Prof. Dr. Darcy R. Lima PhD em medicina, Professor da UFRJ.
Em meados de maio o número de casos da nova gripe A (H1N1) pelo mundo passou de cinco mil, segundo balanço divulgado Organização Mundial da Saúde (OMS). O número de mortos chega a 61. O destaque e as mensagens, aparentemente misturadas, chegando de agências de saúde e organizações de notícias sobre a nova gripe deixa muita gente confusa.
O resfriado comum é a infecção humana mais comum, caracterizando-se por um processo benigno do trato respiratório superior causada pelo rinovírus (RNA) da família Picornaviridae, que se manifesta por coriza e irritação da garganta. Nunca causa morte, tosse e rouquidão são pouco comuns e quase sempre não ocorre febre, no quadro que dura em torno de 7 dias.
A gripe ou influenza é uma infecção viral aguda causada por um dos três tipos (A, B e C) do ortomixovírus de RNA, que se manifesta de forma súbita com comprometimento do sistema respiratório (coriza, espirros, tosse, dor de garganta) e alterações sistêmicas como prostração, anorexia, febre, cefaléia, mialgias e artralgias, com duração de 5 a 10 dias e evolução benigna na maioria dos pacientes.
No passado (1918) uma pandemia de gripe atingiu um terço da humanidade, cerca de 500 milhões de pessoas, e causou a morte de quase 50 milhões de pessoas (mortalidade de 10%). O vírus penetra pela nasofaringe e causa necrose e descamação do epitélio respiratório, e em 5 a 10% dos casos ocorrem áreas de consolidação pulmonar (pneumonia primária), com hemorragia e edema pulmonar, predispondo o organismo a infecções bacterianas secundárias por pneumococos, estafilococos e a bactéria gram-negativa Haemophilus influenzae.
Os vírus do tipo A são os mais importantes por causarem pandemias, sendo classificados em subtipos baseados nos dois antígenos glicoprotéicos existentes na superfície viral (hemaglutinina H e neuramidinase N), sendo que apresentam maior grau de mutações. Infecções associadas comumente são a sinusite aguda, otite média, bronquite purulenta e pneumonia por pneumococo ou estafilococo.
Tabela 1: Risco de pandemia de influenza
Os critérios para identificar um caso suspeito de gripe suína, estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde e pelo Ministério da Saúde são:
• Febre repentina acima de 38 graus e tosse, acompanhadas ou não de um ou mais dos seguintes sintomas: dificuldade respiratória, dor de cabeça, dores musculares e nas articulações; e ter como procedência as áreas afetadas, nos últimos 10 dias.
Cuidados e precauções dos profissionais de saúde que atendem casos suspeitos de influenza A (H1 N1):
• Isolamento respiratório. • Restrição do número de profissionais que atendem os pacientes. • Isolamento de contato (luvas não estéreis, avental de mangas longas). O CDC dos Estados Unidos recomenda até proteção ocular. • Máscara N95 para os profissionais de saúde (apesar da transmissão por gotícula, até melhor conhecimento do vírus, esta é a máscara recomendada). • Lavagem freqüente das mãos ou uso de soluções alcoólicas. • Restringir o número de visitas ao paciente.
Tratamento da gripe AH1N1
Existem dois medicamentos antivirais para o tratamento da gripe AH1N1, o oseltamivir (TAMIFLU da Roche) e o zanamivir ( RELENZA da GLAXO). O oseltamivir é a medicação mais disponível no nosso meio. Os estoques da medicação se esgotaram na maioria das farmácias, devido à preocupação da população, mas a automedicação deve ser evitada. Os estoques disponíveis estão sendo controlados pelo governo, que disponibilizará a medicação nas áreas afetadas. A ANVISA está realizando as medidas de controle sanitário cabíveis nos vôos vindos do exterior, para controlar a doença que já chegou ao país. Os casos suspeitos de gripe suína devem ser encaminhados para a rede de hospitais de referência conforme o link com a lista dos hospitais de referência para tratamento da gripe suína.
Café, ácidos clorogênicos e ácido quínico
A maioria das pessoas que toma café diariamente ignora quais são as substâncias que estão presentes no café e pensa que o café contém apenas ou principalmente cafeína. O café possui apenas 1 a 2,5 % de cafeína e diversas outras substâncias em maior quantidade. E estas outras substâncias podem até ser mais importantes do que a cafeína para o organismo humano.
Existe no café verde uma maior quantidade de ácidos clorogênicos, na proporção de 7 a 10%, isto é, até 5 vezes mais que a cafeína. Os ácidos clorogênicos são uma família de compostos oriunda da esterificação do ácido quínico com derivados do ácido cinâmico como os ácidos cafeico, ferúlico e cumárico, sendo os principais subgrupos de isômeros os ácidos cafeoilquínicos (ACQ), feruloilquínicos (AFQ) e dicafeoilquínicos (AdiCQ) e, em menor quantidade, os ácidos p-cumaroilquínicos (p-ACoQ).
O TAMIFLU, cuja sustância ativa é o Oseltamivir, é um medicamento antiviral de administração oral que age reduzindo a proliferação do vírus da gripe no sangue assim como também inibe a liberação, a partir das células já infectadas, de novos vírus no organismo com capacidade infecciosa. Este antiviral oseltamivir é sintetizado a partir de um composto químico , o ácido skimico que é extraído de uma planta chinesa, Illicium verum, usada como tempero na cozinha chinesa e na Indonésia, bem como de folhas de pinheiros, abetos e coníferas. Na atualidade já há formas de produção em larga escala nas indústrias farmacêuticas através de uma via biosintética usando bactérias (Escherichia coli).
Outra opção para obter o oseltamivir é a partir do ácido quínico. Esta é uma substância cristalina obtida dos grãos de café a partir da hidrólise dos ácidos clorogênicos, que são abundantes nos grãos verdes (10-12%). Este ácido quínico é uma substância química muito versátil e usada como um quiral para a síntese de novos medicamentos, como o oseltamivir. Fica o desafio para que no Brasil seja feita uma parceria entre pesquisadores, governo e indústrias, incluindo o agronegócio do café, para a obtenção do oseltamivir ou compostos similares a partir da planta mais popular e abundante no Brasil: o café. E assim como exportamos café, poderíamos exportar o antiviral para combater esta gripe que ameaça se tornar uma pandemia mundial.
7. Santos, R. & Lima, D.R.: COFFEE, The Revolutionary Drink for Pleasure and Health, XLibris, USA, 2007. (tudo que você precisa saber sobre café e saúde)
8. Lima, D. R. : 101 RAZÕES PARA TOMAR CAFÉ SEM CULPA, CAFÉ EDITORA,SP, 2009, No Prelo.