Os mercados desmoronaram na última semana de fevereiro com perdas acumuladas entre 10.43% e 12.33% dos principais índices americanos, 12.25 do Stoxx600 (Europa), 5.34% na China, 8.86% no Japão e 8.37% no Brasil, este em dois dias e meio.
As confirmações de casos de contaminação pelo COVID-19 (coronavírus) na Itália, Coréia do Norte e em escalas menores em diversos países ao redor do mundo, foram acompanhadas por declarações oficiais dos governos Alemão, Americano e Brasileiro, entre outros, que a gripe continuará se espalhando apesar dos esforços que estão sendo feitos.
No Japão as aulas estão sendo suspensas por um mês e no resto do mundo as empresas multinacionais estão limitando viagens de seus funcionários, diminuindo o fluxo de passageiros nos aeroportos e causando o cancelamento de vôos em diversas rotas.
O impacto no crescimento mundial já é certo, o tamanho da perda do potencial, entretanto, vai depender da duração do surto e obviamente do controle à doença e assim do retorno das atividades econômicas à normalidade.
O pânico gerado nas pessoas tem levado à compra de alimentos e medicamentos que em alguns casos causam o esvaziamento, por ora temporário, de gondolas de supermercados e de disponibilidade de alguns produtos.
Na China trabalhadores estão regressando para seus postos e lojas têm sido reabertas, o problema é o quanto as pessoas estão dispostas a fazer algo fora do estritamente necessário como, por exemplo, sair às compras discricionárias.
O CRB devolveu não apenas os ganhos de janeiro como foi buscar o menor patamar desde junho de 2017, pressionado principalmente pelo derretimento dos preços do petróleo, da gasolina e do óleo de aquecimento – na semana apenas dois dos componentes da cesta não cederam, o “C” e suco de laranja.
O café em Nova Iorque conseguiu se isolar da liquidação de ativos de risco, se mantendo acima de US$ 110 centavos por libra peso, mesmo com o Real brasileiro fazendo novas mínimas históricas nominais, com o câmbio negociando a R$ 4.5136 na sexta-feira.
O descolamento da performance do arábica da moeda brasileira se deve, parcialmente, à disponibilidade limitada de café na mão dos produtores locais. A não aderência ao pânico global surpreende – jocosamente alguns dizem que as pessoas vão tomar mais café para brigarem contra o vírus, fora algumas divulgações em mídias sociais em prol da bebida.
Fato inegável é a firmeza dos diferenciais em todas as origens. Na Colômbia por falta de disponibilidade, já que a safra principal parece ter sido praticamente toda negociada, e em Honduras e nos demais países produtores em função de um grande volume também já ter sido vendido durante o rally no fim de 2019 – fora a necessidade dos vendidos em cobrir suas posições.
Quem tem estoque para vender tem sido disciplinado para não abrir mão de seu café sem uma remuneração compatível à reposição e os cafés sentados no destino não fogem à regra, mas, mesmo assim tem atraído compradores dado o encarecimento no FOB.
Difícil prever quanto o café vai ficar isolado do nervosismo mundial, ainda que esta commodity tenha demanda inelástica.
A favor da continuação do movimento de alta há, além dos diferenciais mencionados três parágrafos acima, a potencial diminuição de embarques, a maior utilização dos estoques nos países consumidores, e uma demanda forte no curto prazo ocasionada por compras aceleradas de consumidores que estão estocando alimentos para se proteger, ao menos psicologicamente, de um surto descontrolado do vírus COVID-19.
Uma utilização acentuada dos cafés certificados seria mais um argumento para os altistas, ainda mais estes cafés se tornando cada vez mais atrativos do ponto de vista comercial (os que já não estão comprometidos).
Negativamente há o cenário macroeconômico derretendo com o crescimento mundial sendo comprometido, a aversão ao risco, as chuvas no Brasil percebidas como favoráveis para a safra que será colhida em alguns meses, o Real desvalorizar muito mais e o robusta em Londres estar sem força.
Tecnicamente se o “C” romper 115.30 pode atrair uma nova onda de compra de fundos de sistema e com a venda escassa pode levar o contrato de maio acima de US$ 120 centavos sem tanto esforço.
Será que o café continuará imune ao pânico global?
Uma ótima semana e bons negócios a todos,
Rodrigo Costa*
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting