla em inglês).
Paulo Henrique Leme, consultor do Centro de Inteligência do café (CIC), esclarece que os cafeicultores do Vietnã aproveitaram os bons preços negociados em Londres para realizar vendas. “É uma estratégia de mercado deles, que seguram a produção ao máximo e depois entram vendendo. Prova disso é a queda dos preços no período”. Segundo dados da Bolsa de Nova York, a tonelada do conillon recuou de um patamar de US$ 1,57 mil para US$ 1,47 mil entre abril e maio, queda de 6%.
Leme conta ainda que a expectativa é que a produção do conillon no Vietnã atinja 19 milhões de sacas neste ano. “A valorização do dólar foi positiva para o conillon brasileiro no mercado externo. Porém, com o movimento inverso agora, a tendência é que o espaço seja ocupado pelos concorrentes como o Vietnã, que possui mão-de-obra baixa, o que reduz o custo e o preço final”, analisou. No Brasil, a produção do tipo robusta (equivalente ao conillon) deve ficar em 10 milhões de sacas neste ano. Para Roberto Paulo, a queda no custo de produção da indústria brasileira só seria possível com a possibilidade de draw back, ou seja, importar de outras origens a um custo mais baixo para depois exportar. “Mas isso é muito polêmico e envolve um certo sentimento de paixão a ser superado”.
Ainda de acordo com estudo do CIC, a expectativa do governo vietnamita é que a produção no país atinja 20 milhões de sacas até 2020 com investimentos de R$ 2 bilhões em tecnologia para irrigação.