O mês de outubro apresentou uma reversão da tendência anterior de baixas nas cotações do café nos diferentes mercados, após os agentes de mercado constatarem sinais de que a demanda mundial é maior que a oferta no ano cafeeiro de 2005/06. Ademais, há uma
O mês de outubro apresentou uma reversão da tendência anterior de baixas nas cotações do café nos diferentes mercados, após os agentes de mercado constatarem sinais de que a demanda mundial é maior que a oferta no ano cafeeiro de 2005/06. Ademais, há uma demanda firme com a proximidade do inverno no Hemisfério Norte, além das perdas de safra dos países da América Central e do México com os consecutivos furacões que têm atingido as suas principais zonas cafeeiras.
Na Bolsa de Nova Iorque, as cotações do arábica subiram 8,40%, em relação à cotação média de setembro (Contrato C, segunda posição). Na Bolsa de Londres, o robusta registrou menor crescimento, de 3,64% para a segunda posição, o dobro da redução observada no mês anterior. No mercado de futuros da BM&F, os preços do arábica tiveram alta de 9,67% também para a segunda posição. O indicador OIC-Composto diário apresentou alta de 4,78% em relação à média do índice de setembro.
Em outubro, as cotações do café arábica nos diferentes mercados retornaram ao patamar praticado em janeiro de 2005, mas perderam parte dos ganhos acumulados até então. As expectativas atuais estão vinculadas às compras que as indústrias do Hemisfério Norte começam a fazer, visando ao abastecimento no inverno, época que mais se consome café, e eventualmente conferindo suporte aos preços (gráfico 1).
Gráfico 1 – Cotações médias mensais do café em diferentes mercados de futuros (segunda posição) e do OIC-Composto diário, 2003 a 2005
Fonte: Gazeta Mercantil
O diferencial entre as cotações observadas na BM&F e em Nova Iorque continua em queda, com redução para US$ 10,15 a saca, cerca de 5,23% inferior à média do mês anterior, mantendo tendência que se observa desde junho. Pode-se inferir também que tem havido progressivo reconhecimento da melhoria da qualidade do produto brasileiro, além de sua menor disponibilidade tendo em vista a redução das exportações ocorridas nos últimos dois meses. Este fato tem contribuído para o contínuo estreitamento do diferencial praticado.
As cotações do arábica, contrato C, segunda posição, na Bolsa de Nova Iorque, exibiram tendência de expressiva alta até o final dos primeiros vinte dias de outubro, quando gerou forte volatilidade com a venda de posições pelos investidores, derrubando as cotações, em função das especulações sobre uma grande safra brasileira para 2006 (gráfico 2).
Gráfico 2 – Cotações diárias em outubro de 2005 na Bolsa de Nova Iorque, para café arábica, Contrato C, segunda posição
Fonte: Gazeta Mercantil
O mercado de robusta na Bolsa de Londres apresentou menor alta em outubro, mas com grande instabilidade, tendo em vista a expectativa do início da entrada da safra vietnamita no mercado. O comportamento das cotações no mercado londrino em outubro, segunda posição, pode ser verificado no gráfico 3.
Gráfico 3 – Cotações diárias para o café robusta, segunda posição, na Bolsa de Londres, no mês de outubro de 2005
Fonte: Gazeta Mercantil
Na BM&F, a evolução dos preços do arábica, segunda posição, cotados em dólar por saca em outubro, indica variação de 39,40% nos últimos doze meses. Em 2005, alcançou variação positiva acumulada de 5,13%. Em Nova Iorque, os preços do arábica, contrato C, segunda posição, cresceram 30,30%, nos últimos doze meses, e apenas 1,46% em 2005.
Por fim, as cotações do robusta no mercado de Londres, segunda posição, tiveram variação acumulada de 54,98%, nos últimos doze meses, e de 23,64% em 2005. A estimativa do OIC-Composto apresentou crescimento acumulado de 35,13%, em doze meses, e de apenas 6,93% em 2005, fortemente influenciado pelos atuais preços praticados para o robusta.
Ao comparar os preços médios anuais dos diferentes mercados de café no período de 2000 a 2005, verifica-se que os preços médios do período de janeiro a outubro de 2005 estão acima dos níveis de 2000, último ano do último ciclo de alta do produto (gráfico 4).
Gráfico 4 – Cotações médias anuais do café em diferentes mercados de futuros (segunda posição) e do OIC-Composto diário, 2000 a 2005
Fonte: Elaborado pelo IEA
Na cafeicultura paulista, as cotações médias em outubro cresceram 4,05% em relação à média de setembro, em função da alta nas cotações internacionais. Mas a trajetória dos preços recebidos pelos produtores, em reais, nos últimos doze meses, aponta para alta acumulada de 13,21%. Em 2005, perdeu-se todo o ganho nos preços que já apresentam redução de 5,09%, fruto da valorização do real em 22% nos últimos doze meses (gráfico 5).
Gráfico 5 – Preços médios mensais recebidos pelos produtores de café arábica, Estado de São Paulo, 2002 a 2005
Fonte: Instituto de Economia Agrícola
O efeito da valorização do real nos preços recebidos pelos produtores pode ser observado na variação acumulada, nos últimos doze meses, das cotações da segunda posição do arábica na BM&F. Em outubro, a variação acumulada, em dólar cotado na BM&F, foi de 39,40%, mas quando se transformam as cotações em reais, diariamente, nos últimos doze meses, e se calcula a variação acumulada, a alta é de apenas 10,26%, diferença essa absorvida pela valorização cambial.
Ao analisar os preços médios anuais recebidos pelos cafeicultores paulistas nos últimos cinco anos (deflacionados pelo Índice de Preços ao Consumidor Ampliado – IPCA/IBGE), verifica-se que eles vêm apresentando recuperação contínua ao longo dos últimos três anos, após forte queda em 2001. Assim, o preço médio recebido em 2005, no período de janeiro a outubro, cresceu 14,50% em relação ao de 2000, em valores reais (gráfico 6).
Gráfico 6 – Preços médios anuais recebidos pelos produtores de café arábica, nominais e em valores de 2005, Estado de São Paulo, 2000 a 2005
Fonte: Instituto de Economia Agrícola
Queda nas exportações mundiais
Dados da Organização Internacional do Café (OIC)1, relativos a setembro de 2005, apontam queda nas exportações efetuadas pelo países-membros da organização, contabilizando embarques de 5,986 milhões de sacas em comparação com o mesmo mês do ano anterior (6,627 milhões de sacas), com redução de 9,68%. No acumulado de outubro de 2004 a setembro de 2005, as exportações totais dos países-membros atingiram 88,951 milhões de sacas, representando aumento de apenas 0,2% frente a igual período anterior.
A mesma organização estima forte incremento na receita cambial resultante das exportações do produto. O faturamento dos países exportadores cresceu de US$ 5,59 bilhões, em 2003, para US$ 6,88 bilhões em 2004. A estimativa para 2005 é de crescimento ainda maior nas receitas com exportações de café, em decorrência do aumento das cotações observadas ao longo do corrente ano.
Política cafeeira: aperto financeiro
Resolução do Banco Central do Brasil, autorizada na reunião do Conselho Monetário Nacional de 27/11/20052, estabeleceu mudanças na Resolução 3.315, que normatizava as condições para o financiamento da colheita e estocagem do café na safra 2004/05. Foram alterados os artigos que tratam do limite de montante de crédito destinado a cooperativas de produtores e agroindústrias de torrefação e moagem.
Na versão original da Resolução, a 3.270, indicava-se em até 100% da capacidade de processamento o montante a ser emprestado pelo agente financiador. A nova Resolução revogou ambos os artigos, restringindo-se o teto para apenas 50% da capacidade de processamento.
Brasil está importando café verde?
O sistema de registro de dados do comércio exterior COMTRADE, das Nações Unidas, aponta a importação por parte do Brasil de 104,11 mil quilos de café verde em 2004, provenientes de Indonésia, Itália e Tanzânia, com o desembolso de US$ 70.030 pelo produto. Há indicações de que tem sido utilizado o porto da cidade de Manaus para a internalização desse produto no país.
De qualquer modo, as importações de café verde constam das estatísticas desde 1997. Em 2001, numa única transação registrada, foram importados 180.000 quilos de café verde da Etiópia ao custo de US$ 219 mil. Essas informações causam relativo impacto sobre o agronegócio. É que há um contencioso importante sobre a oportunidade e racionalidade de se estabelecer o draw-back de café visando à composição de blends de produtos destinados à exportação ou ao preparo do solúvel com preços mais competitivos.
Como de praxe, na economia brasileira, quando a regulamentação governamental não acontece – vide o caso dos transgênicos -, o mercado cria o fato para em seguida as autoridades buscarem o equacionamento do problema gerado. A importação de café verde por parte de empresas brasileiras representa mais um ‘jeitinho’ para contornar a ineficiência oficial, ainda muito refém de lobbies cujos interesses, nesse caso particular, condenam o país a uma posição secundária no valor apropriado mundialmente por essa cadeia.
_____________________________
1 OIC: www.ico.org
2 Consultar: www.bcb.gov.br/?buscanorma
3 Artigo registrado na CCTC-IEA sob número HP-111/2005